Tostão

Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Tostão

Há lugar para altinhos e baixinhos no futebol

É possível vencer com jogadores brilhantes e de características diferentes, como Haaland e Cano

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Gosto de conhecer a história do futebol e do mundo, embora duvide, questione e ache que as histórias sejam recontadas ao longo do tempo. Em cada período as pessoas enxergam os fatos de diferentes maneiras, de acordo com os costumes e o desenvolvimento humano e científico. Há coisas boas e ruins no passado e no presente.

Somos todos saudosistas, uns mais que os outros, e costumamos achar que as coisas do passado são sempre melhores que as do presente. Já muitos modernistas pensam que o futebol e a vida começaram com a internet. Houve também um grande crescimento das fake news.

Como sou um idoso que viveu períodos diferentes, como atleta, médico, comentarista de televisão, colunista e observador da vida, vejo com frequência que muitas pessoas têm outros conceitos e opiniões sobre o passado que vivi e de que participei. As histórias inventadas costumam ser mais interessantes que as reais.

O Brasil de 1970, do ponta Jairzinho, era um time moderno - Acervo - 14.ju.70/CBF

Muitos idosos e jovens acham que nas Copas do Mundo de 58, 62 e 70, quando o Brasil ganhou e encantou, o futebol era quase somente improvisação e inventividade, sem as amarras das estratégias táticas de hoje. Não era bem assim.

A seleção de 70, comandada por Zagallo, é antiga e moderna. Uniu a arte e a ciência, revolucionou a maneira de jogar. No primeiro gol contra o Uruguai, o adversário atacava, e todos os jogadores brasileiros estavam no próprio campo. Daí nasceu o contra-ataque do gol de Jairzinho. O gol de Carlos Alberto contra a Itália na final da Copa começou com o centroavante Tostão recuperando a bola na defesa e terminou com o defensor e lateral Carlos Alberto finalizando, uma inversão de funções. Dois lances, duas aulas de futebol moderno.

O futebol evoluiu. É hoje mais estratégico, mais ensaiado, o que não diminui a importância das improvisações, da inventividade e da fantasia para um jogo eficiente.

Hoje, os goleiros são mais altos e jogam cada vez melhor com os pés. Aumentou bastante o número de gols de bolas cruzadas rápidas, que fogem do goleiro. Raphael Veiga é mestre nesses cruzamentos. As equipes são mais intensas e compactas. No lugar de se posicionar e assistir ao adversário jogar, há muita pressão para recuperar a bola. O futebol mudou, embora muitos ainda não enxerguem o óbvio.

Os jogadores, na média, são hoje muito mais altos. Na seleção de 70, nenhum dos seis que atuavam do meio para a frente tinha mais que 1,75 m. Pelé media 1,73 m. Hoje a maioria tem mais que isso. Entre os anos de 2000 e 2010, os melhores meio-campistas do futebol mundial, os ingleses Lampard e Gerrard, eram altos e extremamente técnicos. Dizia-se que o tamanho era essencial para ser um excepcional meio-campista. Aí surgiram os baixinhos Xavi e Iniesta, além de Messi, dirigidos por Guardiola no Barcelona, que encantaram e revolucionaram o futebol.

Há lugar para os baixinhos e os altinhos. O baixinho Cano, o artilheiro de apenas um toque na bola, que não seria baixinho nos anos 60, fez mais dois gols no empate do Fluminense com o Inter pela Libertadores. O baixinho Modric domina há tempos o meio-campo do futebol mundial. O altinho, o grandalhão Haaland faz muitos gols de todos os jeitos.

Haaland e Modric, cada um à sua maneira, são excelentes - Isabel Infantes - 9.mai.23/Reuters

O futebol é um esporte de diversidades, com inúmeras estratégias para vencer e com jogadores brilhantes e de características diferentes nas mesmas posições. O futebol é uma sinergia de encantamento do passado com o presente. Deveria ser um esporte progressista, sem preconceitos, sem rótulos e sem partidarismo.

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