Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Preço dos agrícolas começa a cair, mas consumidor ainda não tem alívio

Alimentos terminaram o primeiro semestre deste ano com alta média de 23%

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Os preços mundiais dos alimentos tiveram retração nos últimos três meses, segundo a FAO. Esse movimento, porém, ainda não indica alívios aos consumidores, castigados por uma onda mundial de inflação.

Mesmo com a queda, os alimentos terminaram o primeiro semestre deste ano com alta média de 23%, em relação ao patamar de junho do ano passado. Em alguns casos, como o do trigo, o desequilíbrio entre oferta e demanda fez o produto subir 48%.

Plantação de trigo na Rússia - AFP

O momento é de volatilidade dos preços, uma vez que não houve alterações estruturais de cenários, segundo analistas do Itaú BBA. Para a maioria das commodities, já havia uma perspectiva de arrefecimento, devido à maior produção prevista para 2022/23. As exceções ficam para trigo e para milho.

Uma queda de preços das commodities, em um período em que os custos vêm registrando forte aceleração, preocupa os produtores. Para analistas do Rabobank, no entanto, as perspectivas ainda são de boas margens. O produtor terá de fazer, porém, um bom gerenciamento de seus custos e das suas vendas.

Os novos preços dos fertilizantes carregaram um custo de 50% a 70% para os produtores de soja. Já os dos defensivos agrícolas aumentaram 25% sobre os da safra anterior.

Os custos operacionais para os produtores de soja, o principal produto das lavouras brasileiras, deverão superar em 50% os da safra 2021/22.

Um dos grandes temores era o fornecimento de fertilizantes, mas as compras do primeiro semestre já superam em 14% as de igual período de 2021, segundo o Itaú BBA. Com as compras já efetuadas no primeiro semestre, mais os estoques de passagem, o país necessita de importações de mais 20,5 milhões de toneladas neste segundo semestre para atingir o volume de fertilizante entregue em 2021.

Essa meta de importação foi possível devido à presença maior do Canadá no mercado brasileiro. Segundo o banco, os canadenses forneceram 9% do fertilizante importado pelo Brasil de janeiro a junho de 2021. Neste ano, foram 13%. A Rússia perdeu participação.

Os preços das commodities vão depender também do comportamento da economia mundial. Se houver uma recessão, os alimentos não passarão incólumes, mas serão menos afetados do que outros produtos, segundo os analistas do Itaú BBA.

Internamente, o produtor mantém a confiança nos preços e na rentabilidade. Para o Rabobank, a área de soja deverá aumentar 4,5% na safra 2022/23, em relação à anterior, que, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), ficou em 41 milhões de hectares.

Acostumados sempre com números recordes, os produtores tiveram um recuo de 12 milhões de toneladas na produção deste ano, para 126 milhões, e as exportações deverão cair 10 milhões, para 77 milhões. A moagem interna, porém, será recorde, atingindo 48,8 milhões de toneladas, segundo o Rabobank.

Para o milho, o banco prevê preços menos aquecidos do que os que antecederam a safrinha. A produção da segunda safra permitirá uma recomposição dos estoques locais.

A retomada da exportação brasileira, que deverá atingir 42 milhões de toneladas nesta safra, deixará os estoques finais mais pressionados. A demanda aquecida vai interferir nos estoques finais e nos preços do cereal.

O setor de carne bovina caminha para um novo recorde, devido à demanda da China, dos Estados Unidos, do Egito e dos Emirados Árabes. Os embarques brasileiros deverão aumentar em 10%, de acordo com o Rabobank.

Para a FAO, o setor de proteínas mantém preços recordes devido à demanda e à redução de oferta em alguns dos produtores importantes, afetados por problemas geopolíticos ou por doenças, como a gripe aviária. Na média, o preço das carnes está 13% superior ao de há um ano.

Alguns produtos, como o algodão, têm um cenário desafiador, segundo o Rabobank. Dependem da renda da população, que está sendo afetada pela inflação, juros altos e ritmo menor da economia.

Desafiador também é o cenário para os produtores de leite, que têm custos elevados e dependem de uma evolução da economia para aumentar as vendas.

Segundo a FAO, este é um setor que tem oferta reduzida e preços em ascensão. Nos últimos 12 meses, a alta média mundial dos preços foi de 30%.

Em São Paulo, o leite teve alta de 37% nos últimos 12 meses para o consumidor, conforme dados desta segunda-feira (11) da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Apesar dos custos elevados, os produtores ainda têm espaço para margens de ganho, em vista dos preços das commodities. Em um ano de desafios como este, no entanto, a atenção deverá ser redobrada, de acordo com os analistas dos dois bancos.

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