Dos 32 times que começaram a Champions League, dois já estão matematicamente eliminados após quatro dos seis jogos da primeira fase: o Rangers, da Escócia, e o Viktoria Plzen, da República Tcheca.
Por uma agradável coincidência, este humilde escriba passou os últimos dez dias na República Tcheca, de onde não viu nenhuma partida disputada em solo brasileiro, mas acompanhou dois jogos do intrépido Viktoria Plzen.
No sistema de disputa da Champions, as rodadas 3 e 4 têm o mesmo duelo, com o mando de campo invertido. Assim, vi duas vezes Viktoria Plzen x Bayern de Munique.
Fosse um duelo cervejeiro, seria dos mais eletrizantes da competição, digno de final. De um lado, Munique, em pleno mês de Oktoberfest; do outro, Plzen, onde nasceu o estilo pilsen, completando 180 anos neste outubro. Provavelmente Luiz Carlos Júnior diria "vai ter emoção até o fim".
Infelizmente —para os tchecos—, o duelo era de futebol, não de cerveja. Somados os dois jogos, o resultado agregado foi de 9 a 2. Chegou a ser 9 a 0, mas os alemães são generosos, você sabe, e tiraram o pé no segundo tempo do segundo jogo. Tiraram os dois pés.
Na primeira partida, estava em Praga, capital tcheca, e acompanhei o duelo em um pub na turística Cidade Velha, pertinho da famosa ponte Carlos.
Pensei que o bar estaria lotado de apaixonados torcedores tchecos, mas não. Em pouco tempo me dei conta de que Praga tem os seus próprios times e de que eles não têm nenhum motivo para admirar a equipe de Plzen. Lembrei-me de Galvão Bueno, que em outros tempos sentenciava que qualquer time nacional "é Brasil na Libertadores". Lá não deve ter nenhum Galvão. Portanto, Plzen não é a República Tcheca na Champions.
Ainda assim, deu para ouvir uns dois gritos empolgados no início da partida, exibida em dois televisores, sem som (o som ambiente era de uma playlist, que tocava de um tudo). Aparentemente, os torcedores queriam ver o time fazer apenas um bom papel, ninguém esperava uma vitória diante do poderoso Bayern.
Ainda no início da partida já tinha gente pedindo mais uma caneca de cerveja. Fiquei dividido entre ver o jogo e observar o que os tchecos diziam no momento do brinde ("na zdraví"). Nessa incerteza, perdi o primeiro gol, aos sete minutos, visto apenas no "replay".
Com 20 minutos já estava 3 a 0 e no intervalo quase ninguém mais olhava a TV. Até troquei a minha lager comum por uma dark lager, para ficar mais em sintonia com o humor dos torcedores do Plzen, se é que havia algum por lá —e a dark lager é ótima também.
Dois dias antes da segunda partida, estive em Plzen, e entendi melhor por que ninguém estava se importando muito com o resultado. O acanhado estádio tem capacidade para pouco mais de 11 mil pessoas, e de lá se observam a chaminé e a caixa d’água da Pilsner Urquell, a mais famosa pilsen do mundo e criadora do estilo.
Tem mais. Uma pequena ponte liga o estádio à fábrica original da cervejaria, que ocupa uma área aparentemente maior do que a da arena de futebol. Com uma cervejaria dessa bem ao lado, quem liga para a derrota em campo? Aliás, os torcedores comemoraram loucamente os dois gols feitos contra o Bayern –os únicos sofridos pelos germânicos durante a competição.
A preocupação manifestada pela turma da cervejaria não era com o duelo, mas apenas em atender aos sedentos torcedores que chegariam de Munique —a poucas horas dali, de carro ou de trem. No grupo que também tem Barcelona e Inter de Milão, os tchecos podem ter ficado fora antes do tempo, mas continuam os senhores da pilsen.
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