Solange Srour

Diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management.

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Descrição de chapéu PIB inflação juros

2024, um ano que começa com muito otimismo e muita incerteza

Próximo ano carrega incógnitas como guerras e eleições nos EUA e em Taiwan

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Neste fim de ano, os mercados tiveram uma performance extraordinária. Desde o início de novembro, o S&P subiu quase 14%, os juros dos títulos do Tesouro de dez anos dos EUA caíram de cerca de 5% para menos de 3,9%, a Bolsa brasileira subiu cerca de 17%, e o real valorizou-se cerca de 4% ante o dólar.

Dados mais baixos de inflação nos EUA, indicadores de atividade que corroboram a tese de pouso suave da economia e a sinalização pelo Fed de que poderemos ver até três cortes de juros em 2024 sustentam as apostas positivas. Mas qual será a realidade do ano que vem? Será que afastamos o risco de recessão por lá? Chegaremos ao nível de inflação e juros baixos que os mercados projetam?

Visitante observa painel eletrônico durante pregão da Bolsa
Visitante observa painel eletrônico durante pregão da Bolsa - Nelson Almeida - 27.nov.10/AFP

Não restam dúvidas de que os últimos dados estão sendo favoráveis, mas ainda estão longe de consolidar tanto otimismo. A pandemia e as respostas de política econômica tornaram muito difícil prever como os EUA e a economia global irão evoluir com base em modelos tradicionais. Empregos, salários e outras métricas importantes estão se recusando a seguir tendências históricas em muitos lugares.

A resiliência dos dados econômicos dos EUA à alta de cerca de cinco pontos percentuais na taxa de juros, iniciada em março de 2022, pode frustrar as projeções atuais do mercado referentes à magnitude e à velocidade dos cortes: cerca de 1,5 ponto percentual, começando em março do ano que vem. O índice Bloomberg das condições financeiras está no seu nível mais frouxo em quase dois anos —um impulso considerável para a economia muito antes de o Fed começar de fato a reduzir os juros.

O enorme gasto orçamentário que se iniciou em 2020 sustentou a demanda por muito tempo, mesmo quando os sinais de que a inflação não seria temporária eram evidentes e o Fed já subia os juros. Já a poupança acumulada pelas famílias –variável difícil de mensurar– teve um papel relevante em sustentar o consumo. Hoje, ela já recuou significativamente, e os impactos da política fiscal estão gradualmente cedendo. De outro lado, o mercado de trabalho, ainda que com sinais de desaquecimento, continua forte, suportando a renda e amortecendo o efeito da queda de estímulo fiscal.

Outra surpresa foi a resistência de um dos setores mais sensíveis às taxas de juros: o imobiliário. As taxas de juros agora estão muito mais altas do que há várias décadas, mas não presenciamos uma desaceleração expressiva nos preços dos imóveis que pudesse impactar a riqueza e o consumo.

O fato é que muitos mutuários travaram financiamentos com taxas baixas antes que a inflação e os juros subissem. Haverá refinanciamentos ao longo do tempo, o que significa que deveremos ver uma queda mais lenta nos preços para a frente, em vez de um único grande evento.

O mesmo valeu para as empresas. Vimos calotes corporativos massivos neste ano, mas não tivemos o "tsunami" que estava previsto. No entanto, mesmo sendo baixo em relação a outros ciclos de alta de juros, após uma década de declínio, o número de falências de empresas nos EUA aumentou 30% nos 12 meses até setembro em comparação com o mesmo período do ano anterior, de acordo com dados dos tribunais americanos. Se esse processo será gradual ou não dependerá da continuidade da taxa de juros longa nos níveis mais baixos de hoje.

Outra incerteza é resultante de um mundo cada vez mais polarizado. Além de estarmos vivenciando duas guerras, a possibilidade de mais tensões comerciais e tarifárias no próximo ano é altíssima.

Começaremos 2024 com eleições em Taiwan, que podem impactar ainda mais as relações entre os EUA e a China. As eleições para a Presidência nos EUA serão realizadas em novembro, e até lá é esperada muita volatilidade.

O que parece certo é que cada vez mais teremos maiores subsídios à tecnologia limpa, independência energética e busca por cadeias de suprimentos mais diversificadas. A fragmentação do mundo, além do contexto inflacionário a médio prazo, afetará a precificação de risco nos mercados e os fluxos financeiros.

E quais as consequências para o Brasil de tanta incerteza? O Banco Central, de maneira acertada, tem sido cauteloso, sinalizando a continuidade do processo de afrouxamento monetário ao ritmo de 0,50 ponto percentual por reunião de modo a manter a política monetária em território restritivo e assegurar a convergência da inflação.

No campo fiscal, a deterioração da credibilidade do arcabouço fiscal não tem afetado os preços de ativos, dado o cenário de euforia externo. Se ele se sustentará ou não dependerá dos dados americanos e da resposta do Fed. Como de costume, estamos pendurados nos rumos do cenário externo.

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