Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Vinicius Torres Freire

Contra epidemia econômica, a vacina é dar muito dinheiro

Governo quer fazer o mínimo para combater o vírus e a ruína econômica

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O governo tem preferido fazer o mínimo para atenuar a coronacrise. Quer gastar o mínimo possível, que não é o mínimo necessário ou prudente. Quer que a economia volte a rodar o quanto antes, sem as amarras de cordões sanitários e equivalentes; sem mais gasto público.

Essa é a opinião desse indivíduo que ocupa a Presidência, afinada com a de seus economistas, embora o indivíduo tenha também motivos que a razão desconhece.

A preferência fica evidente nas medidas de socorro. Em larga medida, trata-se de adiamento de impostos, antecipação de benefícios sociais, suspensão de dívidas ou oferta de crédito. Tais medidas são úteis, se parte de um plano maior, que inexiste, porém.

Presidente Jair Bolsonaro em reunião com a imprensa para falar sobre as medida
Presidente Jair Bolsonaro em reunião com a imprensa para falar sobre as medidas do governo contra o coronavírus - Lucio Tavora/Xinhua

O adiamento de despesas cria um passivo, um peso a ser carregado por uma economia muito deprimida, o que deve tornar ainda mais lenta a recuperação depois da epidemia.

“Depois da epidemia” não é uma data, mas uma época, um tempo que vai se arrastar, uma convalescença demorada. O problema será tanto menor quando mais empresas e famílias resistam à peste econômica. Para que assim seja, é preciso compensar a renda destruída pelo paradão da coronacrise, não apenas criar passivos talvez impagáveis para daqui a alguns meses.

De mais impactante até agora, deve haver doação de R$ 60 bilhões para informais sem trabalho, que devem ficar com R$ 600 por mês cada um, graças ao Congresso, pois o governo propunha a mesquinharia de um terço disso.

O crédito para pequenas e médias empresas é uma boa ideia que o governo adotou no mínimo possível, com atraso. Não está previsto crédito para empresas que empregam dois terços dos trabalhadores com CLT (na média geral, ganham R$ 2.300 mensais).

Vários deles trabalham em empresas “grandes” (faturam mais de R$ 10 milhões por ano), várias delas com caixa. Certo. Mas muitas dessas “grandes” quebrarão também se não tiverem ajuda.

Ainda não há dinheiro ou plano para microempresas e seus milhões de empregados. A empresa mais comum no Brasil é a loja de roupas, 1,1 milhão de empresas, segundo o Sebrae. Em segundo lugar? Cabeleireiros, manicure e pedicure (808 mil). Comércio de comida: 508 mil. Restaurantes, lanchonetes e similares: 811 mil. Etc. A economia real é feita de uns 17 milhões de negócios modestos, vários já à beira da ruína.

Um pacote de crédito de bom tamanho para evitar a crise das micro, pequenas e médias seria o triplo do imaginado pelo governo, estimam entendidos. Além do mais, parte desse dinheiro deveria ser mera doação, em especial para os menores.

A saída da epidemia será lenta. Dependerá da redução do contágio e da letalidade, o que diminuiria o medo e a necessidade de confinamentos estritos. Menos contágio e mortes dependem de recursos para a saúde, mas ainda falta álcool em hospital.

O relaxamento das restrições dependerá de milhões de testes para que se coordene o isolamento de doentes e a reabertura da economia. Dependerá de remédios, ainda fora do horizonte. Dependerá de coordenação nacional, sabotada de modo feroz e ignorante pelo elemento na Presidência.

A retomada será tímida. Pessoas terão medo de se aglomerar nos comércios; terão menos renda e poupança. A economia mundial andará devagar. Mesmo na China, de tantas medidas agressivas, há tropeços na lenta recuperação e medo de recaída.

Mas, para haver retomada, é preciso aumentar o número de sobreviventes da peste econômica. Será simplesmente preciso dar muito dinheiro.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.