Sandro Macedo

Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte

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Sandro Macedo
Descrição de chapéu Olimpíadas 2024 Argentina

Argentina, a primeira vilã olímpica

Seleção masculina de rúgbi é recebida com vaias no Stade de France; culpa é do time de futebol

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Vai começar, mas já começou. A abertura é nesta sexta (26), mas as Olimpíadas de Paris já têm historinha para contar antes mesmo de o primeiro barquinho olímpico flutuar no rio Sena.

Este escriba, menos humilde do que de costume, foi ao Stade de France no primeiro dia de competições para acompanhar 12 excitantes partidas de rúgbi 7 —isso mesmo, 12, rúgbi 7 é dinâmico, e tão apaixonante quanto um macaron, mas não chega a ser um crème brûlée.

Foram só jogos da chave masculina, com as 12 equipes do torneio entrando em campo, cada uma duas vezes. Tinha França, a dona da casa, as finalistas de Tóquio (Fiji e Nova Zelândia), as tradicionais África do Sul e Irlanda (pelo menos, no rúgbi tradicional), os esforçados uruguaios e japoneses etc.

German Schulz, da seleção masculina de rúgbi da Argentina, em partida contra Samoa, nesta quarta (24), no Stade de France
German Schulz, da seleção masculina de rúgbi da Argentina, em partida contra Samoa, nesta quarta (24), no Stade de France - Carl de Souza/AFP

Mas também tinha a Argentina. E foi aí que aconteceu algo que este escriba, inocente, não previa no disciplinado rúgbi.

Tão logo a Argentina foi anunciada para sua primeira partida, ouviu-se uma vaia no estádio ---ninguém teve hino nessa fase. No segundo jogo, contra Samoa, mais vaias (menores, todo mundo meio cansado). Pelo menos no Stade de France, a Argentina foi escolhida como a primeira vilã olímpica, bem antes de conhecermos os heróis.

Em vários momentos do primeiro jogo, torcedores gritavam "Quênia, Quênia, Quênia", tentando dar uma força para os simpáticos rivais dos latinos —que tem uma equipe forte, bronze em Tóquio. Quando os sul-americanos faziam um try (o gol), mais apupos. Em um momento ou outro, uma bela jogada individual de algum hermano ganhava aplausos tímidos —a beleza precisa ser apreciada.

E a culpa é de quem? Da seleção de futebol, com Enzo Fernández e seus colegas de vestiário, que resolveram comemorar o título da Copa América com cânticos racistas, típicos de torcedores racistas, e com os franceses como alvo —a França foi a rival derrotada na final da Copa do Qatar.

"Jogam pela França, mas vêm de Angola; seu pai é cambojano, mas seu passaporte é francês", cantaram.

Este escriba achava que os argentinos teriam problemas ao voltarem para os seus clubes, todos torres de Babel, muitos com franceses no elenco, como o Chelsea, de Enzo —só Messi, em Miami, não teria problemas. Messi nunca fez nada de errado. E se Messi estiver espirrando neste momento, que la mano de Dios te crie.

Mas o que talvez poucos imaginavam é que o racismo de Enzo e seus colegas poderia respingar em outras modalidades olímpicas apenas alguns dias depois.

As diretrizes do espírito olímpico do barão de Coubertin (o que vale é competir, viva o fair play etc.) ficaram momentaneamente suspensas com os atletas argentinos em Paris —e só atletas, não vi torcedores sendo atacados.

Curiosamente, ver argentino perder nas Olimpíadas é natural. O país só entra no top 10 do quadro de medalhas na ordem alfabética. Em Tóquio, foram três pódios, nenhum ouro. Excetuando o futebol masculino e o hóquei na grama feminino, é mais fácil surgir tubarão no Sena do que levarem um ouro.

A mais de 500 km do Stade de France, o hino argentino também ganhou vaias no futebol (ali era mais provável). A ver como os franceses vão receber os queridos hermanos na cerimônia de abertura —que não tenham reservado uma barca furada para os coleguinhas.

Ulalá

O VAR do rúgbi 7 é uma maravilha. Checagem rápida e anúncio no microfone da decisão, que ninguém contesta. Parece que o checador na sala de vídeo entende do esporte.

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