Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Pressão do dólar atinge alimentos e inflação

A alta de preços tem limites, mas chega tanto aos produtos importados como aos exportados

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A taxa de inflação de 0,39%, divulgada nesta terça-feira (2) pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), aponta uma pequena retração em relação à de agosto. Ela não esconde, porém, o efeito do dólar sobre os preços.

Os produtos que são importados e os que o país coloca no mercado externo via exportações, contudo, mostram aceleração.

O efeito do dólar já começa a ser sentido nos índices da FGV. Em abril, a taxa acumulada de 12 meses dos produtos agropecuários tinha deflação de 0,22% no atacado. Em setembro, o mesmo índice registrou elevação de 14,27% em 12 meses.

Paulo Picchetti, economista da Fundação Getulio Vargas e do IBRE (Instituto Brasileiro de Economia), diz que normalmente os preços do atacado chegam mais rapidamente ao varejo, mas neste momento isso não corre.

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Variação no preço das cervejas indica impactos da alta do dólar - Folhapress

“Não há muito espaço para aumento de preços ao consumidor. A demanda está baixa”, diz ele. Os produtos agrícolas sofrem um repasse rápido do câmbio, mas os alimentos processados tem ritmo menor.

Nos últimos 12 meses, o grupo dos produtos comercializáveis —entre eles os alimentos— subiram 2%, enquanto o câmbio teve variação de 25%, segundo Picchetti.

O efeito do dólar em alguns produtos acaba aparecendo mais na redução de quantidade nas prateleiras do que nos preços praticados.

Heron do Carmo, economista da USP e da Fipe, concorda com Picchetti. Há uma pressão do câmbio em vários produtos pesquisados pelos índices de inflação, mas o repasse dessa taxa é bem menor do que a variação cambial.

No caso dos agrícolas, a pressão já sai da porteira da fazenda junto com o produto. O repasse para o consumidor, porém, é bem menor porque o produto passa por um processo industrial, diz Heron.

Nessa transformação da matéria-prima para o produto final entram mão-de-obra, energia e outros custos, que têm correções menores devido à desaceleração da economia, segundo o economista da USP.

Ele cita os dados da Fipe divulgados nesta terça-feira: a farinha de trigo, que vem em boa parte do trigo importado, subiu 5,28% em setembro. Já os biscoitos tiveram queda de 1,56% no mesmo período.

Apesar da taxa média menor da inflação, as variações de preços de muitos produtos já indicam a pressão do dólar. Entre essas altas estão o trigo e seus derivados, óleo de oliva e bebidas como vinho e cerveja.

A pressão vem também dos produtos exportáveis, que ficam mais competitivos lá fora e podem trazer parte dos preços externos para o mercado interno. Um exemplo são as carnes, segundo Heron. Elas estavam com queda nos meses anteriores. Em setembro, já registraram alta.

A oferta menor de produtos nas gôndolas, principalmente pela pressão que o dólar impõe sobre os importados, como diz Picchetti, poderá se acentuar.

Os números da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) já mostram importações menores de água mineral, cerveja, queijos e outros produtos sofisticados como cogumelos e frutas secas.

 

Números da crise  A crise econômica vivida pelos argentinos se acentua também na agricultura. As indústrias de máquinas conseguiram vender apenas 41 colheitadeiras no mês passado no país vizinho, bem abaixo das 106 de igual período de 2017.

Sem investimento  A volta da intervenção do governo no setor, com a imposição de imposto de exportação, traz incertezas nos investimentos. As vendas de tratores caíram para 308 unidades em setembro, após terem atingido 835 em igual mês de 2017.

Algodão  Mato Grosso já comercializou 61% da safra de algodão 2018/19. No mesmo período do ano passado, o percentual era de 50%, conforme dados do Imea (Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária).

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