Txai Suruí

Coordenadora da Associação de Defesa Etnoambiental - Kanindé e do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia

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Txai Suruí
Descrição de chapéu yanomami

É preciso dar atenção à saúde mental dos povos indígenas

Essa atenção inclui o entendimento das doenças do espírito e respeito a crenças

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Com o anúncio da crise do povo yanomami, as violações de direitos humanos e a saúde do povo indígena tornaram-se temas. Ao falar em saúde indígena, vemos que desde a criação da Funasa diferentes órgãos governamentais e instituições foram responsáveis pelo atendimento dos povos indígenas.

Em 1999 foi criado o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, dentro do SUS, e foram implementados os distritos sanitários indígenas, conhecidos como DSEIs, delimitados a partir de critérios epidemiológicos, geográficos e etnográficos.

O subsistema de saúde indígena era gerido pela extinta Funasa. Contudo, a partir de uma demanda do movimento indígena, a partir de 2010 a gestão da saúde indígena passou às mãos de uma secretaria específica, vinculada diretamente ao Ministério da Saúde, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

O presidente Lula da Silva visita o hospital indígena e a Casa de Apoio à Saúde Indígena em Boa Vista, capital de Roraima - Ricardo Stuckert - 21.jan.23/Palácio do Planalto

No entanto há pouca discussão, inclusive na academia, sobre a saúde mental dos povos originários. Poucas pesquisas podem ser encontradas sobre o tema. E mais raros ainda são estudos profundos que levem em consideração a epistemologia de cada cultura e a cosmologia indígena para que sejam de fato abordada a complexidade do diálogo intercultural e debatidos os distintos saberes.

A taxa de suicídio entre indígenas é o triplo da média nacional. Na última semana, após um estudante indígena tirar a própria vida, o Coletivo Indígena da Unicamp, através de uma Carta de Socorro, convidou a reitoria e demais instâncias para uma reunião para a implementação de uma política específica de prevenção ao suicídio da juventude indígena.

A imagem colorida mostra vários homens indígenas
Ari Uru-eu-wau-wau, que foi encontrado morto com marcas de espancamento - Reprodução/Associação Kanindé

Após o assassinato do meu amigo Ari Uru Eu Wau Wau vi o adoecimento mental da família e da comunidade, que não dispõe de profissionais especializados suficientes para atender a todos. Além disso, ainda não se trabalha uma abordagem que leve em consideração a espiritualidade dos povos indígenas.

Saúde diferenciada não é apenas o uso de plantas medicinais; ela perpassa inclusive o entendimento das doenças do espírito, do respeito aos tabus e crenças e do choque e das consequências do contato com os não indígenas.

O psiquiatra e pensador Frantz Fanon fala de uma prática psiquiátrica focada especialmente na complexidade das diferenças. Crítico da opressão colonizadora, ele vai de encontro à psicanálise eurocentrada, que não entende as consequência da colonização.

O racismo, a exclusão, a falta de acesso a políticas públicas —como saneamento básico e água potável—, as invasões dos territórios, o assassinato dos guardiões da floresta e todo o processo de opressão que acontece até hoje são matérias-primas que reverberam na saúde mental das comunidades indígenas.

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