Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Tabata Amaral

Polícia em disputa

O aparelhamento de qualquer braço armado do Estado é uma ameaça à democracia

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Não demorou para que o surto psicótico do soldado Wesley Góes, alvejado por disparar contra outros policiais, fosse utilizado por deputados bolsonaristas, como a presidente da CCJ, para incentivar um motim das polícias contra os governadores.

Essa tentativa de instrumentalização, infelizmente, não vem de hoje. Ela catapultou a carreira de Bolsonaro e pode agora representar um alicerce importante da sua estratégia autoritária. Junte-se a esse aparelhamento as 31 alterações feitas na política de armas do país e os constantes ataques ao nosso sistema eleitoral e têm-se a receita do presidente para 2022.

Tudo indica que, se perder as eleições, Bolsonaro tentará replicar a manobra utilizada por Trump. Com a diferença de que, aqui, o elo do presidente com braços armados do Estado é mais forte. Mesmo rompido com parte da cúpula do Exército, Bolsonaro vem se alavancando, cada vez mais, sobre as insatisfações, muitas vezes legítimas, dos praças.

Temos uma polícia que está entre as que mais mata e morre no mundo, para a qual o número de suicídios supera inclusive o de mortes em serviço. Trata-se de profissionais que colocam sua vida em risco, são mal remunerados e sentem que parte da sociedade os rejeita. Esse é um terreno fértil para um presidente populista que os chama de herói, frequenta as suas formaturas e promete atuar por eles.

Essas promessas, no entanto, não passam de palavras vazias. O projeto de Lei Orgânica das Polícias apoiado por Bolsonaro despreza ações que, de fato, poderiam profissionalizar e valorizar a carreira policial. Tampouco estão entre as prioridades do presidente a implementação do Sistema Único de Segurança Pública e a oferta de uma estrutura de apoio psicológico e social às polícias.

A única coisa que Bolsonaro parece estar realmente disposto a fazer pela corporação é se aproveitar das suas insatisfações para obter o apoio armado de que precisa, e isso é, sim, muito perigoso. É um risco enorme a qualquer democracia que uma instituição com o monopólio da força seja utilizada como base de um projeto de poder. É por isso que é tão importante que todo o espectro político, incluindo o campo progressista, crie pontes com os policiais, dialogando com suas dores e anseios.

A escalada autoritária liderada pelo presidente segue em curso. Para além de barrar as constantes investidas do Executivo —como fizemos nesta semana ao impedir que fosse pautado o projeto do líder do governo que permitiria a convocação das polícias pelo presidente—, é preciso também tirar da extrema direita o monopólio do diálogo com as polícias. Antes que seja tarde demais.

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