Thomas L. Friedman

Editorialista de política internacional do New York Times desde 1995, foi ganhador do prêmio Pulitzer em três oportunidades

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Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Hamas força Israel à loucura para incendiar aproximação árabe-israelense

Grupo que controla Gaza, Hizbullah e Irã viram fraturas na sociedade em Tel Aviv causadas por ataques internos à democracia

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Com o Oriente Médio à beira de um grande conflito terrestre, eu estava pensando na manhã de sexta-feira sobre como as duas últimas guerras importantes de Israel têm duas coisas muito importantes em comum: ambas foram iniciadas por atores não estatais apoiados pelo Irã —o Hizbullah, do Líbano, em 2006 e o Hamas, da Faixa de Gaza, agora— depois que Israel havia se retirado de seus territórios.

E ambas começaram com audaciosos ataques transfronteiriços —o Hizbullah matando três e sequestrando dois soldados israelenses em 2006. Essa semelhança não é uma coincidência. Os dois ataques foram projetados para desafiar as tendências emergentes no mundo árabe de aceitar a existência de Israel na região.

E, mais criticamente, o resultado desses ataques surpresa e mortais através de fronteiras relativamente estáveis foi que eles enlouqueceram Israel.

Saxofone entre os escombros dentro de uma casa, uma semana após o ataque de 7 de outubro por militantes palestinos do Hamas ao kibutz Beeri, perto da fronteira com Gaza - Thomas Coex/AFP

Em 2006, Israel basicamente respondeu ao Hizbullah: "Você acha que pode fazer coisas loucas como sequestrar nossas pessoas e trataremos isso como uma pequena disputa de fronteira. Podemos parecer ocidentais, mas o Estado judeu moderno sobreviveu como 'uma vila na selva' —como o ex-primeiro-ministro israelense Ehud Barak descreveu— porque, se a situação apertar, estamos dispostos a jogar pelas regras locais. Não tenha ilusões sobre isso. Você não vai nos enlouquecer para fora deste bairro."

Portanto, a força aérea israelense bombardeou implacavelmente as casas e escritórios da liderança do Hizbullah nos subúrbios do sul de Beirute ao longo dos 34 dias de guerra, bem como pontes-chave dentro e fora da cidade e o Aeroporto Internacional de Beirute. Os líderes do Hizbullah, suas famílias e vizinhos pagaram um preço muito pessoal.

A resposta israelense foi tão feroz, algo que o líder do Hizbullah, Hassan Nasrallah, admitiu em entrevista em agosto de 2006. De fato, desde então, a fronteira entre Israel e o Líbano tem sido relativamente estável e tranquila, com poucas baixas em ambos os lados, e a retaliação não manchou a imagem global de Tel Aviv como esperava o Hizbullah.

O Hamas deve ter perdido essa lição quando decidiu perturbar o status quo em Gaza com um ataque total contra Israel no último fim de semana —status quo permissor de uma coexistência que liberava palestinos de Gaza para trabalhar e fazer negócios com Israel, enquanto o Hamas enchia os cofres com ajuda financeira do Qatar.

As razões declaradas do Hamas para essa guerra são que o governo de Binyamin Netanyahu tem provocado os palestinos com os passeios matinais que o ministro da Segurança Pública de Israel, o ultradireitista Itamar Ben Gvir, fazia ao redor da mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém, e pelas medidas que ele estava tomando para tornar o aprisionamento de palestinos mais severo. As ações, porém, estão longe de justificar que o Hamas tenha colocado todas as fichas na mesa como fez no último sábado.

A razão maior, que o Hamas não admitirá, é que viu como Israel estava sendo mais aceito pelo mundo árabe e em breve possivelmente pelo berço do islã, a Arábia Saudita. O Irã estava sendo encurralado pela diplomacia do presidente Joe Biden no Oriente Médio, e os palestinos temiam ficar para trás.

Então, o Hamas basicamente lançou um ataque que foi além dos soldados, cientes de que a estavam arriscando forçar Israel a superá-los nessa loucura, com a esperança de que os incêndios queimassem junto deles toda a normalização árabe-israelense no processo.

Assim como Biden, eu apoio 100% Israel contra o Hamas, porque Israel é um aliado que compartilha muitos valores com os Estados Unidos, enquanto o Hamas e o Irã são contrários ao que os Estados Unidos representam. Essa matemática é bastante simples para mim.

Mas o que torna essa guerra diferente de qualquer conflito anterior são as políticas internas de Israel. Nos últimos nove meses, um grupo de políticos de extrema direita e ultraortodoxos israelenses liderados por Netanyahu tentaram sequestrar a democracia israelense à luz do dia. A direita religiosa-nacionalista-colonizadora tentou tomar conta do Judiciário de Israel e de outras instituições, eliminando o poder da Suprema Corte de exercer a revisão judicial.

Essa tentativa abriu várias fraturas na sociedade israelense. Israel estava sendo levado de forma imprudente por sua liderança à beira de uma guerra civil por um devaneio ideológico. Essas fraturas foram percebidas pelo Irã, pelo Hamas e pelo Hizbullah e podem ter estimulado sua audácia.

Israel sofreu um golpe avassalador e agora é forçado a uma guerra moralmente impossível para superar o Hamas e deter o Irã e o Hizbullah ao mesmo tempo. Eu choro pelas terríveis mortes que agora aguardam tantos bons israelenses e palestinos. E também me preocupo profundamente com o plano de guerra de Israel. É uma coisa deter o Hizbullah e o Hamas. É completamente diferente substituir o Hamas e deixar algo mais estável e decente para trás. Mas o que fazer?

Assim como hoje apoio o novo governo de unidade de Israel em sua luta contra o Hamas para salvar o corpo de Israel, também apoiarei, após essa guerra, os defensores da democracia do país contra aqueles que tentaram sequestrar a alma de Israel.

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