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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Descrição de chapéu Copa do Mundo

Novos fatos perto ou durante a Copa podem mudar planos de Tite

Os amistosos são importantes, mas só os ignorantes desprezam o acaso

Treino da seleção brasileira em Moscou para amistoso contra a Rússia
Treino da seleção brasileira em Moscou para amistoso contra a Rússia - Pedro Martins - 19.mar.18/MoWA Press

Nesta semana escutei alguém dizer que é impossível fazer, pela TV, uma análise tática correta de uma partida. Outros devem pensar o mesmo. Impossível para quem não sabe, não sabe ver ou não se preparou para ver? Com tantas câmeras e imagens abertas, dá para enxergar grande parte do conjunto. O que não vejo, deduzo. A ciência não é 100% exata, digital. Além disso, não sou treinador. Se fosse, assistiria a todas as partidas nas cadeiras, com uma visão melhor que no banco de reservas, de onde se vê apenas as pernas dos jogadores.

Quando um time está no ataque, perde a bola e sofre o contra-ataque, posso deduzir, pelo enorme vazio que existe nas costas dos armadores, que os zagueiros estão muito atrás, colados à grande área. A incapacidade de atacar e de defender em bloco, sem deixar grandes espaços entre os setores, é uma das principais deficiências das equipes brasileiras.

Pela TV, aproveito também das dezenas de informações e opiniões dos comentaristas, além de acompanhar, no mesmo horário, o que acontece de importante em outras partidas. E ainda há tempo para o cafezinho e o pão de queijo.

Os comentaristas que foram atletas profissionais, craques ou não, costumam ser melhores que os comentaristas jornalistas, para analisar detalhes técnicos de lances, enquanto os jornalistas geralmente são superiores para dar informações e, paradoxalmente, para analisar a estratégia dos treinadores, pois se preocupam e se preparam mais para isso. Poderíamos transportar essa comparação para os técnicos que foram atletas e que utilizam dessa experiência e os que são acadêmicos, mais estudiosos, científicos? Há muitas exceções, dos dois lados.

Tite, ótimo treinador, que une a experiência de atleta com muito conhecimento científico, vai aproveitar os amistosos para entrosar melhor o time e usar de algumas opções táticas, o que é mais provável, ou vai escalar alguns jogadores que atuaram pouco ou que foram convocados pela primeira vez? Analisar jogadores somente pelos treinos e/ou pelo comportamento na concentração –gostam de dizer que fulano é bom de grupo– é um tremendo papo furado. Isso acrescentaria se já existisse uma boa avaliação técnica e tática.

Tite tem algumas opções táticas. Contra a Rússia, seguindo o modelo do Manchester City, quando enfrenta defesas fechadas, com cinco defensores, imagino que o time jogará com apenas um volante (Casemiro), dois meias ofensivos (Paulinho e Coutinho), dois pontas abertos (Willian e Douglas Costa) e um centroavante. Contra a Alemanha, deverá ser o sistema tático das eliminatórias, com Willian, pela direita, Coutinho, pela esquerda, e, provavelmente, Fernandinho, no lugar de Renato Augusto, para reforçar a marcação e evitar que o ritmista Kroos e outros armadores tenham o domínio da bola.

Outra opção durante o jogo contra a Rússia, se a equipe tiver dificuldade de fazer gols, seria a entrada de Willian José, por causa do jogo aéreo, com ou sem a companhia de outro centroavante.

Os amistosos são importantes para os técnicos das principais seleções tirarem suas últimas conclusões, de acordo com seus minuciosos planejamentos, embora, com frequência, ocorra, perto ou durante o Mundial, novos e surpreendentes fatos, que, às vezes, são mais interessantes e brilhantes. Só os ignorantes desprezam o acaso e os imprevistos.

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