Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vaivém das Commodities

Produtor não acredita em queda da tarifa na importação de arroz

Cereal tem alta de 37% neste mês, e governo ameaça liberar compras externas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os produtores de arroz não acreditam na retirada da TEC (Tarifa Externa Comum) para as importações do cereal de países que não pertençam ao Mercosul. A tarifa é de 10%.

Há um movimento forte da cadeia contra essa liberação, e o assunto deverá ser discutido na próxima semana na Câmara do Arroz.

A afirmação é de Alexandre Velho, presidente da Federarroz (Federação dos Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul). Para ele, os produtores não estão sozinhos nessa batalha. As cooperativas e pequenas e médias indústrias também são contra a liberação.

Uma liberação da taxa beneficiaria apenas as grandes indústrias, que têm capacidade de importar, dificultando ainda mais a vida das pequenas e médias, diz ele.

Fazenda de produção de arroz, em Guaratinguetá (SP)
Fazenda de produção de arroz, em Guaratinguetá (SP) - Divulgação

Para o presidente da entidade, a própria Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) aponta para um abastecimento regular.

Nesta semana, o órgão divulgou que os estoques finais da safra 2019/20 serão os menores das últimas quatro temporadas, mas somarão 534 mil toneladas. Na 2020/21, o volume subirá para 817 mil.

Os preços do arroz dispararam neste mês. A saca do produto em casca foi negociada, nesta sexta-feira (28), a R$ 93, com alta de 34% no mês, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Tiago Barata, diretor-executivo do Sindiarroz (Sindicato da Indústria de Arroz no estado do Rio Grande do Sul), admite que o ano de 2020 está sendo especial e que vai ficar na memória dos operadores do setor.

Há alguns anos, porém, que a cultura está ficando inviabilizada para alguns produtores. Permaneceram na atividade os que têm maior poder de gestão.

Ele destaca dois fatores para a atual elevação: a queda de área nos últimos anos e a consolidação do arroz brasileiro no mercado externo.

Para ele, essa valorização do cereal não é normal, e traz desafios. Obriga a indústria a repassar preços, pesa no bolso do consumidor, o consumo deverá cair e vai incentivar um aumento de área de plantio na próxima safra.

A supervalorização do arroz acaba mascarando os problemas que os produtores tiveram nos últimos anos e terá impacto negativo sobre o setor, segundo ele.

Barata destaca que essa alta já era esperada, mesmo antes da pandemia. Ela vem da junção de uma série de fatores, tais como oferta ajustada, demanda externa boa e preços competitivos em dólar. Além disso, a ocorrência da pandemia elevou a demanda do cereal no mundo todo.

O diretor do Sindiarroz diz que a retirada ou não da TEC não deve ser uma disputa entre produtores e indústrias, mas uma avaliação do governo. A Conab registra estoque de passagem, mas a indústria não está vendo esse produto, afirma ele.

Estimativas da Conab apontam para um aumento de 12% na área de plantio na próxima safra. Com isso, a produção poderia subir para 12 milhões de toneladas, após ter ficado em 11,2 milhões neste ano.

Segundo o presidente da Federarroz, a área atual no Rio Grande do Sul é de apenas 930 mil hectares, 240 mil a menos do que a de há quatro anos.

Ainda segundo dados do órgão governamental, as exportações deverão atingir 1,5 milhão de toneladas neste ano e 1,4 milhão no próximo.

O preço do arroz está elevado e vai pressionar a inflação, mas o governo terá desafios na decisão de retirar ou não a TEC. A retirada cria incertezas no setor, o que reduzirá ainda mais a área plantada.

As consequências virão no próximo ano, com oferta menor do cereal e importações maiores. De novo, o país teria de conviver com preços elevados, o que não beneficia o consumidor e traz novos pesadelos para o agricultor no que se refere a margens.

Se o estoque avaliado pela Conab não chegar ao mercado, contudo, a indústria vai continuar ociosa e repassando preços salgados para os consumidores, devido à pouca matéria-prima que recebe.

A decisão tem de ser muito bem avaliada. Um estudo do Cepea aponta que em dez anos de atividade, os produtores tiveram perdas em oito deles. É um dos setores agrícolas mais endividados.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.