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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Expectativa criada sobre Alexandre Pato é muito maior que a realidade

Falta ao jogador lucidez nas decisões, a qualidade mais importante para se tornar um craque

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Cheguei de viagem de férias na terça-feira (28) à noite, no momento do dilúvio em Belo Horizonte. Demorei a entrar em casa. Carros destruídos boiavam nas ruas, que se transformaram em rios. Belo Horizonte e outras grandes cidades foram construídas sobre rios canalizados. Os humanos pagam o preço por isso e pelas mudanças climáticas que provocam no planeta.

Voltei à rotina, após dez dias sem ver, escutar e ler sobre futebol. Fora os acontecimentos pontuais, algumas discussões se repetem ao longo dos anos. Uma delas é a formação e o posicionamento dos jogadores no meio-campo. Depois de uma longa tolerância e aceitação dos volantes brucutus, querem agora o oposto, que os volantes joguem de uma intermediária à outra, marquem, deem passes e ainda façam gols. É demais.

Nas melhores equipes do mundo, o meio-campo é formado por um volante centralizado (centromédio), que protege a defesa, inicia as jogadas ofensivas com bom passe e que pouco chega à grande área adversária, além de um meio-campista de cada lado, que defendem e avançam como meias. São raros os clássicos meias de ligação. Isso ocorre, entre outros motivos, porque não há espaço físico para eles jogarem, já que os times são compactos, com os três setores muito próximos.

Alexandre Pato durante treino do São Paulo - Marcello Zambrana - 9.set.2019/AGIF

Já no Brasil, com os zagueiros colados à grande área, protegidos pelos volantes, sobram grandes espaços entre eles e os atacantes, preenchidos pelo meia de ligação. Continua a visão arcaica de que os dois volantes marcam e o meia de ligação é o único responsável pela criação de jogadas.

Além do Flamengo, Santos, Internacional e Atlético-MG, dirigidos por técnicos estrangeiros, possuem desenho tático como o dos europeus, com um trio no meio-campo, formado por um volante e um meio-campista de cada lado. Gostei muito do volante Jobson, do Santos.

No empate entre Atlético-MG e Coimbra, pelo Campeonato Mineiro, o treinador Dudamel foi bastante criticado por jogar com três volantes, sem um meia de ligação, como se isso fosse a causa da má atuação do time. O Atlético tem várias deficiências individuais e não jogou com três volantes, e sim com um volante e dois meio-campistas.

Em todas as partidas que vi no meio de semana, ficou evidente a preocupação dos treinadores das grandes equipes em valorizar mais a troca de passes e o domínio da bola e do jogo. Isso é bom. O Palmeiras, com Luxemburgo, é diferente do time do ano passado. Por outro lado, insisto que continuam os enormes espaços entre os setores. Os zagueiros morrem de medo de avançar um pouco e de levar bolas nas costas.

O Corinthians, após a entrada, no segundo tempo, do volante colombiano Cantillo, um jogador habilidoso, de passadas largas e bom passe, mostrou sinais de que poderá evoluir. Falta um ótimo atacante pelo lado.

Os anos passam e continua a mesma discussão sobre Alexandre Pato. Há mais de dez anos, esperam que se torne um craque. Dizem que ele não sabe aproveitar seu enorme talento e técnica. Nunca o vi assim. Faltam a ele várias qualidades técnicas, principalmente a mais importante para se tornar um craque, a lucidez nas decisões. A expectativa criada é muito maior que a realidade. Pior é que ele também se iludiu.

Já o atacante Willian, do Palmeiras, longe de ser um excepcional jogador, é o oposto. Não tem a graça, a habilidade nem os efeitos especiais de Pato, mas quase sempre joga bem, além de ter uma ótima técnica para finalizar. Ele é melhor do que parece.

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