Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Queda de preços no campo já chega à inflação

Após altas aceleradas, aumenta número de alimentos com retração de preços

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A queda dos preços dos alimentos no campo chega à inflação e à mesa do consumidor. Alguns produtos, no entanto, como o leite, continuam pressionando o índice dos alimentos.

No primeiro trimestre deste ano, o IPPA (Índice de Preços ao Produtor de Grupos de Produtos) do Cepea, um índice que reflete a evolução dos preços no campo, mostrou recuo de 8%, em relação a igual período de 2022. Essa queda ocorre também no mercado internacional, segundo a FAO, que relata retração de 11%.

Clima favorável e área e produtividade maiores estão gerando uma safra recorde de grãos neste ano no país. Além disso, a demanda ainda não se recuperou, o que também auxilia na retração dos preços.

A soja, com produção recorde próxima de 155 milhões de toneladas nesta safra, está com os menores preços mensais desde 2020. O recuo da oleaginosa no campo trouxe retrações de preços no óleo de soja para o consumidor.

O índice de inflação da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) de abril indica uma retração de 9,7% no acumulado do ano neste produto. O recuo, porém, ainda é pequeno, uma vez que os preços do óleo de soja acumularam elevação de 164% para os consumidores paulistanos de 2019 a 2022.

óleo de soja
Óleo de soja em prateleira de supermercado - Getty Images via BBC News Brasil

O milho, que também tem o menor patamar de preços desde 2020 no campo, é mais um fator de alívio para a inflação. A farinha de milho e o fubá, que dobraram de valores nos últimos quatro anos, acumulam quedas de 6,5% e 4%, respectivamente, neste ano.

A queda nos preços do milho reduziu também os custos no setor de proteínas, permitindo uma retração nos preços das carnes. Após uma alta de 78% de 2019 a 2022, o frango tem queda acumulada de 9% neste ano. A carne suína, embora em ritmo menor, também está em queda no varejo, perdendo 2% de seu valor no ano.

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Granja de frango caipira em Franca (SP) - Igor do Vale/Folhapress

A carne bovina, que teve sucessivos aumentos nos últimos anos, está em queda. Nos cálculos da Fipe, a desaceleração média dos preços é de 4% de janeiro a abril. Oferta maior de gado no mercado interno e perda de valor no externo permitem a queda.

A retração do trigo no campo permite uma reacomodação dos preços do pãozinho para o consumidor. Com a invasão da Ucrânia pela Rússia, o pão francês havia subido 19% no ano passado. Em abril, os preços pararam de subir no supermercado e o acumulado do ano está em 1,56%, conforme dados divulgados pela Fipe nesta quinta-feira (4).

A pressão dos preços no café da manhã é menor também por conta do café. Após a aceleração dos preços em 2021 e 2022, devido a geadas nas lavouras, o café em pó acumula queda de 4% em 2023 para o consumidor, segundo a Fipe.

Mesmo com a queda de preços de vários produtos agropecuários, o ritmo de altas do leite, do feijão e do tomate provoca uma aceleração da taxa de inflação dos alimentos. Em abril, os alimentos subiram 0,86%, acima do 0,59% de março. Apenas esses três itens foram responsáveis por 38% da variação média da inflação de 0,43% do mês passado.

Uma das principais pressões da inflação neste ano vem do leite. No mês passado, a alta do leite tipo longa vida foi de 7% em São Paulo, acumulando 14% no ano. Captação menor desde o ano passado, devido ao clima, e uma disputa mais acirrada das indústrias pelo produto elevaram os preços.

O consumidor vai continuar pagando mais caro pelo leite, uma vez que a oferta deverá continuar limitada com a chegada da entressafra. Demanda fraca pelo produto e aumento das importações, porém, devem reduzir a pressão. No primeiro trimestre, o Brasil importou 523 milhões de litros equivalentes de leite, três vezes mais do que em igual período do ano passado, segundo o Cepea.

O custo dos alimentos é um dos principias componentes de peso na inflação. Conforme os dados da Fipe, de cada R$ 100 gastos pelos consumidores, R$ 24,5 são com alimentos. O maior peso vem de habitação, que atinge R$ 31,1. Em abril, os alimentos foram responsáveis por 49% da taxa de inflação do mês.

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