Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Quebra de safra de soja na Argentina salva o Brasil

Produtores vizinhos deverão colher 28% menos neste ano

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Milho em fazenda afetada pela seca em Chivilcoy, na Argentina
Milho em fazenda afetada pela seca em Chivilcoy, na Argentina - Martin Acosta - 28.fev.18/Reuters

A agricultura é mesmo imprevisível e, muitas vezes, a rentabilidade ou a perda no campo é decidida no final do jogo. É o que ocorre neste ano. Os brasileiros estão sendo salvos pelos argentinos.

Era quase certo que a boa renda obtida nas safras recentes não se repetiria neste ano e que parte dos produtores nacionais teria dificuldades para fechar as contas em 2018.

Não é o que está ocorrendo. Uma forte seca castigou as principais áreas de produção da Argentina, e a safra de soja, que chegou a 58 milhões de toneladas em 2017 no país vizinho, deverá ficar em pouco mais de 40 milhões neste ano.

A reação do mercado às perspectivas de quebra da safra argentina foi imediata, elevando os preços internos.

O valor médio da soja neste mês no mercado disponível é de R$ 71,93 por saca, em Cascavel (PR). Esse preço supera em 6,3% o de fevereiro e em 7,5% o de janeiro.

Em Sorriso, importante região de produção de Mato Grosso, a soja acumula alta de 10,5%, em relação aos valores de janeiro, segundo pesquisa da AgRural.

"Em geral, altas de preços não são comuns no mercado brasileiro nos meses de março e de abril. Nesta época do ano, os preços internos sofrem a pressão da entrada da safra", diz Daniele Siqueira, analista da AgRural.

Nos últimos 18 anos, até 2017, o preço médio de abril e de maio caiu em 13 ocasiões em Cascavel, em relação aos de fevereiro. Em Sorriso, a queda foi de 11 vezes no mesmo período, afirma Siqueira.

"O ocorrido neste ano foi um golpe de sorte, já que a safra 2017/18 estava muito pouco comercializada até janeiro", diz ela.

"Em fevereiro, as vendas ganharam um bom impulso, por causa dos preços mais altos. Agora em março, porém, já perderam parte do fôlego, pois os produtores querem preços ainda mais elevados", acrescenta.

O desafio persiste

O produtor se livrou de uma queda de preços neste ano, mas precisa ficar atento ao próximo. Apesar da quebra de safra na Argentina, os estoques mundiais estão elevados.

No final de agosto, deverão estar em 94,4 milhões de toneladas, o segundo maior da história. No ano passado, atingiram 96,7 milhões, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).

O desafio persiste. Os americanos deverão semear uma área de soja maior do que a de milho, em tempos normais, pela primeira vez.

Isso só correu em 1983/84, quando o excesso de chuva impediu o plantio de milho, que foi substituído, em parte, pelo de soja.

A área de soja também aumenta no Brasil e deverá atingir o recorde de 36 milhões de hectares em 2018/19, conforme as estimativas mais otimistas.

A safra mundial de soja deste ano, devido à seca da Argentina, terá um recuo de 10 milhões de toneladas, para 341 milhões, segundo estimativas do Usda.

Ou seja, mesmo com a quebra de safra no país vizinho, o mundo ainda tem muita soja. É preciso torcer para o apetite chinês aumentar ainda mais.

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