Vinicius Mota

Secretário de Redação da Folha, foi editor de Opinião. É mestre em sociologia pela USP.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Mota

Brasil está desajustado

Desacerto na forma de resolver conflitos produz desastres como incapacidade de combater epidemia de assassinatos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O Brasil sofre de um desajuste crônico que, agravado ao longo dos últimos anos, tem produzido crises e ameaçado a própria arquitetura civilizacional. Falta um consenso de longo prazo sobre o regulamento do jogo coletivo.

Estamos na prática em desacordo com os princípios de “fair play” das sociedades abertas, tais como: dinheiro público flui com prioridade para a emancipação dos pobres; empresas seguem as mesmas balizas de tributação e competição; derrotas na arena civil são aceitas como um fato da vida adulta, reversíveis apenas dentro das regras.

Porque impera a lei do mais forte nas relações com o Estado, a despesa previdenciária concentra renda e exige cada vez mais esforço de toda a sociedade para financiá-la.

Porque algumas empresas obtêm vantagens tributárias e competitivas, o governo arrecada menos, e o PIB cresce aquém do que poderia.

Porque os recursos não são canalizados com prioridade para crianças e jovens carentes, e porque mecanismos corporativistas travam a eficiência do ensino público, o ciclo da baixa produtividade e da elevada desigualdade salarial se repõe.

Porque o orçamento dos estados se consome cada vez mais com servidores inativos, como mostrou a Folha no domingo (19), a capacidade de organizar os sistemas de polícia e Justiça se deteriora. Diminui a possibilidade de resposta adequada à matança de brasileiros, que corre à velocidade de 64 mil por ano.

Quando os economistas, na sua dicção enregelada, enfatizam a preocupação com o ponto extremado a que chegou a chamada crise fiscal no Brasil, é na verdade de algo bem fundamental que estão a falar.

Há um desacerto no modo como temos convivido, na forma de encaminhar e resolver os principais conflitos internos, que produz desastres bastante concretos na sociedade e turva a perspectiva do futuro.

Não há solução técnica que dê conta de superar esse dilema. É de política que se trata.


 

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.