Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities

Se Milei cumprir promessas, terá de ganhar uma estátua do agro brasileiro

Novo presidente promete endurecer com parceiros comerciais como China e Brasil

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Se Javier Milei, o presidente eleito da Argentina, cumprir suas promessas de campanha, o agronegócio terá de construir uma estátua para ele em Sorriso (MT), a maior produtora de grãos do país.

O Brasil terá um concorrente a menos nos principais mercados mundiais e aumentará a participação nas exportações de grãos e de carnes.

Milei ameaça esfriar as relações com China e Brasil, dois dos importantes parceiros que a Argentina tem. Até setembro, os argentinos exportaram US$ 2,4 bilhões em produtos agropecuários para o Brasil, e importaram o correspondente a US$ 2,5 bilhões.

Agricultores argentinos em campo de soja - Guillermo Rodriguez Adami/Folhapress

Essa história é conhecida por aqui. Jair Bolsonaro (PL), que assumiu a Presidência do Brasil em 2019 sem experiência em agronegócio, gritava a todos os cantos contra a China e a favor de Israel e dos Estados Unidos.

Após chamar a atenção dos chineses com tantas críticas e despertar desconfiança nos árabes com a história da mudança da embaixada brasileira em Israel, Bolsonaro se calou sobre esses assuntos.

O trabalho da Tereza Cristina, ministra de Agricultura do governo no período, e de lideranças do setor fez com com que a racionalidade econômica suplantasse a irracionalidade política.

O desconhecimento sobre o agronegócio era tanto que chegaram a propor, nas mídias sociais, que o Brasil interrompesse as exportações de soja para a China e enviasse o produto apenas para os Estados Unidos.

Milei, assim como Bolsonaro, vai ser colocado a par dos números. A Argentina está entre os principais produtores mundiais de grãos, e a China o destino da maior parte das exportações do país vizinho.

O novo presidente argentino vai encontrar um 2024 melhor do que o 2023 no campo, o que vai elevar as exportações e melhorar as finanças do país. Para isso, vai precisar de mercado para exportar.

Este ano foi um período muito ruim para a Argentina. Além da quebra de safra, devido a efeitos climáticos, os preços das commodities estiveram em queda no mercado internacional.

A safra de soja, que vinha crescendo e atingiu 55 milhões de toneladas em 2018/19, recuou para apenas 21 milhões neste ano. A produção de trigo caiu para 12,4 milhões de toneladas em 2022/23, bem abaixo dos 22,4 milhões do período anterior. Já a safra de milho recuou para 34 milhões de toneladas, 35% a menos.

Desde que o clima não interfira novamente, o retorno a um patamar normal de produção nesta safra 2023/24 ajudará no recuo da inflação do país. A queda nos preços poderá ocorrer tanto para os alimentos como para a matéria-prima que será destinada à alimentação dos animais.

A demanda maior por alimentos, no entanto, vai depender de uma recomposição do mercado de trabalho e da renda no país.

China e Brasil são importantes na composição da balança comercial do agronegócio da Argentina. A China fica com 77% do volume de carne bovina vendida pela Argentina e é responsável por 59% das receitas obtidas pelo país vizinho com essa proteína. O Brasil, embora não tenha grande participação no volume, está entre os que melhor pagam pela carne argentina.

Antes de a China ter maior presença no mercado de carne bovina do país vizinho, as exportações argentinas mensais somavam, em média, 20 mil toneladas. Com as importações chinesas, a média atual é de 79 mil toneladas por mês.

O mercado chinês é muito importante também para a soja. No ano passado, os argentinos exportaram 5,51 milhões de toneladas da oleaginosa, sendo que 89% desse volume teve como destino os portos da China. A dependência argentina do mercado chinês de soja em grão é menor do que a do Brasil, uma vez que as exportações de óleo e de farelo têm maior importância para indústria do país vizinho.

Porco em criação na província chinesa de Hebei - Dominique Patton/Reuters

No ano passado, um período em que a produção argentina foi mais regular do que neste, as exportações de cereais renderam US$ 15,5 bilhões; as de farelo de soja e de outros produtos para a alimentação animal, US$ 13,2 bilhões; as de óleos de soja e gorduras, US$ 9,2 bilhões, e as de carnes, US$ 4,1 bilhões.

As relações dos argentinos com os americanos não geram grandes perspectivas para o setor do agronegócio. Os Estados Unidos concorrem com a Argentina nas exportações de soja, de milho, de trigo e de carnes.

Grandes importadores de carne bovina, os americanos têm elevado mais as compras no mercado brasileiro do que no argentino.

Seguramente, como aconteceu no Brasil, o setor não deixará o governo destruir as pontes do comércio externo. Se isso ocorrer, todo o mal feito pelas políticas agrícolas adotadas nos governos anteriores terá novos contornos.

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