Jair Bolsonaro (PL) declarou outro dia que não leva jeito para ser presidente. Ele deve saber do que está falando. É avesso ao trabalho, ignora os princípios republicanos, desrespeita a separação de Poderes, desconhece a liturgia do cargo e, como fica cada vez mais evidente, não tem ideia do que seja empatia.
Sua incapacidade de se identificar com outra pessoa tinha chamado a atenção nos comentários sobre a Covid. Bolsonaro caçoou dos doentes e fez pouco caso da dor de quem perdeu alguém para a doença. Chamou o sofrimento de frescura e mi-mi-mi.
Poderia haver nesse comportamento, contudo, um quê de farsa política. Aferrado às teorias que minimizaram o coronavírus e para sempre marcado como presidente antivacina, preferiu manter a pose para não dar o braço a torcer.
A hipótese não melhoraria muito sua posição no ranking da compaixão humana, mas ao menos seria uma explicação lógica para a conduta que, de outro modo, não passa de demonstração gratuita de sadismo.
No caso que envolve o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira, em comparação, é difícil achar um raciocínio subjacente à crueldade.
Ainda que Bolsonaro não goste de indigenistas, ambientalistas e jornalistas, ele poderia muito bem manifestar seu pesar, melhorar sua imagem internacional e repudiar os criminosos que, tudo indica, cometeram um ato bárbaro.
Nada disso comprometeria sua agenda ideológica, pois atacar bandidos, pelo menos da boca para a fora, é algo que ele sabe fazer.
Por que, então, preferiu responsabilizar as vítimas? Por que resolveu descrever o que pode ter acontecido com seus corpos? Não lhe ocorre que que tais detalhes vão provocar mais dor em quem já está sofrendo?
O mais curioso é que, ao agir assim, Bolsonaro precisou reconhecer a falta de controle sobre a Amazônia, algo que tantos indigenistas, ambientalistas e jornalistas denunciam.
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