Imagine a saga "Star Wars" terminando apenas com dois filmes, com o final de "O Império Contra-Ataca", com Luke Skywalker perdendo a mão e Han Solo congelado. Fãs provavelmente pichariam o muro do estúdio com "queremos raça e jedis", "Vader é pai do Mickey" e outros impropérios.
Foi mais ou menos o que a HBO Max fez com a série "Lakers: Hora de Vencer", que dramatiza os eventos envolvendo a franquia nos dourados (para os Lakers) anos 1980. Tudo que você ler nesta coluna é spoiler, mas é como dar spoiler de "The Crown".
Pois bem, em 17 episódios (10 na primeira e 7 na segunda, todos já disponíveis), a série explora as dificuldades de Jerry Buss (ótima interpretação de John C. Reilly), que comprou o time em 1979, para transformar a franquia em vencedora.
Enquanto isso, o metido e adorável Magic Johnson, draftado por Buss naquele ano, luta para se impor em um time de cobras criadas, capitaneado pelo veterano Kareem Abdul-Jabbar. Entre um jogo e outro, o magnético Magic faz sexo com tudo que se move. O espírito da época é capturado com primor e a série não se limita às cestas e traquinagens da NBA.
Foram nos anos 1980 também que se estabeleceu a maior rivalidade da liga, entre Lakers e Celtics, centrada no antagonismo entre o negro Magic e o branco caipirão Larry Bird. Para muitos, a disputa foi fundamental para o crescimento da NBA até o grande produto que ela é hoje.
A primeira temporada termina com o primeiro título de Magic em Los Angeles, mas sem a esperada final contra os Celtics. No entanto, a produção deixou o terreno semeado, apresentou heróis, vilões, império e rebeldes.
Diz a história que Lakers x Celtics (Magic x Bird) protagonizaram três finais nos anos 80. Os Celtics venceram em 1984, com táticas de guerrilha (em um jogo das finais, em Boston, o ginásio foi transformado em uma sauna e deixaram apenas água quente ligada no vestiário do time visitante; Kareem quase teve um piripaque). Os Lakers deram o troco com títulos em 1985 e 1987.
Ao que parece, a ideia dos produtores era transformar a segunda temporada em seu "Império Contra-Ataca", com os "malvadões" de Boston conquistando o título em 1984. Então, na terceira temporada viria a redenção do jedi Johnson com dois títulos, até o seu diagnóstico de HIV, que o tirou das quadras (a série, aliás, começa justamente com a cena do jogador recebendo o diagnóstico, seguida por um grande flashback).
Mas, infelizmente, "Lakers: Hora de Vencer" teve uma primeira temporada com audiência apenas OK, nada que abalasse os alicerces do streaming; e, no segundo ano, os números caíram. Pior, a greve de roteiristas provocou um engarrafamento de projetos, e muitos foram parar na gaveta, no limbo ou tiveram um triste fim, como "Lakers". A série também não emplacou na temporada de prêmios, apesar de ter a favor o sarcasmo de Adam McKay ("Vice") na direção do piloto.
Assim, a genial ideia de acabar o segundo ano de "Hora de Vencer" com uma derrota para os Celtics foi um glorioso tiro no pé, um "air ball", como dizem quando o arremesso não bate nem no aro.
No lugar de uma terceira temporada, o último episódio termina com trivias do que os Lakers construíram nos anos seguintes. Claro, a série continua uma reconstituição deliciosa… também para os torcedores dos Celtics.
Em tempo, esta coluna também é informação: a nova temporada da NBA começa nesta terça (24), com os Lakers vendo os campeões Denver Nuggets receberem os anéis pela temporada passada.
Invictus 2
O melhor confronto em qualquer esporte na próxima semana será Nova Zelândia x África do Sul (dia 28), pela final da Copa do Mundo de rúgbi. Um dos dois será tetracampeão (como o Brasil x Itália da Copa de 1994). É também a reedição da final de 1995, retratada no filme "Invictus", de Clint Eastwood.
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