Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Tabata Amaral

O tamanho da minha utopia

A verdadeira jabuticaba brasileira: no mesmo país, temos a convivência de um Estado mínimo e de um Estado inchado

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Na última semana, após votar pela privatização dos Correios, em meio aos elogios e críticas que recebi, havia também muitos xingamentos e ameaças, nos quais, volta e meia, a palavra "neoliberal" aparecia. Em tempos em que o óbvio precisa ser reiterado: não, eu não sou neoliberal. Venho da periferia e vivi na pele as consequências de um Estado ausente, em que faltavam os serviços públicos mais essenciais, como educação, saúde e saneamento. Para os mais pobres, o Estado já é mínimo, e não é isso o que eu defendo.

O que eu defendo é um investimento maciço na educação acompanhado de boas práticas de gestão. Sou favorável ainda a ações afirmativas, como cotas, para acelerarmos a transformação dos espaços de poder. Defendo também que nossas políticas públicas sejam financiadas por um sistema tributário progressivo e justo —o oposto do que temos hoje. Mais do que isso, entendo que a proteção do meio ambiente e o combate à pobreza e à desigualdade não podem ser só um apêndice do desenvolvimento econômico, mas sim a própria matriz do nosso crescimento.

No entanto, em um país pobre como o Brasil, o cobertor é curto e não podemos nos dar ao luxo de sermos fiscalmente irresponsáveis ou ignorarmos as evidências. A construção de um país que dê oportunidades reais e dignidade a todos depende da nossa capacidade de estabelecermos prioridades.

Isso explica parte do meu voto pela privatização dos Correios. Os serviços postais são importantes e, por isso, defendi a necessidade de garantirmos a universalidade do serviço nas regiões mais remotas. Mas, em um país em que 19 milhões de brasileiros passam fome, não me parece acertado que R$ 2 bilhões tenham que sair anualmente dos cofres públicos para que os Correios sejam competitivos.

Infelizmente, no Brasil, as pautas que dizem respeito às necessidades dos mais vulneráveis não recebem a mesma atenção que as defendidas pelas corporações, sejam elas de empregados ou empregadores, válidas ou não. O interesse organizado, na maioria das vezes, vem à frente do interesse difuso. Essa é a verdadeira jabuticaba brasileira: no nosso país, temos a convivência de um Estado inchado e um Estado mínimo —presente demais para as elites econômicas e políticas, mas extremamente ausente para os mais pobres.

Por mais utópica que possa parecer a minha defesa de um Estado eficiente, que realmente promova justiça e desenvolvimento, é essa a visão que me fez entrar na política e que, todos os dias, continua a me motivar. Parafraseando o escritor Eduardo Galeano: "Para que serve a utopia? Serve para isto: para que eu não deixe de caminhar".

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