Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Descrição de chapéu F1

Documentário sobre Schumacher ignora ajuda de Barrichello

Não dá para dizer que alemão sem Rubinho é Buchecha sem Claudinho, mas filme erra

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Michael Schumacher foi um dos maiores pilotos de todos os tempos. Do ponto de vista de conquistas e estatísticas, ninguém rebate essa afirmação. Sempre terá o time que justifica Juan Manuel Fangio, Ayrton Senna, Jim Clark, Alain Prost ou Lewis Hamilton como o maior de todos. Mas o alemão estará na conversa, com justiça.

Porém, além de ótimo piloto, Schumacher também construiu uma certa fama de Dick Vigarista durante os anos em que conquistou sete títulos na F1, o que tornava muito cômodo torcer contra o piloto, se você não fosse alemão.

As “batidinhas” de Lewis Hamilton e Max Verstappen parecem animação do Pateta perto das fechadas que o alemão dava para conseguir seu objetivo.

Essas duas caras, a do supercampeão e a do quase trapaceiro, estão no documentário “Schumacher”, que estreou recentemente na Netflix –essas e outras, como um lado mais família, o Schumi divertidão do karaokê e o gosto pela aventura fora das pistas.

Não aguarde nenhuma grande revelação do atual status de Schumacher, em coma desde 2013 após um acidente de esqui nos alpes franceses. Mas fiquemos com o cara das pistas.

Schumacher mostrou que era um talento da categoria logo no seu primeiro ano completo, em 1992. E o documentário, de quase duas horas, mostra atritos entre ele e Senna nas pistas –o alemão chegou a tirar Senna de um GP na França, o que fez o brasileiro procurá-lo para um tête-à-tête após a corrida.

Depois do trágico acidente que tirou a vida de Senna, em 1994, Schumacher tinha como único desafiante Damon Hill, que assumiu o carro número 1 da Williams. Na última corrida, com Schumi liderando o campeonato, bastava chegar na frente de Hill. E ele estava na frente.

Mas um erro o fez tocar o muro. Quando voltou para a pista, viu Hill colocar o carro de lado para ultrapassá-lo. E o que ele fez? Jogou o carro para cima de Hill. Ambos saíram da prova, e o alemão conquistou seu primeiro título –no documentário, Hill “perdoa” a manobra do rival.

Anos depois e já bicampeão, Schumi tenta o primeiro título como piloto da Ferrari, contra Jacques Villeneuve, com a Williams. Basicamente o mesmo filme com outro ator. Última prova, o alemão na frente, Villeneuve coloca o carro por dentro na curva para ultrapassá-lo e, de novo, Schumacher joga sua Ferrari para cima do rival. Desta vez, o alemão sai da prova. Villeneuve fica com o título. Toda a imprensa chamou Schumi de vilão, incluindo a italiana/ferrarista. O caso foi tão grave que a F1 cassou o vice-campeonato de Schumacher.

O documentário usa boa parte para mostrar esses anos de frustração na Ferrari, primeiro contra as Williams e depois contra o finlandês Mika Hakkinen, da McLaren.

Então, já na parte final, o filme acelera para mostrar brevemente o período de ouro, com cinco títulos consecutivos na Ferrari, de 2000 a 2004. E o que houve de diferente nesse período? Bem, além de ter o melhor carro do grid, a Ferrari contratou Rubens Barrichello, que reconhecidamente tinha mais sensibilidade para o acerto ideal do carro antes da corrida, o que deve ter contribuído para algumas vitórias da escuderia.

E o que Barrichello disse sobre isso no filme? Nada, nadica, nem uma única frase. O brasileiro aparece numa ceninha de soslaio, e olhe lá. Schumacher sem Rubinho não dá para dizer que seria um Buchecha sem Claudinho, mas ignorar o brasileiro foi quase tão duro quanto as ordens do box da Ferrari pedindo para o brasileiro abrir para o alemão.

Schumacher venceria os cinco títulos sem Barrichello na equipe? Talvez - Toshiyuki Aizawa- 13.out.02/Reuters

Schumacher venceria os cinco títulos sem Barrichello na equipe? Talvez, sim; talvez, não. Talvez perdesse um ou dois. Difícil dizer. Mas, se tem alguém que não diz, é o filme dos alemães Hanns-Bruno Kammertöns, Vanessa Nöcker e Michael Wech.

Talvez um dia a Netflix faça um documentário com Barrichello, ótimo piloto que deu azar de ser visto/tratado por um país como sucessor de uma lenda. Afinal, nem só de campeões o esporte é feito –vejam “Untold”, na mesma Netflix; aliás, o famoso “hoje sim” daria um divertido “Untold” brasileiro.

Até lá, dá para dizer que, enquanto documentário, “Senna” é bem melhor que “Schumacher”.

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