Os produtores de arroz não acreditam na retirada da TEC (Tarifa Externa Comum) para as importações do cereal de países que não pertençam ao Mercosul. A tarifa é de 10%.
Há um movimento forte da cadeia contra essa liberação, e o assunto deverá ser discutido na próxima semana na Câmara do Arroz.
A afirmação é de Alexandre Velho, presidente da Federarroz (Federação dos Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul). Para ele, os produtores não estão sozinhos nessa batalha. As cooperativas e pequenas e médias indústrias também são contra a liberação.
Uma liberação da taxa beneficiaria apenas as grandes indústrias, que têm capacidade de importar, dificultando ainda mais a vida das pequenas e médias, diz ele.
Para o presidente da entidade, a própria Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) aponta para um abastecimento regular.
Nesta semana, o órgão divulgou que os estoques finais da safra 2019/20 serão os menores das últimas quatro temporadas, mas somarão 534 mil toneladas. Na 2020/21, o volume subirá para 817 mil.
Os preços do arroz dispararam neste mês. A saca do produto em casca foi negociada, nesta sexta-feira (28), a R$ 93, com alta de 34% no mês, segundo dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Tiago Barata, diretor-executivo do Sindiarroz (Sindicato da Indústria de Arroz no estado do Rio Grande do Sul), admite que o ano de 2020 está sendo especial e que vai ficar na memória dos operadores do setor.
Há alguns anos, porém, que a cultura está ficando inviabilizada para alguns produtores. Permaneceram na atividade os que têm maior poder de gestão.
Ele destaca dois fatores para a atual elevação: a queda de área nos últimos anos e a consolidação do arroz brasileiro no mercado externo.
Para ele, essa valorização do cereal não é normal, e traz desafios. Obriga a indústria a repassar preços, pesa no bolso do consumidor, o consumo deverá cair e vai incentivar um aumento de área de plantio na próxima safra.
A supervalorização do arroz acaba mascarando os problemas que os produtores tiveram nos últimos anos e terá impacto negativo sobre o setor, segundo ele.
Barata destaca que essa alta já era esperada, mesmo antes da pandemia. Ela vem da junção de uma série de fatores, tais como oferta ajustada, demanda externa boa e preços competitivos em dólar. Além disso, a ocorrência da pandemia elevou a demanda do cereal no mundo todo.
O diretor do Sindiarroz diz que a retirada ou não da TEC não deve ser uma disputa entre produtores e indústrias, mas uma avaliação do governo. A Conab registra estoque de passagem, mas a indústria não está vendo esse produto, afirma ele.
Estimativas da Conab apontam para um aumento de 12% na área de plantio na próxima safra. Com isso, a produção poderia subir para 12 milhões de toneladas, após ter ficado em 11,2 milhões neste ano.
Segundo o presidente da Federarroz, a área atual no Rio Grande do Sul é de apenas 930 mil hectares, 240 mil a menos do que a de há quatro anos.
Ainda segundo dados do órgão governamental, as exportações deverão atingir 1,5 milhão de toneladas neste ano e 1,4 milhão no próximo.
O preço do arroz está elevado e vai pressionar a inflação, mas o governo terá desafios na decisão de retirar ou não a TEC. A retirada cria incertezas no setor, o que reduzirá ainda mais a área plantada.
As consequências virão no próximo ano, com oferta menor do cereal e importações maiores. De novo, o país teria de conviver com preços elevados, o que não beneficia o consumidor e traz novos pesadelos para o agricultor no que se refere a margens.
Se o estoque avaliado pela Conab não chegar ao mercado, contudo, a indústria vai continuar ociosa e repassando preços salgados para os consumidores, devido à pouca matéria-prima que recebe.
A decisão tem de ser muito bem avaliada. Um estudo do Cepea aponta que em dez anos de atividade, os produtores tiveram perdas em oito deles. É um dos setores agrícolas mais endividados.
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