Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vaivém das Commodities

Alimento pode ter maior queda mensal de preços em 24 anos

Redução, no entanto, ainda não compensa encarecimento acumulado desde 2019

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Os alimentos iniciaram agosto com queda de 1,4%. Se essa taxa for mantida durante todo o mês, será a maior redução inflacionária mensal do setor desde maio de 1999.

Os dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), que divulgou nesta quarta-feira (9) a primeira quadrissemana de agosto. O período compara os preços médios das últimas quatro semanas em relação às quatro imediatamente anteriores.

Se a curto prazo é uma boa notícia, essa queda ainda está longe de aliviar o bolso dos consumidores, principalmente para os de menor renda. A alta acumulada de 2019 a 2022 foi muito acelerada.

A inflação dos alimentos está com evolução de apenas 0,23% neste ano, com acumulado de 1,84% em 12 meses. Essa forte queda no ritmo dos aumentos de preços, porém, ainda tem pouca expressão quando se olha o comportamento dos preços dos alimentos nos últimos anos.

Desde o início de 2019, quando alguns produtos começaram a disparar, a inflação média dos alimentos permanece em 57%, ainda acima da inflação geral, que é de 32%, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor da Fipe.

A aceleração da inflação nos últimos quatro anos ocorreu devido à forte demanda externa por alimentos e à capacidade brasileira de suprir o mercado externo. Com estoques mundiais reduzidos por efeitos climáticos e por conflitos geopolíticos, como a invasão da Ucrânia pela Rússia, os preços internacionais dispararam, trazendo para dentro do país essa pressão.

Bananas em feira livre em São Paulo - Nelson Almeida - 7.jun.23/AFP

O óleo de soja, ingrediente básico na cozinha da maioria dos brasileiros, é um exemplo. O país teve exportações recordes de soja, e os preços internos da oleaginosa, em alguns momentos de 2022, chegaram a R$ 200 por saca no Paraná, um valor bem acima dos R$ 83 de 2018.

A demanda mundial por óleo de soja cresceu, inclusive pelas dificuldades de a Ucrânia produzir e exportar óleo de girassol, e os preços internacionais evoluíram rapidamente.

Internamente, os consumidores pagaram 164% a mais pelo produto nos supermercados de 2019 a 2022. Neste ano, o óleo acumula queda de 29%, um percentual que não repõe a alta acumulada dos quatro anos anteriores.

A forte pressão externa diminuiu, e os preços das commodities nos campos brasileiros também recuam. Os patamares atuais, no entanto, ainda são bastante superiores aos de há quatro anos, inibindo novas quedas.

óleo de soja
Óleo de soja em supermercado - Getty Images via BBC

O consumidor está pagando neste ano 9% a menos pela carne bovina do que despendia em dezembro de 2022. Nos quatro anos anteriores, no entanto, os preços haviam subido 67%. O Brasil atingiu recordes de exportações, e o preço da arroba de boi gordo, que estava em R$ 146 em meados de 2018, chegou a R$ 350 em março do ano passado. Mesmo com a queda, os valores atuais da arroba estão em R$ 238 no campo.

As carnes suína e de frango seguiram na mesa linha da bovina. A demanda externa por essas proteínas aumentou, vinda principalmente da China, país afetado por doenças na criação de animais, como a peste suína e a gripe aviária. Os preços subiram no Brasil e, na média, se mantêm elevados, mesmo após os recuos deste ano.

A carne de frango ainda acumula alta de 51% nos últimos quatro anos e meio no mercado interno, e a suína, 61%. Os alimentos básicos, como arroz e feijão, também estão na lista de produtos que, mesmo com a acomodação atual dos preços, permanecem caros.

O arroz, além de perder espaço na área cultivada, teve o mercado interno enxugado por exportações, devido ao dólar alto e aos preços externos atraentes.

Quilombola com sementes de arroz no vale do Ribeira, em São Paulo - Claudio Tavares/ISA

O feijão, apesar de não ter a concorrência externa, também perdeu espaço para soja e milho. Com isso, os preços atuais para o consumidor ainda são 92% superiores aos do final de 2018.

Em alguns casos, como o do trigo, mesmo com a disparada de preços externos, a produção recorde inibe um pouco as altas. Com o conflito entre russos e ucranianos, a tonelada de trigo chegou a R$ 2.200 no mercado interno.

A produção recorde de 10,5 milhões de toneladas fez a cotação recuar para R$ 1.300 neste mês. Mesmo assim, o pãozinho, devido à alta de 2022, custa 42% a mais para os consumidores do que em 2018.

Este ano foi um período de safra recorde no Brasil, e o mesmo se espera para 2024, o que ajuda na queda dos preços no campo. A queda no varejo, no entanto, ocorre mais lentamente.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.