Terra Vegana

Luisa Mafei é culinarista e professora de cozinha a base de vegetais

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Descrição de chapéu alimentação

Ser vegano é pelos animais - mas não só

Motivos também passam pela saúde, a nossa e a do planeta

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Não foi pelos animais. Embora hoje seja também —e muito— por eles, no começo não foi. Quando alguém me perguntava por que eu estava tão interessada pelo veganismo "de uma hora para outra", eu cerrava os dentes e dizia timidamente: "Estou interessada em melhorar minha própria saúde".

Aquilo me soava um desejo egoísta, ofuscado por uma causa muito mais nobre do veganismo, que é a defesa da vida e da liberdade dos animais. Eu estava motivada por salvar a minha própria vida, em estabelecer uma relação minimamente equilibrada com o meu corpo e minha alimentação, em me curar de transtornos alimentares que me acompanhavam desde a adolescência.

Criação de gado na China, em foto de maio de 2021 - Xinhua/Ding Lei

Ninguém tem dúvidas de que legumes, verduras, frutas, grãos e sementes constituem a base de uma alimentação saudável (quem ainda tem, pode consultar o Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde).

As pessoas que praticam dietas com um alto teor de proteína animal têm quatro vezes mais chances de morrer de câncer do que aquelas que têm dietas pobres em proteína animal. Uma alimentação baseada no consumo dos produtos de origem animal e rica em gorduras saturadas é a principal causa de morte por doenças cardíacas.

A obesidade, o diabetes e tantas outras doenças podem ser evitadas com uma alimentação vegetal de base integral e com o mínimo de ultraprocessados, a chamada whole plant-based diet.

Não é à toa que a busca por dietas plant-based no YouTube cresceu três vezes nos últimos sete anos, e chegou a um milhão de visualizações em 2020. Buscas pelo termo "veganismo" no Google aumentaram 941% nos últimos oito anos. A população vegana e vegetariana no Brasil já está na casa dos 30 milhões, segundo pesquisa realizada pelo Ibope em 2020.

Essa escalada do veganismo no Brasil e no mundo é instigante. Estamos adentrando mentes, casas, prateleiras e empresas que historicamente foram preenchidas por um modo de comer e de se vestir centrados em bichos. De uma hora para outra, ser vegano virou pop, e a compreensão desse fenômeno só se dá quando alargamos o cerne do veganismo para além da causa animal.

Se é verdade que o termo "vegan" foi cunhado em 1944 por Donald Watson no âmbito da criação da Vegan Society (Londres) para designar um modo de vida que busca excluir, na medida do possível, todas as formas de exploração e de crueldade contra os animais, é verdade também que os motivos pelos quais as pessoas têm se aproximado do veganismo já não passam "apenas" pela questão animal.

Não é só pelos animais, mas também não é só pela saúde.

A crise climática é hoje um chamariz, sobretudo para as gerações mais jovens. Segundo dados da OMS, 13 milhões de pessoas morrem anualmente por fatores ambientais, tais como a contaminação da água e do ar.

Sozinha, a pecuária é responsável por 25% das emissões nacionais de gases de efeito estufa -isso sem levar em conta toda a reserva de carbono devolvida à atmosfera com o avanço do desmatamento da Amazônia e do Cerrado.

A atividade pecuária anda de mãos dadas com as monoculturas de grãos como a soja e o milho, que, por sua vez, despejam no solo fertilizantes e pesticidas que alteram os ciclos naturais da terra, aumentam a emissão de gases de efeito estufa e contaminam as águas.

Se fôssemos dar um nome ao principal agente da crise climática, seria "gado". Se quisermos dar nome completo e sobrenome: gases, urinas e fezes de bois e de vacas, e toda a deflorestação promovida pela criação e o cultivo de grãos para esses animais e seus comparsas frangos, galinhas e porcos.

Dia 31 de outubro, domingo, começa a COP26, com a preocupação central de reduzir a emissão de gás carbônico para controlar o aumento da temperatura global. Um dia depois, em 1º de novembro, celebra-se o Dia Mundial do Veganismo. Essas duas datas têm mais pontos em comum do que pode parecer.

Quando confessei tempos atrás a uma amiga vegana e ativista dos direitos dos animais que foi a preocupação com minha própria saúde que me levou a me aproximar do veganismo, ela sorriu e me disse: "Está tudo bem, na prática o resultado é o mesmo, menos animais estão sendo mortos".

Menos recursos naturais estão sendo consumidos, menos gases de efeito estufa estão sendo emitidos. Menos gordura sendo acumulada em minhas artérias. Por que ser vegana por apenas um motivo, quando se pode ser pelo meio ambiente, pela saúde e pelos animais?

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