Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Descrição de chapéu skate surfe Judô

E então, eSport é esporte ou não?

Um jogador profissional de eSports pode faturar mais que um atleta olímpico

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Até bem recentemente, um dos canais que dedica 100% de sua programação a esportes fazia uma pergunta nos intervalos comerciais. "Mas eSport é esporte ou não é?", ou algo parecido com isso. A resposta, no fim do comercial, era afirmativa. Afinal, chamava para alguma programação do gênero que seria exibida.

Porém, mesmo que em tom de descontração, se o próprio canal que faria a transmissão promovia o tema em forma de pergunta, significa que a resposta talvez não seja tão óbvia. Mesmo para um público que acompanha o ecletismo de atrações esportivas.

Jogadores da equipe DRX festejam o título da Copa Summoner 2022, em San Francisco (EUA) - Kelley L. Cox - 6.nov.2022/USA Today

O eAssunto veio à tona com furor neste início de ano depois de declaração de Ana Moser, nova ministra do Esporte, ao UOL —em tempo, uma alegria ter de volta o ministério e tocado por uma ex-atleta (não um político) que sabe dos perrengues da classe.

Reloaded. Voltando ao assunto. A ministra classificou eSports como entretenimento e, provavelmente por não ser política, não foi muito sutil ao dar um exemplo. "O atleta de eSports treina, mas a Ivete Sangalo também treina para dar um show e ela não é uma atleta, ela é uma artista que trabalha com entretenimento."

A ex-jogadora de vôlei Ana Moser ao assumir o cargo de ministra do Esporte - Pedro Ladeira - 4.jan.2023/Folhapress

Comparar o jogo digital a um simples arerê foi como um tapa de Will Smith na cara da categoria. Não pegou bem para a turminha e choveram críticas —a maioria de praticantes, amadores e profissionais.

Este escriba entende o desgaste mental e o forte preparo psicológico necessários para as competições de eSports, que exige treinamento e disposição muito além daquele joguinho de videogame no sofá.

Mas concordo com Ana Moser, pelo menos por enquanto, sobre a exclusão dos praticantes dos jogos eletrônicos na hora do repasse de verbas para ajudar os atletas de alto rendimento dos esportes ditos olímpicos, cada vez mais numerosos —ainda estou em trabalho de autoaceitação para competições de breakdance e escalada, mas eu chego lá.

Muito da confusão em relação aos eSports vem justamente de eles sempre serem comparados a outras indústrias de entretenimento. Ninguém diz que os eSports movimentam mais ou menos dinheiro que a Premier League (a liga inglesa) ou La Liga (a espanhola).

Normalmente, as reportagens sobre o tema usam como paralelo a indústria do cinema ou a da música —e ambas perdem de lavada. Enquanto a indústria de games, na qual se inserem os eSports, movimenta quase US$ 200 bilhões, a de cinema e música não chegam juntas a US$ 100 bilhões.

A Fifa faturou US$ 40 bilhões com a Copa do Qatar, mas a próxima será só em quatro anos. Reza a lenda que, excetuando a Copa, uma das principais fontes de renda anual para a federação presidida por Gianni Infantino (que é ruivo) vem justamente da venda dos direitos autorais para a indústria de games.

É possível também que um jogador profissional de eSports em alto nível fature muito mais do que um judoca, ginasta ou nadador.

Os jogadores e a própria indústria do eSports precisam hoje mais do reconhecimento do que de dinheiro. Por outro lado, os olímpicos têm prestígio (só a cada quatro anos) e correm atrás de mais investimento.

Talvez Ana Moser possa no futuro fazer essa ponte. Prestígio em troca de patrocínio de alguma gigante dos eletrônicos, quem sabe? Mas a discussão é interessante e precisa de mais debate.

Ah, lembrei agora que o mesmo canal que exibia os eSports também transmitia competições de pôquer. E agora, pôquer é só um jogo de cartas ou é esporte?

O cineasta Zé do Caixão (1936-2020) e o músico Sebá, da banda Inimigos da HP, jogam pôquer na gravação do programa "Porker das Estrelas", da TV Bandeirantes - Leticia Moreira - 3.dez.2010/Folhapress

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