Vaivém das Commodities
Por Mauro Zafalon
Mauro Zafalon é jornalista e, em duas passagens pela Folha, soma 40 anos de jornal. Escreve sobre commodities e pecuária. Escreve de terça a sábado.
Plantio de trigo avança no Paraná, mas área será menor
Dirceu Portugal/Folhapress | ||
Colheita de trigo no município de Juranda, na região centro-oeste do Paraná |
O plantio de trigo já chega a 15% da área que será destinada à cultura no Paraná. Mas parte dos produtores não está muito animada neste ano.
As condições de mercado não são muito favoráveis, e a área destinada ao cereal deverá ser de 8% a 10% menor nesta safra do que na anterior.
Um dos desestímulos dos produtores vem dos preços, segundo Francisco Carlos Simioni, diretor do Deral (Departamento de Economia Rural) do Paraná.
Na safra anterior, os produtores não conseguiram cobrir os custos de produção, e os mecanismos de apoio do governo não tiveram efeitos para os agricultores paranaenses que optaram pelo produto, afirma ele.
Dificuldades internas e um volume grande de trigo no mercado internacional fizeram o produtor repensar o cultivo de inverno neste ano e diminuir a área. Houve uma troca desse cereal por milho e cevada.
A aposta do produtor no milho fez com que a área dessa cultura crescesse 8% no Estado. Já outros produtores preferiram a cevada, uma vez que preços e garantia de compra pelas indústrias tornaram esse mercado atraente.
A área destinada à cevada, que subiu para 54 mil hectares, cresceu 27% no ano, conforme dados do Deral.
ESTOQUES
O produtor brasileiro de trigo vai encontrar um mercado internacional bem abastecido. A produção mundial do cereal deverá atingir 751 milhões de toneladas, elevando os estoques mundiais para o recorde de 253 milhões de toneladas, segundo dados do Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
Outra dificuldade para os brasileiros será a concorrência dos produtores argentinos. A produção do país vizinho está estimada em 18 milhões de toneladas pelo governo, embora estimativas privadas avaliem a safra de até 15 milhões. Há poucos anos, a produção argentina estava abaixo dos 10 milhões de toneladas.
Com pouca presença no mercado brasileiro, devido à quebra de safra em anos recentes, os argentinos voltam a ter um grande potencial de exportação agora.
O problema, segundo Simioni, não é o volume de trigo que os argentinos trazem para o mercado brasileiro, mas o patamar de preços, uma vez que os custos de produção dos vizinhos são menores do que os do Brasil.
A produção brasileira é toda absorvida pelos moinhos nacionais, mas a fixação dos preços ocorre com base no produto importado, segundo o diretor do Deral.
Um dos pontos de estímulo para o produtor paranaense nesta safra será um pequeno alívio nos custos dos fertilizantes. Preços externos menores e dólar mai enfraquecido, em relação ao real, reduzem os gastos.
O mercado de trigo no Brasil é sempre uma incógnita para os produtores, que buscam garantia de preços mínimos, seguro rural com taxas acessíveis e mecanismos de proteção na hora da comercialização. Nem sempre esses pontos estão ajustados.
A área brasileira de trigo deverá recuar para 2,1 milhões de hectares neste ano, 3% menos do que no anterior. Já a produção deverá cair para 5,5 milhões de toneladas, 19% menos.
Para suprir um consumo de 10,9 milhões de toneladas, o país terá de importar pelo menos 6,2 milhões de toneladas, segundo estimativas da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
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