Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Sandro Macedo

Ei, Conmebol, volte para a final em dois jogos

Partida do São Paulo, com estádio vazio, é apenas a cereja do bolo do mico

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

É preciso começar esta coluna com uma constatação óbvia, mas esquecida de vez em quando (quase sempre) por quem comanda o futebol: a América do Sul não é a Europa.

Sim, todos queríamos uma Premier League para chamar de nossa; quem não gostaria de assistir a jogos com estádios lotados, em gramados perfeitos, e ter um calendário organizado? Sim, a Champions League é praticamente uma Copa do Mundo por ano, principalmente quando chega à fase decisiva. Para alguns é até melhor que a Copa. Afinal, no Mundial não tem Pep Guardiola ou Jürgen Klopp, não tem Haaland ou Salah. É o crème de la crème. As crianças de hoje pedem camisas dos clubes europeus mais do que da seleção nacional.

Dito isso, a Conmebol deveria copiar apenas a parte boa da Champions League, como ter um calendário organizado, cobrar bons gramados, repreender torcidas racistas e violentas etc.

Isso tudo para dizer que a final em jogo único para os sul-americanos não faz o menor sentido. A Conmebol precisa voltar ao formato da decisão em jogos de ida e volta, o gostoso mata-mata. Não dá para acreditar que as pobres torcidas sul-americanas vão se locomover facilmente e lotar estádios em qualquer lugar do continente.

Sem entrar no mérito esportivo da decisão da Copa Sul-Americana, foi vergonhoso ver o estádio Mario Kempes, em Córdoba (Argentina), com menos de um quarto de sua capacidade ocupada. E olha que a decisão tinha o São Paulo, equipe cuja torcida comprou a competição e encheu o Morumbi na fase mata-mata.

Faravelli comemora gol do Del Valle com ninguém - Juan Mabromata - 1º.out.22/AFP

Alguma ficha de jogo deu mais de 24 mil de público em uma arena com capacidade para 57 mil —é a informação que aparece no Wikipedia, por exemplo. Mas o número parece maquiado. Os são-paulinos fizeram sua parte, foram cerca de 10 mil. Já o Del Valle, que teria direito a 14 mil ingressos, falou algo como "não, não, precisamos apenas de 1.500". E o resto? Dificilmente o público total superou os 15 mil pagantes.

A Conmebol deveria ter feito sorteios durante a semana na cidade argentina, algo como: "Ei, você que está passando na rua, diga um número de 1 a 10… Ganhou o ingresso! Leva um par, logo".

E olha que Córdoba ama futebol. Dias depois da final da Sul-Americana, o mesmo estádio abrigou um jogo do Talleres, ameaçado de rebaixamento, e outra partida do intrépido Belgrano, campeão da divisão de acesso —ambos com estádio lotado.

O jogo do São Paulo é apenas a cereja do bolo do mico. Algo parecido já havia ocorrido na final do ano passado, em Montevidéu, entre Athletico-PR e Red Bull Bragantino.

Com a Libertadores a situação é melhor, mas longe da ideal. Flamengo e River Plate não conseguiram atingir a capacidade máxima de 80 mil pessoas do Estádio Monumental de Lima, em 2019 —depois tivemos uma final com público bem reduzido em razão da Covid.

E tem o jeitinho sul-americano, que anda de mãos dadas com o jeitinho brasileiro: os ingressos são caríssimos, os pacotes aéreos também ganham um novo valor no período da final, tudo para dificultar a vida de quem deseja ver a decisão.

No ano passado, quando o Palmeiras não lotou seu setor contra o Flamengo, reza a lenda que estava mais barato ir para a Europa do que para Montevidéu na semana da final da Libertadores.

Sem falar que o lugar da decisão nunca é garantido. A Sul-Americana deveria ter sido em Brasília, mas a CBF pediu para mudar o local devido à final Lula x Bolsonaro (jogo de ida, ainda falta o de volta). E a Libertadores? Até outro dia Guayaquil, no Equador, continuava ameaçada de perder a chance de abrigar o jogo. A Conmebol estaria preocupada com a segurança (hahahaha) e com a baixa procura de ingressos —que estão entre US$ 142 (R$ 738) e US$ 245 (cerca de R$ 1.274).

Precisamos voltar à final em dois jogos, como sempre foi no continente. É a nossa tradição. Aliás, se fosse uma decisão em ida e volta, talvez o São Paulo tivesse obtido melhor sorte, mesmo com a partida derradeira no Equador. No mínimo, seria garantia de um Morumbi lotado na ida e de 10 mil empolgados torcedores na volta.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.