Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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A difícil missão da pesquisa em hortaliças em tempos de crise climática

Sakata, há 55 anos no Brasil, diz que a própria natureza oferece produtos de resistência

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As mudanças climáticas vieram para ficar. A temperatura que o planeta já atingiu deve permanecer e, sem maior controle, vai continuar subindo, causando todos esses transtornos que o mundo vive atualmente.

Esse é o olhar atento de Paulo Koch, diretor de marketing da Sakata Seed Sudamerica, uma empresa que desenvolve genética para plantas tão sensíveis e suscetíveis a essas mudanças como hortaliças e flores.

O novo cenário de estresse hídrico, de altas temperaturas e de chuvas irregulares mexe com toda a fisiologia da planta, obrigando a pesquisa a correr atrás de novas variedades, principalmente para uma região tropical como a brasileira.

Plantação de tomate em estufa em fazenda experimental da empresa Sakata, em Bragança Paulista (SP)
Plantação de tomate em estufa em fazenda experimental da empresa Sakata, em Bragança Paulista (SP) - Mauro Zafalon - 30.nov.2023/Folhapress

O grupo Sakata, com origem no Japão há 110 anos, não utiliza a transgenia. Essas novas mudanças climáticas obrigam os pesquisadores a buscar ainda mais as soluções que vêm da própria natureza.

"Usamos o próprio ambiente, uma vez que a natureza faz a seleção dos produtos que vão se adequando às mudanças. Nós aceleramos o processo de adaptação a altas temperaturas e chuvas fortes", afirma Koch.

A empresa busca a adaptação da cultura de hortaliças e flores ao clima tropical brasileiro há pelo menos 55 anos, desde que veio ao Brasil. A mudança, no entanto, é constante. As condições do clima tropical de há 20 anos não são mais as mesmas das de hoje, afirma o diretor.

Um desafio para as empresas também é como adequar as novas variedades à redução do uso de agrotóxicos, uma vez que o clima tropical é bastante favorável ao surgimento de pragas e de doenças.

"Vamos buscar a seleção genética na natureza, encontrando plantas resistentes a doenças e a pragas e, a partir daí, fazemos uma seleção natural. Não trabalhamos com transgênicos, fazemos um melhoramento natural."

Segundo o diretor, a empresa está colocando 15 novos variedades no mercado neste ano. Um dos destaques é um pimentão resistente a fungos, o que permite uma redução de 15 para apenas duas pulverizações no processo produtivo.

Koch destaca que, além do uso de agroquímicos, os produtores vêm aumentando muito a utilização de biofungicidas. Todas as grandes fornecedoras de agroquímicos estão de olho nesse setor do mercado.

Um dos destaques da Sakata é um pimentão resistente a fungos, o que permite uma redução de 15 para apenas duas pulverizações no processo produtivo
Um dos destaques da Sakata é um pimentão resistente a fungos, o que permite uma redução de 15 para apenas duas pulverizações no processo produtivo - Mauro Zafalon - 30.nov.2023/Folhapress

Do lado do produtor, menor custo na produção. Do lado do consumidor, mais saúde, diz. O processo produtivo das hortaliças vem passando por grandes mudanças. Uma delas é a tecnologia do enxerto.

Na parte de baixo se utiliza uma planta rústica, resistente a doenças e pragas de solo. Na parte superior, se adapta uma planta mais domesticada, com produção melhor e mais segura.

A proteção da planta contra as mudanças climáticas pode vir também de parte invisível da produção, como as raízes. No estresse hídrico, a planta necessita de um sistema radicular bastante complexo, para captar mais a água que necessita.

No excesso de chuvas, esse sistema também é importante para que a água não faça a planta morrer. "Trabalhamos forte com o que não vemos", diz ele.

Koch afirma que essas alterações climáticas estão levando cada vez mais o produtor para um cultivo protegido com estufas, sombrites, hidroponia. Se constrói um ambiente menos agressivo para as plantas do que o que está em campo aberto.

Mas as preocupações das empresas de genética não param apenas na busca de plantas mais adaptadas às novas condições climáticas. Elas têm de ficar atentas ao produtor, ao distribuidor e ao consumidor final. São os pilares que movem a Sakata, afirma o diretor.

A preocupação da empresa de genética é desenvolver um produto para o consumidor que tenha constância nas características e qualidade. O produto precisa ser apresentável e bom.

Para Koch, o consumidor tem de ter prazer ao comer as hortaliças e não apenas porque fazem bem à saúde. A necessidade da defesa das plantas contra excesso de chuva e de sol foi moldando as novas variedades. De tenras, frágeis e suscetíveis a doenças, as hortaliças ganharam um "emborrachamento" que as protege.

É um processo longo e demorado, mas bom para toda a cadeia. As plantas são mais resistentes no processo produtivo, foi reduzido o uso de defensivos, elas suportam mais o transporte e chegam mais atraentes e com qualidade ao consumidor, afirma.

O mercado brasileiro, no entanto, ainda está distante de uma padronização de produtos, diz Koch. Essa ausência faz com que perpetue de pais para filhos o hábito de apalpar os alimentos na hora da compra, uma ação já descartada em mercados onde há uma padronização.

O caminho das hortaliças é longo, mas tudo tem de estar interligado. A eficiência tem de começar com a produção e colheita no campo, passar pelo transporte, pelo varejo e chegar à casa do consumidor com qualidade e maior durabilidade na geladeira. Essa é uma preocupação que vem desde o início das pesquisas da Sakata, afirma.

A pandemia foi um período difícil para a sociedade, mas a solidão dos lares incrementou o hábito do cultivo de flores, um segmento que também sofre com o aumento de temperatura.

A Sakata está colocando no mercado flores que, além de embelezar as casas, são comestíveis, servem para drinks e para alimentação de pets. Uma begônia da empresa ganhou uma "cera natural" nas folhas que retém a água por mais tempo e é mais resistente ao clima.

Na fazenda experimental de Bragança Paulista (SP), de 27 de novembro a 1º de dezembro a Sakata expôs 100 variedades de hortaliças de 25 espécies. Entre elas, abobrinha, alface, repolho, tomate pimentão e flores, atraindo produtores brasileiros e de vários países da América do Sul.

Pamela, Marielle, Lorena, Helena, Angélica, Da Vinci e Patroni estavam entre as dezenas de nomes homenageados entre as variedades.

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