Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu Agrofolha China Argentina

A safra é desafiadora, mas preços não têm muito espaço para alta

Clima afeta produção brasileira de grãos, mas há boas perspectivas em outros países

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A safra deste ano será desafiadora. O cenário que virá do campo afetará o bolso do consumidor, mas, ao contrário dos anos anteriores, se as perspectivas para o Brasil não são favoráveis, as de outros grandes produtores são.

Os preços dos alimentos vão depender, além da produtividade nos principias produtores mundiais, da economia mundial, das taxas de juros, do dólar e, principalmente, do apetite chinês.

Impulsionadora do mercado mundial de soja há vários anos, a China entrou firme na compra de proteínas, milho, trigo e até arroz nos anos recentes. Isso não é garantia de elevação de preços porque eles trabalham muito com os estoques que possuem.

Internamente, as incertezas estão exatamente nos dois produtos que movimentam a economia do agronegócio brasileiro: soja e milho.

Caminhão é carregado com grãos de milho em fazenda próxima a Brasília - Adriano Machado - 22.ago.2023/Reuters

O carro-chefe da produção nacional da oleaginosa, Mato Grosso, já prevê uma quebra de produtividade de 20%. Já o Paraná e Rio Grande do Sul, compensam quebras ocorridas em anos anteriores.

Maior produtor e exportador mundial de soja, uma redução de safra no Brasil poderá fazer com que a produção mundial não atinja os 400 milhões de toneladas previstos.

A Argentina, no entanto, sai dos 25 milhões de toneladas, de 2023, para 48 milhões neste ano. A produção brasileira, estimada inicialmente em até 162 milhões de toneladas, deverá ficar próxima de 152 milhões, conforme previsões refeitas por algumas consultorias.

Os preços médios mundiais da soja, que estão com queda de 11% em 12 meses, não deverão sofrer abalos significativos, a menos que o clima volte a castigar as lavouras da Argentina e dificulte o plantio dos Estados Unidos. Este ocorrerá nos próximos meses.

Atraso no plantio da soja e necessidade de replantio em algumas regiões afetam a cultura do milho no Brasil. O cereal já não deverá ter a área de 16,5 milhões de hectares previstos anteriormente para a safrinha.

Uma safra menor no Brasil não compromete a oferta mundial, uma vez que Estados Unidos e Argentina voltam a exportar mais neste ano. Os americanos deverão colocar 59 milhões de toneladas no mercado externo na safra 2023/24. Os argentinos, 34 milhões, acima dos 25 milhões da safra anterior.

O Brasil perde a liderança mundial que conquistou nas exportações de milho no ano passado, quando tomou alguns mercados tradicionais dos Estados Unidos, inclusive o do Japão.

A Ucrânia, apesar da guerra provocada pela Rússia, volta a exportar mais, podendo atingir 21 milhões de toneladas, segundo o Usda (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). A produção mundial está estimada em 1,21 bilhão de toneladas em 2023/24.

Um dos gargalos em 2023, a oferta de arroz poderá melhorar neste ano. A troca do plantio do cereal por soja levou o país à menor área de cultivo da história no ano passado. Neste ano, com o aumento de área, a produção deverá atingir 10,8 milhões de toneladas.

O cenário externo também melhora, e a produção mundial sobe para 518 milhões de toneladas. A Índia, principal exportadora mundial, mantém restrições de vendas externas para parte de seu arroz, mas outros países, como Paquistão, Tailândia e Vietnã, podem elevar a oferta externa. Já a China importa menos.

O consumidor brasileiro pagou caro pelo produto, devido à redução da oferta. A saca de arroz terminou o ano a R$ 127. O preço médio de 2022 foi de R$ 75,6 por saca, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

O quadro do feijão estará ajustado. A estimativa de produção é de 3,1 milhões de toneladas para um consumo de 2 9 milhões. Enquanto os preços do arroz subiram 23% no ano passado para os consumidores, os do feijão recuaram 17%, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

A safra brasileira de trigo não se confirmou e ficou em 8,1 milhões de toneladas no país. Além da quebra, boa parte do cereal foi afetada pelo excesso de chuva e perdeu qualidade.

No mercado externo, a China pressiona com importações de 12,5 milhões de toneladas em 2023/24, liderando as compras mundiais. Estados Unidos perdem espaço nesse mercado, e Austrália, Canadá e União Europeia ganham. A Rússia tem o maior volume para exportações, cerca de 50 milhões de toneladas.

A produção de café, outro produto que o Brasil tem liderança mundial, depende do clima. Segundo a OIC (Organização Internacional do Café), o consumo mundial sobe para 177 milhões de sacas na safra 2023/24.

A quebra de safra no Brasil fez o preço médio nacional do arábica subir para R$ 1.261 por saca em 2022. No ano passado, recuou para R$ 952.

O suco vai ficar mais caro. A oferta de laranja para a indústria é menor, e a caixa de 40,8 kg subiu para R$ 50 no final do ano passado. O valor médio de 2022 foi de R$ 29,6, segundo o Cepea.

As carnes mantiveram preços médios em queda no ano passado no mercado interno, em relação aos de 2022. No mercado externo, a tonelada de carne bovina "in natura" caiu 20% de janeiro a novembro, em relação a igual período de 2022. A de frango recuou 6%, mas a suína subiu 4%.

No mercado brasileiro houve uma oferta maior de carne bovina devido ao aumento no abate de vacas, o que deverá ocorrer nos Estados Unidos neste ano. A produção americana fica próxima dos 12 milhões de toneladas.

A oferta brasileira de carne suína fica estável em 5,1 milhões de toneladas, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal). O mesmo ocorre nos Estados Unidos, que deverão produzir 12,6 milhões de toneladas.

A produção de carne de frango sobe para 15,4 milhões de toneladas no Brasil e vai a 21,1 milhões nos Estados Unidos. O desempenho das safras de milho nos dois países é fundamental para determinar os custos de produção e mudanças de preços.

Demanda interna maior e oferta menor de proteínas forçaram uma alta dos preços das proteínas no final do ano.

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