Tom Farias

Jornalista e escritor, é autor de "Carolina, uma Biografia" e do romance "Toda Fúria"

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Tom Farias

Margareth Menezes tem competência e atitude para assumir a Cultura de Lula

O Brasil precisa de gente que tenha coragem, e a cantora traz junto com seu corpo preto a carga de sua ancestralidade

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O anúncio do nome da cantora e produtora baiana Margareth Menezes como ministra da Cultura de Lula me surpreendeu solenemente. Mas o que não me causou qualquer surpresa ou estranhamento foi a reação de certos grupos —dentro e fora do PT— à sua indicação.

Grupos que postulavam, desde a campanha presidencial, ocupar a pasta da Cultura, extinta no atual governo Bolsonaro, mas agora sob a promessa de ser restaurada.

É saudável que grupos ou pessoas postulem cargos públicos, de primeiro, segundo ou terceiro escalão, ainda mais para aqueles que já os ocuparam anteriormente. O que não cabe, e não deve proceder, ainda mais para os que se filiam à orientação do presidente Lula, é querer impor nomes, usando de campanha ardilosa, desrespeitosa e mesmo ofensiva.

A cantora Margareth Menezes ao lado de Lula - Ricardo Stuckert/Divulgação

Estou com Conceição Evaristo, que escreveu, primeiro em um grupo que fazemos parte, depois em sua rede social: "Talvez, o mais importante agora, seria uma acumulação de energia em torno de Margareth Menezes".

Para corroborar a mestra Conceição, a jornalista Flávia Oliveira, atuante no mesmo grupo de WhatsApp, postou o seguinte, em suas redes sociais: "Não são muitos brasileiros que têm o conhecimento dela [Margareth] sobre a cadeia produtiva da Cultura. Ela é muito mais que uma cantora (fortemente invisibilizada pelo privilégio branco no estado mais preto do Brasil)."

Para complementar, ainda escreveu: "Margareth compreende a indústria como poucas, porque pôs de pé um projeto fascinante que mistura arte, música, gastronomia, empreendedorismo. Quem já visitou o Mercado Yaô, na Ribeira (Salvador, Bahia) sabe do que estou falando, sabe do que ela é capaz. Margareth é artista e empreendedora do setor, a partir do Nordeste. E ainda compôs o samba da Mangueira para 2023."

Em outras palavras, Margareth Menezes é muito mais do que a "voz do Nordeste" —e se fosse apenas "a voz" do Nordeste já seria algo extraordinário em se tratando de uma mulher preta, em um país que se alimenta, como disse Conceição Evaristo, dos "laivos da Casa Grande". Margareth tem todas as condições e merecimento de postular o cargo que quiser dentro e fora da República.

Então, o que está acontecendo? Por que alguém, que longe da Esplanada dos Ministérios ou da antessala dos círculos palacianos, quer colocar em xeque a escolha do presidente Lula, eleito e agora diplomado pelo Tribunal Superior Eleitoral?

O que é ser "técnico" nesse Brasil? Dizer que para o Ministério da Cultura seria melhor indicar "um nome técnico", como está circulando por aí, é deslustrar a trajetória de uma mulher como Margareth Menezes — filha de uma costureira e de um motorista—, que foi considerada pelo jornal Los Angeles Times, como a Aretha Franklin brasileira.

Ela tem no currículo cerca de 21 turnês mundiais, além de dezenas de premiações, como atriz e como cantora —só aqui são pelo menos duas indicações, de Grammy Awards e Grammy Latino.

Aos indignados de plantão, é preciso saber que Margareth Menezes não anda nunca só: ela traz junto com seu corpo preto a carga de sua ancestralidade, marca de suas origens. Enfrentando todos os padrões de competição, no campo artístico e da produção cultural, que tem muito a ver com a injustiça e desigualdade que se pratica nesse país, se projetou para o todo o Brasil, que só valoriza os que saem do eixo Rio-São Paulo.

Talvez este seja o primeiro passo para em uma mudança de ideia e de diversidade na composição daqueles que irão tocar a nação para os próximos quatro anos.

Ter uma indicação como a de Margareth Menezes à frente do Ministério da Cultura, é reposicionar a competência técnica do povo negro, para além das pastas de origem —como a Fundação Cultural Palmares ou a antiga Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a Seppir.

Sob a pouco coerente alegação de que a pasta da Cultura preciso de um "nome técnico" para recompô-la, depois da destruição na área promovida pelo governo que finda, é uma falácia descabida. Todas as principais áreas essenciais do país estão desmanteladas e sucateadas —seja da educação, saúde, trabalho, ciência e tecnologia, segurança pública etc.

O Brasil precisa de gente que tenha coragem para encarar a luta, com atitude e destemidamente. Esta pessoa hoje atende pelo nome de Margareth Menezes da Purificação.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.