Ataque dos Estados Unidos mata general do Irã em Bagdá e aumenta tensão na região

Líder supremo iraniano promete vingança implacável, enquanto Trump diz que Irã nunca venceu uma guerra

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São Paulo e Bagdá | Reuters e AFP

Um ataque realizado pelos Estados Unidos contra o Aeroporto Internacional de Bagdá, no Iraque, na madrugada desta sexta (3, noite de quinta no Brasil) matou o principal comandante militar do Irã, o general Qassim Suleimani, e fez escalar a tensão entre americanos e iranianos.

Os EUA confirmaram que a ação foi autorizada pessoalmente pelo presidente Donald Trump e anunciaram que vão mandar outros 3.000 soldados para o Oriente Médio, enquanto o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, pediu “vingança implacável”.

Considerado um herói em seu país, Suleimani foi tratado como mártir e recebeu uma oração em rede nacional como uma das homenagens.

O general Qassim Suleimani, morto no ataque ao aeroporto, durante entrevista em Teerã em outubro
O general Qassim Suleimani, morto no ataque ao aeroporto, durante entrevista em Teerã em outubro - Divulgação - 1º.out.19/Governo do Irã/AFP

Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas no Irã e em outros países, como Índia, Líbano e Paquistão, para protestar contra a morte do general.

Entoando frases como “morte à América” e segurando cartazes com a foto do comandante, os manifestantes queimaram bandeiras dos EUA e do Reino Unido —visto como aliado americano, embora o premiê britânico, Boris Johnson, tenha afirmado que não tinha conhecimento prévio do atentado.

Em uma série de publicações no Twitter, Donald Trump afirmou que “o Irã nunca venceu uma guerra” e que Suleimani “deveria ter sido morto muitos anos atrás”.

Mais tarde, em um pronunciamento a repórteres, falou em guerra novamente, mas em outro tom. “Agimos para parar uma guerra. Não agimos para iniciar uma guerra.”

Segundo ele, “Suleimani estava planejando ataques iminentes e sinistros a diplomatas e militares americanos”.

De acordo com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a ação que matou Suleimani foi posta em prática para interromper um “ataque iminente” que poderia ter ameaçado a segurança de americanos no Oriente Médio.

Um comunicado do Departamento de Defesa afirmou que Suleimani estava “ativamente desenvolvendo planos para atacar diplomatas e outros funcionários americanos no Iraque e na região”.

Do outro lado, o aiatolá Khamenei decretou três dias de luto oficial em todo o país. 

“O martírio é a recompensa por seu trabalho incansável durante todos esses anos”, escreveu no Twitter.

Uma vingança implacável aguarda os criminosos que encheram suas mãos com seu sangue e o de outros mártires.”

O presidente do Irã, Hasan RoWhani, também prometeu vingança “por esse crime horrível dos criminosos Estados Unidos”. Para ele, a morte de Suleimani “redobra a determinação da nação iraniana e de outras nações livres da região de se opor à intimidação dos Estados Unidos e defender os valores islâmicos”.

Os EUA não aumentaram oficialmente seus níveis de alertas internos contra o terrorismo, mas o prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, disse que a cidade estava se preparando para um ataque como nunca antes.

Segundo ele, a ameaça a Nova York aumentou significativamente da noite para o dia, considerando o poder militar de que dispõem os iranianos. “Os nova-iorquinos merecem saber que entramos em uma realidade diferente.”

Outras cidades americanas também tomaram medidas de precaução. Chicago, por exemplo, aumentou a segurança nos aeroportos e disparou avisos pedindo para a população se manter “vigilante”.

Em Los Angeles, a polícia informou que estava monitorando os eventos no Oriente Médio e pediu às pessoas para ficarem alertas.

Horas depois do ataque no Iraque, a embaixada dos EUA em Bagdá pediu aos cidadãos americanos que deixassem o país imediatamente. 

No último dia 24, um funcionário terceirizado do Exército americano foi morto após um ataque contra uma base americana próxima a Kirkuk.  

Washington culpou a milícia Kataib Hizbullah (também apoiada pelo Irã) pela ação e no domingo (29) realizou um ataque aéreo em áreas controladas por essa facção no Iraque e na vizinha Síria. 

A ação gerou revolta contra o país no Iraque e levou manifestantes e milicianos a atacarem a embaixada dos EUA em Bagdá na terça (31) —o cerco terminou no dia seguinte

Em uma rede social, o presidente Donald Trump acusou o Irã de orquestrar a invasão e disse que o país seria responsabilizado.

"O Irã matou um segurança privado [terceirizado] americano e feriu outras pessoas. Respondemos com vigor e sempre iremos responder", disse, em referência à ação do último domingo.

"Agora, o Irã está orquestrando um ataque contra a embaixada dos EUA no Iraque. Eles serão responsabilizados. Esperamos que o Iraque use suas forças de segurança para proteger a embaixada", acrescentou Trump na ocasião.

A presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, afirmou que o ataque arrisca provocar “uma escalada perigosa da violência” e que tanto os EUA quanto o mundo não podem ver as tensões aumentarem. Ela também criticou a administração Trump por ter conduzido o bombardeio sem ter consultado o Congresso.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, demonstrou preocupação com o acirramento das tensões entre Estados Unidos e Irã, que colocou a comunidade internacional em alerta. 

“É um momento em que os líderes devem exercer o máximo de moderação. O mundo não pode permitir outra guerra no Golfo”, disse seu porta-voz. A crise também impactou a cotação do petróleo.

O porta-voz do Parlamento do Iraque, Mohammed al-Halbousi, condenou o ataque americano em seu país. “É uma flagrante violação da soberania e violação de acordos internacionais”, afirmou. 

Para o presidente francês, Emmanuel Macron, que disse ter discutido a situação com o russo Vladimir Putin, o Irã precisa evitar provocações.

A ação que matou o general Qassim Suleimani deixou ao menos outros nove mortos, entre eles Abu Mahdi al-Muhandis, líder de uma milícia iraquiana favorável a Teerã, e o porta-voz do grupo, Mohammed Ridha Jabri.

Os dois carros em que eles estavam foram atingidos por mísseis americanos quando deixavam o aeroporto.

O militar liderava havia mais de 20 anos a força Quds, braço de elite da Guarda Revolucionária do Irã responsável pelo serviço de inteligência e por conduzir operações militares secretas no exterior.

Próximo do aiatolá Khamenei, Suleimani era um dos nomes mais cotados para sucedê-lo no comando do país, segundo o jornal The New York Times —o líder supremo iraniano tem 80 anos. 

Ele estava em Bagdá para participar de encontros com líderes de milícias iraquianas.

Para Washington, Suleimani era o idealizador da estratégia de apoiar milícias no Iraque e na Síria contra as tropas americanas. Por isso, o governo dos EUA culpava o general pela morte de até 700 militares do país nos últimos anos.

Ainda na noite desta sexta-feira, a televisão estatal iraquiana informou que um outro bombardeio aéreo americano atingiu uma milícia numa estrada ao norte de Bagdá. Seis pessoas morreram e três ficaram gravemente feridas, segundo as primeiras informações divulgadas.

 
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