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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Ideias e resultados

Não se consegue bons e duradouros resultados, sem boas ideias

Não houve novidade técnica ou tática na Copa do Mundo, mas alguns detalhes, já conhecidos, ficaram mais evidentes na Rússia. Apesar de, no meio de campo, existir, desde os anos 1960, três tipos de jogadores, com funções e posições diferentes, muitos insistem em tratá-los como se fossem iguais.

Um desses jogadores é o volante, que protege os defensores, inicia as jogadas ofensivas e pouco aparece no campo adversário. Continua essencial.

Outro é o meio-campista, que atua de uma intermediária à outra. O terceiro tipo é o clássico meia de ligação, que atua entre o meio-campo e o centroavante e que pode ter mais características de armador ou mesmo de atacante.

Na Copa do Mundo, a maioria das seleções tinha um trio no meio, formado por um volante, mais centralizado, e um meio-campista de cada lado, sem o meia de ligação.

França não tem só bons jogadores. Tem, também, boas ideias e variações, principalmente em seu meio de campo
França não tem só bons jogadores. Tem, também, boas ideias e variações, principalmente em seu meio de campo - Francois Xavier Marit/AFP

Na seleção francesa, o trio era Kanté, Pogba e Matuidi. Na Croácia, Brozovic, Rakitic e Modric. Muitos dos grandes times do futebol mundial também atuam dessa forma, como o Real Madrid, com Casemiro, Modric e Toni Kroos.

Já no Brasil, a maioria absoluta das equipes tem uma dupla de volantes em linha, mais marcadores, e um meia de ligação. O Flamengo é exceção, com Cuéllar, de volante, e os meio-campistas Paquetá e Diego, um de cada lado.

A França misturou estes dois sistemas táticos, ao jogar com um trio no meio e o meia-atacante Griezmann, formando um losango, com Giroud posicionado mais à frente. 

O time abriu mão do meia aberto pela esquerda. Luxemburgo deve ter dito que o losango francês foi copiado dos times treinados por ele.

A seleção brasileira também formou um trio no meio de campo, que não funcionou bem. Paulinho se preocupava mais em chegar à frente para fazer gols, e Phillipe Coutinho, apesar do esforço, não tinha o hábito nem as características técnicas e físicas para atacar e também defender.

É bem diferente o meio-campista, que marca como um volante e avança como um meia, do meia ofensivo, que ataca e volta para marcar.

É também muito mais fácil para um meia que atua pela ponta voltar e fazer a marcação do que para um meia que joga centralizado, pois o espaço é muito maior.

É muito provável que o técnico da Bélgica, ao colocar De Bruyne nas costas de Fernandinho e Lukaku nas de Marcelo, tenha se inspirado no México, que fez o mesmo contra o Brasil e só não marcou por deficiências individuais, nas oitavas de final do Mundial.

A Bélgica contrariou o conceito moderno de que todos os jogadores têm de atacar e defender, ao deixar três jogadores na frente, De Bruyne, Lukaku e Hazard, sem a obrigação de voltar. Arriscou e deu certo. "Viver é perigoso" (João Guimarães Rosa).

O Brasil continua formando excelentes meias atacantes, dribladores, ótimos no confronto individual, como Neymar, Coutinho, William, Douglas Costa e tantos outros.

Vem aí uma nova safra, com Vinícius Júnior, Paulinho (ex-Vasco), Rodrygo e Malcom, contratado pelo Barcelona.

Por outro lado, desde a década de 1980, após Cerezo e Falcão, o Brasil não forma um craque no meio de campo, do nível dos melhores do mundo.

A grande virtude da França campeão foi reunir um ótimo volante (Kanté), um excelente meio-campista (Pogba) e uma excepcional dupla de meias-atacantes (Mbappé e Griezmann), ocupando posições e funções diferentes.

É preciso unir a teoria e a prática. Não basta ter ótimas ideias, sem saber executá-las. Porém, não se consegue bons e duradouros resultados, sem boas ideias.

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