Discussões sobre quem são os melhores atletas de uma mesma modalidade são tão inevitáveis como deliciosas e tolas. Quando são de gerações diferentes, os debates ficam ainda mais tolos… e deliciosos e inevitáveis.
Muitas vezes um título pode fazer toda a diferença para encerrar a conversa. Messi abriu o mar em Barcelona e transformou água em sangria (eu vi, mais de uma vez), mas não adianta, como não tinha Copa, era menor que Maradona. Só agora, depois do Mundial do Qatar, os devotos da igreja maradoniana aceitam colocar Messi ao lado do controverso camisa 10 campeão em 1986; ao lado, não acima —aliás, Cris Ronaldo, que antes dividia debates com Messi, virou carta menor desse Super Trunfo.
Para muitos flamenguistas, Zico poderia ser tão grande quanto Maradona se tivesse vencido a Copa de 1982. E não só para os flamenguistas como para seus amigos, seus filhos, seus conhecidos e até suas sogras —em respeito à dor marroquina, esta será a única referência a Flamengo na coluna de hoje.
Mas o genial Galinho chegou machucado em 1986, enquanto Maradona, possuído, virou mito com a conquista no México.
Mas números e recordes não explicam tudo. Tem um monte de "se" que entram na conta para torturar a matemática a favor de quem você quiser.
Exemplo mais recente veio da NBA. LeBron James, o rei, bateu a marca de maior cestinha da história, que parecia imbatível, de Kareem Abdul-Jabbar, que somou 38.387. Faltando cerca de 10 segundos para o fim do terceiro quarto, James fez a cesta do recorde com seu famoso fadeaway —quando lança seu corpo para trás, escapando da marcação e lançando a bola. O fadeaway, aliás, foi aperfeiçoado por Kobe Bryant e antes era marca registrada de Michael Jordan.
Depois dessa cesta, o jogo parou, LeBron foi homenageado e se emocionou. Na volta para a partida, o astro dos Lakers fez apenas dois pontos no quarto período inteiro, seu time saiu de quadra derrotado pelo Oklahoma City Thunder e corre o risco de ficar fora dos playoffs. Tudo menor diante do recorde de LeBron, aparentemente.
LeBron vive ótima temporada individual e deve ainda ter uns dois anos de carreira. O que significa que deve ultrapassar os 40 mil pontos e que irá demorar algumas gerações para ser alcançado.
E com isso tudo LeBron se transforma no maior de todos? De jeito nenhum. Neste guichê ele ganha um número 2 com louvor, bem atrás de Michael Jordan, que é apenas o quinto na lista dos maiores pontuadores, com "apenas" 32.292.
LeBron tem quatro anéis de campeão, conquistados com três times diferentes. Jordan teve seis, todos na mesma década —e incluindo mais de um ano aposentado para jogar beisebol.
Defensores de LeBron dizem que ele ganharia mais se não tivesse pela frente supertimes, como os Spurs de Duncan e Ginobili ou os Warriors de Stephen Curry e Klay Thompson, que já teve também Kevin Durant.
Em sua segunda passagem pelos Cavaliers, LeBron conseguiu ganhar uma final, virando uma decisão melhor de 7 que perdia por 3 a 1, algo inédito.
Jordan nunca virou um 3 a 1 —por que não precisou. Seu Chicago Bulls resolvia os confrontos com menos jogos. Se Karl Malone (terceiro maior cestinha da história) não conseguiu ser campeão na carreira, foi por ter batido de frente com Jordan.
Até o "Space Jam" de Jordan é muito superior ao de LeBron. James pode ser rei, mas Jordan foi o deus da NBA. Mas, se LeBron conquistar outro título com esse Lakers, voltamos a conversar.
Justiça espanhola
Parabéns à Justiça espanhola, que aparentemente protege as vítimas e age rapidamente em casos de acusação de estupro. Porém é lamentável ver a mesma Justiça espanhola agindo com desdém nos incontáveis e absurdos casos de racismo no futebol; e agora também no basquete.
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