É consultor de comunicação. Foi editor de "Dinheiro" e "Mundo".
O sonho acabou (de novo)
Os gregos voltaram a dar contribuição valiosa ao mundo ao desmascararem o populismo radical que vinha encantando multidões na Europa e além.
Muito se falou que a eleição do partido radical de esquerda Syriza, em janeiro, era o marco maior de uma transformação radical da política, com a derrocada do centrismo dominante pós-queda do Muro de Berlim e a emergência em vários países de partidos antiestablishment, antiausteridade, anticapitalistas.
O radicalismo é uma doença juvenil, romantismo que foge dos fatos. Seria de fato ótimo gastar dinheiro à vontade para corrigir injustiças e mitigar sofrimentos. O problema é que isso tudo funciona ao contrário. Causa muito mais sofrimento.
O governo populista grego, quebrado, quis ser mais esperto que seus credores. No meio de duras negociações, abandonou a mesa e suas responsabilidades e levou o acordo a referendo popular. Chamou os parceiros europeus de terroristas e recomendou o "não" ao pacote de ajuda que cobrava, em troca de bilhões de euros, austeridade e fim de privilégios incompatíveis com a realidade do país _um grego, por exemplo, se aposenta mais cedo que um alemão (e quer manter esse privilégio às custas do alemão).
Nesse clima, o "não" venceu com mais de 60% dos votos, resultado saudado novamente pelos radicais-românticos como sinal da nova era. Faltou combinar com alemães, holandeses, finlandeses, austríacos, belgas, eslovacos, lituanos ... Que se sentiram traídos e perderam a confiança nos gregos. Resultado: endureceram ainda mais as condições de ajuda.
Ontem, o centro de Atenas estava novamente em chamas, com manifestantes contrários ao acordo atacando a polícia diante do Parlamento, que acabou aprovando o pacote. Agora, finalmente, os bancos gregos poderão reabrir, para algum alívio da população.
Nesse doloroso caos, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, dificilmente terá condições de permanecer no cargo. Ele perdeu o apoio de boa parte de seu próprio partido e foi socorrido pela direita para aprovar o acordo. De novo, foi derrotado em sua vitória. E, junto com ele, a noção equivocada e custosa de que o populismo radical é o novo caminho.
Em visita ao Brasil, em 2012, Tsipras esteve com Lula e Dilma. Todos, na ocasião, saudaram nosso país como modelo de superação da crise com medidas de estímulo econômico, não de austeridade. Tsipras e seu partido sempre disseram que o bolivarianismo e o lulopetismo eram sua inspiração.
Três anos depois, a gastança populista-esquerdista de Dilma quase quebrou também o Brasil, forçando a presidente a adotar austeridade. O fracasso de Tsipras foi muito mais rápido e deve servir de lição contra as tentações populistas por lá e por aqui.
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