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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Marcar data para a volta do futebol, neste momento, é inconcebível

Como o cenário continua grave, é perigoso pensar em voltar com os torneios

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O distanciamento social completou um mês. É duro, mas necessário. Faço ginástica, leio, vejo partidas de futebol do passado, alguns programas esportivos, filmes, canais de arte, como o Curta e o Arte 1, e retorno aos noticiários para me informar. O número de mortes é assustador. Triste. Penso na transitoriedade da vida. Respiro fundo e sonho com as coisas que farei depois que terminar a tragédia.

Apesar de a história não ser animadora, tenho esperança de que o mundo e as pessoas se tornarão melhores após a pandemia. É inconcebível conviver com tanta miséria e com as ameaças ao meio ambiente, consequências da falta de solidariedade, do desleixo e das incompetências dos governantes.

O estádio do Pacaembu foi transformado em hospital de campanha para o combate ao coronavírus
O estádio do Pacaembu foi transformado em hospital de campanha para o combate ao coronavírus - Eduardo Anizelli-27.mar.20/Folhapress

Não há nenhuma certeza sobre quando voltaremos à normalidade ou se viveremos outra realidade. A ciência médica não é exata.

É perigoso, neste momento em que o cenário continua grave, os governos, clubes e federações marcarem uma data de retorno às atividades e ao futebol. Mesmo quando as coisas voltarem à normalidade, as pessoas terão que ter cuidados, mudar hábitos e evitar aglomerações. Mesmo com arquibancadas vazias, há o risco de confusão de torcedores fora dos estádios. Será impossível também manter os calendários de todas as competições.

Mudo de assunto. A qualidade das imagens das partidas da Copa de 1970 é muito pior e muito mais fechada que as atuais. Dava para ver apenas a bola e uma pequena distância em volta. Hoje, as imagens são bastante abertas, com ampla visão do conjunto. Isso ajuda nas análises de quem vê as partidas pela televisão.

No futebol, há dezenas de lugares-comuns, inverdades, que se repetem e se tornam verdades. Ouço, com frequência, que o futebol, na Copa de 1970, era muito mais lento e que havia mais espaços para jogar. Nem tanto. Evidentemente, hoje, os jogos são muito mais intensos e velozes. Além disso, a seleção brasileira atuava em um ritmo muito mais rápido do que era o comum na época.

Os adversários do Brasil, especialmente Inglaterra, Uruguai e Itália, recuavam, marcavam próximos da área e deixavam espaços no meio-campo, como hoje é habitual entre as equipes.

Cometeram um erro, por deixarem Rivellino conduzir a bola livre, driblar e se aproximar da área e por permitirem que Gérson dominasse a bola e desse longos passes milimétricos, precisos, mesmo para companheiros bem marcados. O que não havia era a pressão em quem estava com a bola, como acontece hoje, desde o goleiro e os defensores.

A Copa de 1970 talvez tenha sido o início da propaganda comercial no futebol, por ter sido o primeiro Mundial com transmissão ao vivo pela TV. Perto da Copa, uma empresa de material esportivo ofereceu uma pequena quantia a todos os jogadores para atuarem com suas chuteiras. Achamos ótimo, já que era a chuteira que usávamos habitualmente.

Com Pelé, foi diferente. Ele assinou um contrato com outra empresa concorrente. O problema é que Pelé gostava de jogar com a chuteira que todos nós usávamos, por ser mais confortável. O roupeiro resolveu a situação. Tirou a marca que identificava a empresa e colocou a do concorrente, e Pelé jogou com a chuteira que queria.

Antes de o Brasil iniciar as partidas, Pelé se abaixava perto da bola, no meio-campo, amarrava as chuteiras, e a TV mostrava, para todo o mundo, a marca da empresa que o patrocinava. Todos ficaram satisfeitos.

Pelé confirmou que era o eterno Rei, o Brasil foi campeão, e as duas empresas lucraram bastante.

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