Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Sandro Macedo
Descrição de chapéu Copa do Mundo 2022

Tite e a conquista do mundo

Ele não tinha um Messi no time, mas se tivesse um Danilo...

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Mês de dezembro. Competição no outro lado do globo. E Tite fez de sua equipe a melhor do mundo. Levantou a taça, agradeceu à família e à diretoria, que sempre acreditou no seu trabalho. Chegou a dizer depois da conquista, "me falaram, feito a abertura, você tira uma foto com a taça. Eu tirei, mas pensei que ia ser difícil chegar perto dela de novo".

Poderia ser o enredo de um metaverso boleiro ou produto de um surto alucinógeno, mas tudo isso de fato aconteceu. Foi há dez anos, no dia 16 de dezembro, que o simpático Tite surpreendeu o mundo da bola para levar o Corinthians ao título no Mundial de Clubes, em Yokohama (Japão), com uma vitória por 1 a 0 contra o favoritaço Chelsea.

A história do título está brilhantemente descrita no livro "Diário de uma Conquista", de Sandro Macedo —ouso dizer que é a melhor obra publicada pelo autor.

Tite erguendo faixa escrita "the favela is here"
Tite comemora título mundial com o Corinthians em 2012 - Ricardo Nogueira - 16.dez.2012/Folhapress

Ok, não era o melhor Chelsea de todos os tempos. Ok, o treinador Rafael Benítez deve odiar a competição e fez lambança na partida final (o mesmo Benítez que perdeu com o Liverpool contra o São Paulo). Não importa. Vencer o Chelsea naquele Mundial de 2012 era mais ou menos como esperar uma vitória de Marrocos diante de Portugal na Copa —difícil, mas pode acontecer.

A história da foto na taça não foi exatamente em 2012. Tite lembrou que foi convidado para fazer a imagem no Mundial de Clubes de 2010, quando treinava o Al Wahda, time dos Emirados Árabes Unidos, país-sede da competição naquele ano.

Provavelmente o professor, atualmente entre empregos, não sonhou nesta noite com a doce lembrança de 2012. Obsessivo no trabalho, deve ter sonhado com os MALDITOS quatro minutos finais da prorrogação, quando o seu esquema defensivo, uma de suas virtudes, permitiu um contra-ataque depois de um estourão para o alto com o time todo desarrumado. Algo que deve ter acontecido umas três vezes desde que Tite treinou o Caxias no início dos anos 1990.

Em 2012, quando o Chelsea perdia de 1 a 0 para o Corinthians (gol do peruano Guerrero), teve muita pressão. O rival era tecnicamente melhor. Mas o Corinthians, além da defesa sólida, tinha Cássio nos melhores dias. O goleiro fechou o gol e saiu de campo com o título de melhor jogador da competição —em segundo ficou David Luiz, do Chelsea, que disse depois do jogo, em tom de tristeza, que "trocaria tudo pelo título da competição. Infelizmente, não deu". O que nos leva a percepção de que o David Luiz de 2014 era tão 2012.

Mas voltando para aquela final, quando tinha uma bola estourada no ataque, precisava parar e pensar, cadenciar em vez de correr, o Corinthians tinha o experiente Danilo. Era impressionante ver o jogador em campo, parecia que corria menos do que todos, mas era ele que ditava o ritmo em vários momentos.

Danilo não era Messi, claro. Mas na Copa 2022, Messi é esse cara para a Argentina —como Modric foi para a Croácia, principalmente diante do Brasil. Acelera, dribla, chuta, mas, sobretudo, dita o ritmo o tempo todo.

O Brasil de 2022 tinha muitas qualidades, tinha um dos melhores grupos de atacantes à disposição e zagueiros de alto nível (a Copa de Marquinhos era brilhante). Mas também demonstrou fraquezas. Ao contrário de outras equipes, incluindo os vizinhos Equador e Argentina, o Brasil demorava mais para reagir taticamente aos obstáculos de uma partida, ou entre um jogo e outro.

Claro que esta é uma análise superficial em cima de um resultado, como fazem praticamente todos os analistas de futebol. Falamos do quão a Argentina está bem por que Lautaro Martinez acertou o último pênalti contra a Holanda. Caso contrário, a conversa seria a desatenção depois de abrir 2 a 0. A França é incrível e cantada em prosa e verso, mas só por que o inglês Harry Kane errou um pênalti (o que foi marcado, teve um outro bem suspeito). Se acertasse, os ingleses seriam os favoritos e revenderiam para os outros a fórmula de "como anular Mbappé".

Tite provavelmente vai sonhar e pensar muito tempo nesta dolorosa eliminação do Brasil. Paciência, ele não tinha um Messi no time, mas se tivesse um Danilo…

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