Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Tabata Amaral

Futuros descartáveis

Até quando nossas elites continuarão permitindo a destruição do futuro de nossas juventudes?

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O governo coloca em xeque até mesmo nossos maiores consensos, a ponto de nos perguntarmos se frases como “os jovens são o futuro” ainda traduzem as aspirações do nosso país. No lugar de oportunidades para quem vai construir o Brasil do amanhã, há hoje um completo descaso para com as juventudes, que vêm sendo tratadas apenas como uma mão de obra barata a ser explorada.

A Lei de Aprendizagem, em vez de ser aprimorada, corre risco de ser enterrada com a MP 1045/21, que cria o Requip, uma modalidade de contratação que deixa os jovens sem carteira assinada ou formação. O ensino técnico-profissional vem sofrendo cortes sucessivos no Orçamento. As redes de ensino foram deixadas à própria sorte pelo MEC, seja na implantação do novo ensino médio, no combate à evasão escolar ou na oferta de conectividade.

O Ministério da Economia se gaba de ter nos seus quadros pessoas formadas nas melhores universidades do mundo, então custo a acreditar que o desmonte das políticas de juventude resulte só de uma incompreensão da importância do capital humano para o desenvolvimento econômico.

O que vemos no governo é retrato de um mal maior —e mais estrutural— do nosso país: uma elite que não se reconhece nos mais pobres, a quem enxerga como merecedores de sua própria sorte. É esse preconceito que volta e meia transparece nas falas de um ministro que acha um absurdoa empregada doméstica ir à Disney e diz que o Fies beneficia o filho do porteiro que “tirou zero na prova”.

Em um país tão desigual como o nosso, em que a escravidão nunca foi realmente superada e os ricos só têm contato com os pobres no momento que estes os estão servindo, banalizam-se as inúmeras formas de violência contra os jovens negros e periféricos, como o descaso do governo para com as nossas juventudes.

Mortes nas periferias são apenas notas no jornal lido durante a manhã. Crianças nos faróis, um incômodo no caminho ao trabalho. Políticas para garantir acesso à educação, cultura e esporte, luxos que nosso orçamento não comporta.

Se crianças dos Jardins ou Leblon fossem assassinadas a caminho da escola, será que o país continuaria seguindo normalmente? Se os filhos da elite estudassem em escolas públicas, será que o desprezo do governo pela educação passaria tão despercebido? Será que permitiriam que a Lei da Aprendizagem fosse destruída?

Não é de hoje que parte das nossas elites vive como se a vida de todos os jovens não valesse o mesmo que a de seus filhos, mas cabe a nós, que acreditamos que o nosso Brasil pode ser muito melhor do que isso, seguir lutando para que o futuro de ninguém seja tratado como se fosse descartável.

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