Assim como a vida, o futebol dá muitas voltas. Como admirador, atleta e analista, tentei entender os detalhes sobre o que aconteceu nos últimos 60 anos. Vi momentos espetaculares e outros medíocres.
Os 20 anos entre 1954 e 1974 foram um período de encantamento, com um extraordinário número de grandes times e craques, como a seleção húngara de 1954, com Puskás, as brasileiras de 1958, 1962 e 1970, a holandesa de 1974, com o genial Cruyff, a alemã de 1974, com Beckenbauer, o Santos de Pelé, o Botafogo de Garrincha, o Real Madrid de Di Stéfano e Puskás, o Benfica de Eusébio e tantas outras equipes e fenômenos que encantaram o mundo para sempre.
A partir da Copa de 1970, com o progressivo desenvolvimento científico, houve, no Brasil e em todo o mundo, um grande estímulo ao planejamento, dentro e fora de campo, à evolução física e tática e uma repressão à improvisação, à fantasia e aos devaneios individualistas.
Os embates entre o futebol arte e o futebol força, entre jogar bonito e obter o resultado, têm a ver com as discussões existenciais do ser humano, dividido entre a razão e a imaginação, entre a ética e o desejo, entre o real e o simbólico.
Junto com o desenvolvimento científico, houve também uma supervalorização dos treinadores e das estratégias, como se fosse possível descobrir, em cada jogo, a chave, a explicação exata sobre as razões das atuações das equipes e dos resultados dos jogos.
O futebol, durante décadas, se tornou excessivamente programado, previsível, chato e feio. Era preciso fazer algo para melhorar a qualidade do espetáculo e ter mais lucro. Os europeus investiram na contratação de jogadores, na melhoria dos gramados e na segurança e no conforto dos estádios. O futebol brasileiro ficou para trás.
Outra mudança importante foi em 1994, quando a vitória passou a valer três pontos. O empate deixou de ser um bom resultado. Alguns treinadores brasileiros ainda não foram avisados.
Depois do Mundial de 2002, constatou-se que o jogo coletivo ainda estava fraco e que era preciso haver uma grande transformação no futebol. Os alemães diziam que sua seleção, vice-campeã do mundo, era a pior dos últimos 50 anos.
A partir daí, aconteceu uma grande reação, com novos conceitos e uma nova maneira de jogar, progresso que só recentemente chegou ao Brasil. Estamos melhorando timidamente. Para evoluir e solidificar os novos tempos, os jovens necessitam praticar as novas ideias desde as categorias de base.
Não há mais lugar para goleiros que não sabem jogar com os pés e fora do gol; para laterais que só sabem avançar e cruzar; para zagueiros que ficam colados, durante os 90 minutos, à grande área e que não sabem dar um razoável passe; para volantes que desarmam, que tocam para o lado e que não se movimentam para receber a bola de volta; para meias que atuam em pequenos espaços entre os volantes e os zagueiros adversários; para pontas que vão e voltam somente encostados à lateral; e para centroavantes fixos que não se movimentam, à espera da bola, somente para finalizar ou fazer a função de pivô.
É preciso estimular a formação de meio-campistas, que atuem de uma intermediária à outra, e tantas outras coisas. Existe ainda um grande número de treinadores que dividem o meio-campo entre volantes que apenas marcam e meias que apenas atacam. Pelo menos, estamos evoluindo, mas ainda é pouco.
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