Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Sandro Macedo
Descrição de chapéu Flamengo Copa do Brasil

Rodinei, o herói improvável, sem barrigada

Lateral converte pênalti e dá título da Copa do Brasil ao Flamengo

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"A história é escrita pelos vencedores." A frase é atribuída a George Orwell, mas não tenho certeza de que ele foi o primeiro a usá-la… ela tem cara de ser mais antiga. Mas o danado do Orwell, grande influencer, ficou com os louros.

Assim a história da Copa do Brasil vai contar que o Flamengo foi o grande campeão, tetracampeão. Não vai contar que o time fez uma partida bem meia-boca, ou que foi dominado pelo Corinthians por boa parte do jogo, incluindo praticamente todo o segundo tempo.

Também vai contar que Rodinei foi o grande herói do título. Herói improvável, que é o tipo mais legal de herói. Sim, todos curtem o Homem de Ferro, mas que tal ver o Homem-Formiga salvar o mundo para variar?

Rodinei comemora conquista da Copa do Brasil
Rodinei comemora conquista da Copa do Brasil - Carl de Souza - 20.out.22/AFP

Nesta quarta (19) foi Rodinei que marcou o gol decisivo que resultou em um excitante 6 a 5 nas cobranças de pênaltis —foi o sétimo flamenguista a cobrar entre 10 caras de linha, o que significa que ele não era exatamente o mais confiável para a missão. Já estava na famosa turma "seja o que Deus quiser".

Depois do jogo, coberto de glória e bom humor, ele disse o que pensou antes de bater o pênalti. "Entrar no vestiário e ir para o banheiro dar uma barrigada", brincou. Para quem não entendeu, se é que alguém não entendeu, barrigada é o termo popular para desarranjo intestinal.

O lateral Rodinei parece ser um sujeito gente boa, cara de grupo, aquele que dá a risada mais alta da piada sem graça do coleguinha no vestiário, que puxa o "parabéns" no dia do aniversário e que sempre responde com emoji "chorando de rir".

Rodinei também é o cara que o Flamengo emprestou para o Internacional porque não tinha espaço para ele no time em 2020 —e que, pelo Inter, foi expulso no jogo decisivo contra o Flamengo no Campeonato Brasileiro daquele ano; o time do Rio ficou com a vitória e, logo depois, com o título, um ponto na frente do Inter. Alguns maldosos dirão que aquele foi o primeiro título que Rodinei deu ao Flamengo.

O mesmo Rodinei já tinha sido a principal estrela de Corinthians 1 x 0 Flamengo, há poucos meses, pelo Brasileiro, quando fez o gol contra que deu a vitória aos paulistas. Se estivéssemos na Revolução Francesa, provavelmente o intrépido lateral teria perdido a cabeça naquele mesmo dia.

Rodinei não é mau jogador, mas as críticas que recebe se devem muito ao fato de o Flamengo ostentar jogadores de seleção em outras posições, e o lateral não estar no mesmo nível. Mas Rodinei tem fãs. Galvão Bueno, o de vida eterna, disse recentemente que o levaria para a Copa (calma lá, Tite).

No duelo desta quarta-feira, Rodinei chegou a flertar com o vilanismo. Roger Guedes perdeu um gol praticamente debaixo da trave, sozinho. E o cara que dava condição de jogo para o atacante corintiano era justamente nosso querido Rodinei. O moço estava em noite de sorte.

Antes da partida final, a lista de candidatos a heróis, do lado do Flamengo, deveria ter uma penca de nomes antes de Rodinei —talvez o lateral estivesse na lista de heróis de alguns torcedores corintianos, os dotados de mais sarcasmo. Mas a história estava do lado de Rodinei. "E o que é a história senão uma fábula com a qual todos concordam", como diria Napoleão… ou foi Galvão?

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