Vaivém das Commodities
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
Falta de café preocupa indústria e vai pesar para consumidor
Prepare o bolso. O café vai esquentar. O setor passa por dificuldades de abastecimento nunca antes registradas.
A queda na produção do café tipo conilon, provocada por efeitos climáticos, está desestruturando o mercado.
O consumo nacional desse tipo de café é de 12,2 milhões de sacas por ano. O Brasil produziu apenas 8,4 milhões de sacas. Essa demanda deverá ser coberta pelo café do tipo arábica.
"É um cenário que nunca vi antes", diz Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).
"Há um desabastecimento que afeta tanto o setor interno como o externo", complementa.
Herszkowicz diz que a indústria é afetada não só pela falta de produto, e consequente elevação de preços, mas também por ter de fazer um rearranjo industrial.
Com menos conilon, que em geral responde por 40% da mistura do café que vai ao supermercado, a indústria tem de mudar a composição de seu "blend".
Essa mudança de "blend" traz consequências tanto para o consumidor, acostumado ao sabor do produto, como para a empresa.
Após industrializados, esses cafés têm volumes diferentes, o que traz problemas até na hora de embalar, segundo Herszkowicz.
O que mais preocupa a indústria é que esse cenário de dificuldade não é passageiro. A safra que está em curso não promete muito, uma vez que vai viver a chamada bienalidade, período de menor produção devido ao estresse da planta no ano anterior. E a importação de café não é permitida.
Tradicionalmente com preços menores, a saca de café conilon está em R$ 481, acima dos R$ 450 do arábica.
Neste momento, a alta de preços do conilon eleva também o do arábica, e os produtores que ainda têm café aguardam preços melhores, aumentando a ausência do produto no mercado, segundo Herszkowicz.
Esses custos vão ser repassados para o consumidor. O repasse vai depender do comportamento dos preços da matéria-prima.
O café que o consumidor encontra nos supermercados tinha próximo de 40% de conilon e o restante de arábica. Com a queda de oferta de conilon, alguns "blends" já trazem apenas 20% desse tipo de café.
O café arábica tem aroma e sabor mais intensos e mais consistentes. Ele dá gosto ao café.
Já o conilon não tem tantas variações como o arábica. É mais encorpado e tem mais cafeína, tendo um sabor mais amargo.
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