O agronegócio do Brasil tem muito a perder com o novo conflito internacional dos Estados Unidos. Desta vez, com o Irã.
O alinhamento ideológico brasileiro com os americanos pode afetar as exportações do Brasil para um dos principais parceiros no setor do agronegócio.
“Nosso agro é motivo de orgulho”, escreveu Jair Bolsonaro em rede social no domingo (5). As ações do presidente, porém, podem comprometer o setor.
A aprovação da ação dos Estados Unidos na morte do general iraniano Qassim Suleimani e a aceitação do encontro “mundial” que Donald Trump quer fazer no Brasil para isolar o Irã podem trazer consequências para alguns dos principais setores do agronegócio brasileiro.
O Irã é o 23º país na lista dos principais importadores de produtos brasileiros. Um corte nesses dados, focando apenas os alimentos, contudo, coloca os iranianos como o 4º país mais importante para o agronegócio brasileiro.
Os iranianos importaram US$ 2,2 bilhões em produtos alimentares do Brasil em 2019, 3% de tudo o que o país exportou nesse setor.
Um eventual desgaste entre Brasil e Irã vai afetar exatamente os principais setores da exportação brasileira do agronegócio: milho, soja, carne bovina e açúcar.
Os iranianos gastaram US$ 1 bilhão no ano passado com as compras de milho no país. Levaram 5,4 milhões de toneladas, o que representou 13% das exportações totais do cereal.
Uma saída do Irã do mercado brasileiro vai comprometer a renda dos produtores. O Brasil atingiu o patamar de produção de 100 milhões de toneladas de milho por ano e necessita de grandes importadores.
Entre os maiores do mundo estão México, Japão, Vietnã, Coreia do Sul e Irã. Por questões logísticas, muitos deles têm os Estados Unidos como principal fornecedor, à exceção do Irã, que concentra as compras do cereal no Brasil.
Argentina e Brasil também são mercados atraentes para esses grandes importadores. Japão e Irã lideram as compras no Brasil, e Vietnã e Argélia, na Argentina.
A perda dos iranianos pelos brasileiros teria também consequências sobre os preços do produto.
Os iranianos são importantes também para o segmento de soja. Com o aumento da moagem da oleaginosa, devido à mistura do óleo de soja ao biodiesel, o país tem necessidade de exportação de farelo. Os iranianos ficaram com 9% das exportações desse produto em 2019.
Resta ao setor alertar o presidente sobre os possíveis estragos que as posições ideológicas podem trazer ao comércio. Afinal, no caso dos episódios da China e da Arábia Saudita, ele se convenceu dos eventuais reveses.
Recorde As exportações de milho renderam o recorde de US$ 7,4 bilhões no ano passado, 89% mais que em 2018. Saíram 42,3 milhões de toneladas (+84%).
Japão lidera Os japoneses lideraram as compras. Adquiriram 6,9 milhões de toneladas, no valor de US$ 1,15 bilhão. Iranianos e vietnamitas vieram a seguir.
Suínos As exportações atingiram o recorde de 750 mil toneladas, 16% mais do que em 2018. Os dados são da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
Receitas As vendas externas da proteína renderam US$ 1,6 bilhão ao Brasil, graças à China, que se tornou a principal importadora e comprou 249 mil toneladas.
Soja 2020 O país poderá produzir 125 milhões de toneladas neste ano, segundo estimativa da Safras & Mercado. O setor, porém, terá desafios pela frente. O quanto a China vai comprar dos EUA e como os impostos vão afetar o mercado da Argentina são alguns deles.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.