Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Com quebra de safra, receitas de soja participam menos da balança do agro

Abiove projeta redução no volume das exportações do carro-chefe do agronegócio brasileiro

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A soja, o carro-chefe das exportações do agronegócio brasileiro, não terá um cenário tão favorável quanto o previsto inicialmente.

Em janeiro, as receitas com as exportações do complexo soja (grãos, farelo e óleo de soja) eram estimadas em US$ 56,3 bilhões, diz a Abiove (Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais).

Nesta segunda-feira (28), a associação reviu seus números para US$ 51,4 bilhões, devido à quebra na safra de soja e à consequente redução no volume das exportações.

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Maquinário de pulverização agrícola para pesticidas em monocultura de soja na rodovia Chico Xavier (BR-050), que liga o norte de Minas a Goiás, na altura de Brasília (DF). - Ana Bottallo/Folhapress

Inicialmente, eram esperados até 145 milhões de toneladas, mas a safra deste ano deverá ficar em 125,3 milhões, segundo a entidade.

A Conab, órgão do governo, e algumas consultorias privadas, como a AgRural, já estimam a safra nacional em um volume inferior a 123 milhões de toneladas.

Com uma oferta menor de soja, a Abiove refez suas previsões de exportação. Estimadas em 91,1 milhões de toneladas no início de janeiro, as vendas externas deverão recuar para 77,7 milhões neste ano, conforme nova estimativa.

Mesmo com um volume menor de soja exportado, as receitas ainda serão superiores às de 2021, quando o país arrecadou US$ 48 bilhões. Esse aumento ocorre devido aos preços mais elevados neste ano. No ano passado, as exportações ocorreram por US$ 449 por tonelada. Neste ano, deverão ficar em US$ 530, conforme previsões da entidade.

As mudanças nos setores de farelo e de óleo de soja serão pequenas, uma vez que volumes e preços deste ano não terão muitas variações em relação aos do ano passado.

O desempenho do complexo soja inibe a evolução das exportações do agronegócio, que somaram US$ 120 bilhões em 2021. Contudo, elas poderão ser compensadas, em parte, pelas de milho.

A safrinha brasileira promete ser boa, e os preços do cereal estão aquecidos no mercado externo. A Ucrânia, a quarta maior exportadora mundial de milho, terá produção e exportação afetadas pela guerra com a Rússia.

No ano passado, devido à quebra da segunda safra de milho no Brasil, as exportações, previstas inicialmente em 44 milhões de toneladas, ficaram em apenas 20,4 milhões e renderam US$ 4,2 bilhões. Em 2019, foram 43 milhões de toneladas, com receitas de US$ 7,3 bilhões, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

O complexo soja tem sido o motor das exportações do agronegócio brasileiro. Se os dados da Abiove deste ano forem confirmados em US$ 51,4 bilhões, o país atingirá a marca de US$ 355 bilhões em receitas nos últimos dez anos.

Mesmo com a redução da safra nacional, a Abiove mantém a expectativa de moagem de 48 milhões de toneladas de soja internamente neste ano, 0,5% a mais do que em 2021.

Com esse patamar praticamente estável de moagem de soja, a produção e a exportação de farelo e de óleo terão pouca variação em relação a 2021.

O óleo de soja, que compõe pelo menos 70% das matérias-primas utilizadas na produção de biodiesel, terá uma demanda interna menor neste ano devido à redução da mistura desse combustível ao diesel.

Driblando a inflação

O ano passado foi um período muito difícil para os confinadores de gado. Os preços da arroba estiveram em patamar recorde, mas os custos também subiram.

"Foi difícil transformar inflação em ganhos." Assim o pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) Thiago Bernardino de Carvalho avalia o setor em 2021. Apesar dos problemas, o retorno sobre os investimentos teve evolução de 6,65%, uma taxa, no entanto, bem distante dos 23,83% de 2020.

Esses números têm como base um programa de acompanhamento do setor feito pelo Cepea e pela DSM/Tortuga, empresa voltada para suplementação nutricional animal. Para este ano, a rentabilidade do setor deverá ser de 13,37%, com rendimento de 4,1% nos meses em que o gado estiver confinado. Para o pesquisador, os ganhos estão associados ao uso de tecnologia, gestão e, é claro, à continuidade do apetite chinês.

Trigo tropical Um plano da Embrapa e da cadeia produtiva do trigo para elevar em 100 mil hectares o plantio do cereal em região tropical foi aprovado pelo Ministério da Agricultura. Os recursos serão de US$ 2,9 milhões para serem aplicados em três anos.

Trigo tropical 2 A Embrapa participa com transferência de tecnologia para produtores e caracterização dos municípios que serão incluídos na produção. Além disso, a empresa se dedicará ao combate da brusone, a principal doença da cultura do cereal na região.

Sementes Uma das tarefas do grupo é organizar a produção de sementes, instalando novos campos de multiplicação. Será necessário também um refinamento metodológico para uma definição mais apurada do zoneamento agrícola, a fim de evitar riscos na produção.

Pãozinho A alta do trigo, devido à guerra da Rússia e da Ucrânia, chegou à farinha e a seus derivados. Os dados da Fipe, referentes aos últimos 30 dias, indicam aumento de 2,1% no preço do pão; de 2,7% no do macarrão; e de 2,2% no da farinha.

Erramos: o texto foi alterado

A foto anterior destacada nesta reportagem era de uma plantação de milho, e não de soja. A imagem foi alterada.

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