Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Cooperativas se industrializam e se tornam potências agrícolas

Associações Paraná terminam o primeiro semestre com receitas recordes de R$ 90 bilhões

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A fase em que as cooperativas apenas capacitavam o produtor a produzir mais e comercializar seus produtos passou. Cada vez mais ocupando espaço no agronegócio, elas viraram potências agrícolas.

As cooperativas do Paraná, um dos principais estados no cenário agrícola brasileiro, terminaram o primeiro semestre com receitas recordes de R$ 90 bilhões, 25% a mais do que em igual período do ano passado.

O desempenho delas no estado é tão bom que o plano de atingir R$ 200 bilhões de faturamento por ano pode ser conquistado antes do previsto.

Plantação de trigo ainda verde
Plantação de trigo em Sertaneja, no norte do Paraná - Mauro Zafalon-3.jul.2016/Folhapress

A estimativa para este ano é de um faturamento de R$ 180 bilhões. Em um cenário otimista, no entanto, o resultado financeiro do setor poderá atingir R$ 200 bilhões em apenas dois anos. Em um cenário mais conservador, essa meta viria em quatro anos.

O resultado é possível porque o sistema paranaense de cooperativas já possui 120 unidades agroindustriais, e pelo menos metade das receitas é gerada por essas agroindústrias. Boa parte vem ainda das exportações, que somaram US$ 3,6 bilhões de janeiro a junho.

O objetivo agora é identificar a demanda e atuar dentro das necessidades do mercado, afirma José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar, do Paraná.

As cooperativas buscam projetos viáveis e visam uma organização econômica das pessoas. Um produtor com apenas dez alqueires de terra consegue viabilizar atividades relacionadas à produção de grãos, avicultura, suinocultura, leite e peixes, afirma Ricken.

Essa diversidade permite ao produtor reduzir os riscos que eventualmente possam ocorrer em uma de suas atividades, segundo ele.

Para o presidente da Ocepar, a profissionalização no setor permite hoje que uma cooperativa consiga competir com qualquer outra grande empresa do país. Já uma grande empresa tem dificuldades para competir com as cooperativas.

Passou a fase da busca de apenas elevar produtividade, obter um volume maior de produtos e oferecê-los ao mercado, afirma Ricken.

As cooperativas passaram a ocupar mais espaço e buscam mais segmentos, desde que haja demanda. E a grande vantagem disso é que todas essas receitas giram dentro da própria região. Neste ano, a sobra de caixa a ser distribuída aos produtores deverá atingir R$ 8,5 bilhões.

As cooperativas que industrializam seus produtos conseguem uma rentabilidade líquida de até 5%. As demais ficam na margem de 2%.

Ricken, que participou da Digital Agro da Frísia, uma feira que busca inovações para o setor, realizada em Curitiba (PR), diz que a agricultura ainda tem muito por fazer nesse campo. Quem não se atualizar, no entanto, terá dificuldades cada vez maiores.

A não adesão à tecnologia afetará principalmente o produtor isolado. Ele fica refém do mercado, diz o presidente da entidade. "Não basta produzir. Essa produção tem de chegar à mesa do consumidor, o que é mais fácil por meio de cooperativas ou de produtores organizados."

As cooperativas, que começaram no leite e no trigo, passaram pelo café e chegaram aos grãos e às proteínas, estão buscando novas áreas em regiões de fronteiras.

A Frísia, de Campos Gerais (PR), cooperativa prestes a completar cem anos, optou por uma expansão no Tocantins. "Precisamos crescer mais horizontalmente, para fixar as novas gerações em outras regiões", diz Renato Greidanus, diretor-presidente da entidade.

Após uma busca iniciada por áreas com logística, solo e clima bons, a cooperativa optou pelo Tocantins. Sair da zona de conforto das terras paranaenses para essas novas áreas é um desafio, afirma Greidanus. Mas, assim como o produtor venceu os desafios encontrados no Paraná nas décadas de 1960 e de 1970, vai se adaptar ainda mais rapidamente a essas novas regiões.

O avanço é tímido neste início, segundo ele, mas as conquistas e o exemplo dos cooperados deverão incentivar novos produtores da região a aderir ao sistema.

Sendo que oportunidades e desafios andam juntos, a Frísia deverá passar da captação de grãos para a industrialização de seus produtos em uma segunda fase, afirma o diretor-presidente.

Entre 2021 e 2026, as cooperativas paranaenses investirão R$ 30,3 bilhões. Neste ano, serão R$ 6,2 bilhões. O setor de armazenagem e de recebimento da safra terá R$ 4,9 bilhões; a indústria de cevada e a suinocultura terão investimentos próximos de R$ 1 bilhão cada uma.

As cooperativas do Paraná, com os novos projetos em andamento, deverão deter 65% da produção de suínos do estado. A participação em aves vai a 50%; a em soja, a 70%; a em milho, a 62%; a em trigo, para 55%.

Além do crescimento individual, as cooperativas buscam alianças entre si. São pelo menos dez áreas com esse potencial. Entre elas, financiamento e capitalização, cooperação nos negócios, mercado internacional e sustentabilidade.

O Sistema Ocepar inclui os setores de agronegócio, infraestrutura, crédito, transporte, consumo, saúde e trabalho.

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