Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Cooperativas faturam e empregam mais, e presença feminina ganha espaço

As mulheres são 49% dos cooperados e ocupam 20% dos cargos de liderança, segundo o Sistema OCB

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As cooperativas brasileiras sobreviveram, e bem, durante o ano passado, um período marcado pela pandemia e pelo isolamento social.

O mercado de trabalho cresceu, atingindo 493,3 mil empregados, com evolução anual de 8,4%. No acumulado de dois anos, as cooperativas incorporaram 15,4% a mais de trabalhadores.

Os ingressos, termo usado pelo sistema para determinar o faturamento, subiram para R$ 525 bilhões, 26% a mais do que em 2020. Em dois anos, o crescimento foi de 70%.

Assentamento de agricultura familiar da Cootap (Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da região de Porto Alegre), em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul - Arquivo Pessoal

Boa parte desses recursos voltou para os cooperados. No ano passado a distribuição das sobras do exercício somou R$ 36,7 bilhões, 60% a mais do que em 2020 e 148% no acumulado de dois anos. Parte desse dinheiro vai para o produtor e parte é investida.

"Esse crescimento, mesmo em época de crise, se deve à resiliência histórica das cooperativas e ao trabalho de maneira assertiva do sistema cooperativo para enfrentar os problemas."

A afirmação é de Tânia Zanella, superintendente do Sistema OCB (Organização das Cooperativas do Brasil). Ela destaca o poder de irrigação desses recursos para a economia. As cooperativas agropecuárias, por exemplo, são formadas por 71,2% de pequenos produtores, a chamada agricultura familiar.

Apenas um terço dos produtores têm assistência técnica no país, e 80% deles são assistidos pelo sistema cooperativista, afirma.

Atuando em sete setores —agropecuário, crédito, consumo, infraestrutura, saúde, transporte e em trabalho, produção de bens e serviços—, as 4.880 cooperativas do país somam 18,8 milhões de cooperados, 9% a mais do que em 2020.

Algumas atividades dentro do cooperativismo, como serviços e transportes, tiveram problemas inicialmente, mas outras, como agropecuária crédito e saúde, mantiveram o ritmo, segundo Zanella.

A superintendente atribui essa evolução ao aspecto confiança, proximidade dos produtores com a cooperativa e transparência. Pelo menos 53% da produção agropecuária passa por cooperativas.

A confiança vem também da longevidade das instituições. Enquanto boa parte das cooperativas atuam há décadas, em alguns casos já centenárias, o setor atrai cada vez mais novos participantes.

Em 2021, 13% das cooperativas tinham no máximo cinco anos de atividade. As que superam 20 anos somam 52%.

Uma das novidades é a grande participação das mulheres. No ano passado, 49% da força de trabalho das cooperativas eram mulheres, um percentual bem acima dos 39% de 2020.

A presença feminina aumenta no número de associados, de emprego e de cargos de liderança, que incluem desde participação em conselho à presidência. No ano passado, 20% desses cargos eram ocupados por mulheres, diz Zanella.

Esses números constam do Anuário Brasileiro do Cooperativismo 2022, que será divulgado nesta sexta-feira (29) pelo Sistema OCB.

O setor agropecuário reúne o maior número de cooperativas do país. São 1.170, que têm 1 milhão de cooperados e empregam 240 mil trabalhadores, o maior número entre as demais atividades ligadas ao cooperativismo.

O maior contingente de cooperados, no entanto, está no setor de crédito, que incorpora 13,9 milhões de participantes. O setor tem também o maior ativo, com R$ 519 bilhões, seguido do agropecuário, que atinge R$ 230 bilhões.

Olhando para a frente, a superintendente vê vários setores com grande potencial para o cooperativismo. A agropecuária, no entanto, será precursora. Ela puxa transporte, serviços, infraestrutura e crédito.

Para Zanella, o cooperativismo tem de ser oportunidades para o que está por vir e ele se adapta à economia, à saúde e até a outubro, em referência às eleições.

A pandemia e as mudanças ocorridas nas relações comerciais nos últimos dois anos trouxeram oportunidades e desafios.

No setor agropecuário, o desafio foi manter o setor funcionando em plena pandemia e garantir o abastecimento doméstico e externo.

O próximo passo é buscar uma diversificação da atividade, agregar mais valor e garantir uma inserção maior do setor no mercado externo.

A produção deverá ser feita com rastreabilidade e sustentabilidade, e isso deve ocorrer em um período de custos e inflação mais elevados.

No setor de crédito, as cooperativas são uma importante ferramenta para o desenvolvimento e inclusão financeira no país. Inflação elevada, retração econômica e corrosão da capacidade de pagamento dos cidadãos são novos desafios para as cooperativas, segundo o anuário da OCB.

As cooperativas de consumo sofreram na pandemia, principalmente em turismo, mas as mudanças trazem oportunidades para o setor de compras coletivas, tanto na área de pessoas físicas como na de jurídicas.

No setor de saúde, a pandemia testou ao máximo o sistema, que passou por fusões e aquisições. As parcerias entre os setores privado e público deverão ser intensificadas e trazem mais oportunidades.

No setor de trabalho, a pandemia mudou a relação de emprego, e as cooperativas abrem portas para a inserção de profissionais nesse mercado.

Na infraestrutura, o cooperativismo vai auxiliar na conectividade, autogestão energética e na geração de energias renováveis.

As mudanças no transporte também são oportunidades para o cooperativismo, tanto na área de passageiros como na de cargas. Há uma aceleração da digitalização, segundo informações do anuário.

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