Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Descrição de chapéu mudança climática

Pesquisa de semente de hortaliça se adapta ao estresse climático

Setor avança, mas pesquisador diz que multinacionais compram empresas nacionais

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Se o desenvolvimento de sementes para as grandes culturas atrai a atenção de muitas empresas, o cenário nem sempre é o mesmo quando se trata de variedades para hortaliças.

Investir no desenvolvimento de sementes para soja ou para quiabo? A soja ocupa 44 milhões de hectares no Brasil; o quiabo, 2.000? Claro que os investimentos irão mais para a primeira.

Fotografia colorida mostra lavoura de soja, com plantio verde e, ao fundo, galpões e maquinário
Lavouras de soja no norte do Paraná - Mauro Zafalon - 18.dez.2023/Folhapress

Warley Marcos Nascimento, chefe geral da Embrapa Hortaliças, diz que a cadeia é muito pulverizada, podendo chegar a uma centena de espécies comercializadas no Brasil. Mas, apesar dos gargalos, o setor avança.

Há cinco décadas, a produção de hortaliças se restringia a uma atividade de fundo de quintal. Hoje é um segmento bastante importante, tanto em termos nutricionais como econômico e social.

Do ponto de vista nutricional, os alimentos são de alta qualidade, fornecendo fibras, sais minerais, vitaminas e antioxidantes. Do lado econômico, a atividade emprega 4 milhões de pessoas e gera R$ 50 bilhões por ano, afirma.

Apenas três hortaliças —tomate, batata e cebola — têm um VBP (Valor Bruto da Produção) de R$ 37 bilhões, superando os de arroz e de feijão. O VBP é o resultado do volume produzido e dos preços obtidos dentro da porteira.

Quanto às sementes, o setor de hortaliças é uma cadeia bastante dinâmica, e a demanda por produtos saudáveis e diferenciados cresce muito. Ocupando um milhão de hectares, o setor de sementes para hortaliças movimenta R$ 1,5 bilhão por ano.

Com ciclo curto e suscetível a mudanças climáticas, a pragas e a doenças, as variedades de hortaliças exigem um material mais tolerante ao calor e à seca.

Além disso, para atingir locais mais distantes e ter maior durabilidade, há a necessidade da busca de um produto de melhor qualidade, resistente ao transporte e de permanência maior nos supermercados e no lar.

A tecnologia da produção de sementes, no entanto, está ficando com as grandes empresas, em geral multinacionais. Elas estão comprando as menores no Brasil, afirma Nascimento.

O país não tem muita tradição na produção de sementes de hortaliças, como em outras culturas, e boa parte delas vem do exterior, principalmente do Chile, da Argentina e do Peru. Esses países têm custos menores e condições mais adequadas à produção.

"O material é desenvolvido aqui dentro, ou desenvolvido para as condições do Brasil, mas a semente é enviada para fora e se faz um contrato para a produção. O Chile hoje tem quase 100 empresas prestadoras de serviços."

Avaliando o setor de semente para hortaliças, o pesquisador da Embrapa vê a necessidade de uma evolução. São espécies onde boa parte das doenças são transmitidas pela própria semente.

A busca tem de ser por cultivares mais tolerantes às condições abióticas, devido a essas mudanças climáticas de seca, alta temperatura ou geada. Além disso, ficar atento porque sempre estão chegando novas doenças, como o vírus do tomate que está vindo do Argentina.

Para o pesquisador, "o momento é de administrar variedades que visam esse clima maluco que nós estamos tendo aí, além de atender às novas exigências dos consumidores".

As crises climáticas levam o setor a buscar variedades que suportam mais essas condições extremas, tanto de déficit hídrico como de temperatura elevada e de excesso de chuva.

As novas variedades visam também um controle maior de doenças e de pragas, buscando uma redução na aplicação de agrotóxicos. Menos custos para o produtor e maior proteção ambiental, segundo o pesquisador.

Em alguns casos, os custos de produção exigem investimentos pesados. O produtor despende R$ 220 mil na produção de um hectare de alho; R$ 200 mil no de morango e R$ 100 mil no de cebola.

As pesquisas têm de atender, ainda, uma população mais antenada e mais informada, que busca produtos diferenciados, com sabores, textura, cor e aroma.

"O Brasil, no entanto, é um péssimo consumidor de hortaliças. Consumimos apenas um terço dos 400 gramas preconizados pela Organização Mundial da Saúde. Os motivos passam tanto por questões culturais como por acesso econômico.

Para Nascimento, existe uma demanda crescente por produtos isentos de contaminação e de agrotóxicos. A hortaliça é pulverizada duas vezes por semana.

Da parte do produtor, já há uma preocupação e um treinamento para o uso de bioinsumos, controle biológico, armadilhas e outras ferramentas para minimizar a utilização dos agrotóxicos, afirma o pesquisador.

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