Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire

Bolsonaro tomou vacina contra o horror que promove no país

Base social do presidente mudou, mas é incerto que crise de 21 abale avaliação

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Pelo menos desde o início da epidemia, a oposição a Jair Bolsonaro espera que a popularidade do capitão da extrema direita descambe para um nível crítico. Não aconteceu até agora.

O motivo da resistência bolsonariana seria o auxílio emergencial, argumenta-se com obviedade. Uma vez findo o benefício, a pobreza renovada e ampliada deve se voltar contra Bolsonaro, ainda mais porque sua base mudou desde o início do ano, sendo agora majoritariamente composta de pessoas de renda menor.

Jair Bolsonaro
Jair Bolsonaro em coletiva de imprensa para anunciar medidas de combate ao coronavírus, em março de 2020 - REUTERS/Adriano Machado

Pode até ser. Mas o argumento supõe que o auxílio emergencial faz com que muito brasileiro seja indiferente à selvageria, à negligência e à incompetência de Bolsonaro ou as tolere (aqueles 30% que o avaliam como “regular”). Se é verdade, temos problema mais profundo. Além do mais, o prestígio resistente mesmo depois de tanta atrocidade faz lembrar de Donald Trump e de sua votação imensa na eleição deste ano, fenômeno que escapa a explicações econômicas, sociais ou regionais rudimentares.

Além de aprovação, há identificação com o jeito e as causas de Bolsonaro, mostram sociólogas e antropólogas, coisa difícil de medir, no entanto; seu governo tem bem mais aprovação de homens do que de mulheres.

Popularidade, de resto, depende de haver alternativas, reais ou imaginárias. O prestígio de Dilma Rousseff, que andava pela casa de 60% em junho de 2013, caiu pela metade em duas semanas, quando os brasileiros descobriram que eram infelizes e não sabiam, na frase do cientista político André Singer. Mas não há liderança política alternativa, oposição ou um convite a imaginar vida diferente desta sob Bolsonaro e seu governo militar.

O prestígio de Bolsonaro jamais foi tão alto, segundo o Datafolha, 37% de “ótimo/bom”. Mas está mais ou menos onde sempre esteve. A média desde o início do mandato é de 33%. Bolsonaro teve 36% dos votos no primeiro turno de 2018.

Não se trata, porém, das mesmas classes de brasileiros. Da eleição até o fim de 2019, em torno de 30% daqueles que apoiavam Bolsonaro eram os mais pobres, que ganham até 2 salários mínimos. Passaram a 50% desde meados do ano. De modo menos marcado, a base bolsonariana passou a ter mais pessoas com ensino fundamental ou menos.

Foram abalados pela economia? A inflação da comida chegou agora aos 21% ao ano, inédito desde 2003. Aumentou o desemprego, um dado muito distorcido pelo ambiente de epidemia, porém. O auxílio emergencial caiu pela metade.

Por outro lado, a população com algum trabalho começou a aumentar desde agosto ou setembro, quando também houve alguma reabertura econômica; o comércio recuperou as perdas da epidemia.

Virado o ano, o auxílio será zerado, não haverá emprego para a dezena de milhões de desocupados deste 2020 e a comida cara pesará ainda mais. Mas, se Bolsonaro perder todos os pobres que agregou à sua base neste ano, sua popularidade ainda estará perto de 30%, tudo mais constante.

Os 180 mil mortos da epidemia não abalaram de modo decisivo a popularidade do capitão. A negligência com as vacinas pode ser fatal? E se Bolsonaro conseguir fazer um show mínimo de vacinação, o povo miúdo entenderá o problema? O povo soube que o auxílio emergencial foi obra do Congresso, não de Bolsonaro? O 30% de bolsonarismo raiz se importa com o estelionato eleitoral de o governo se entregar ao centrão, achincalhado em 2018? De Sergio Moro ter sido escorraçado (afora o lacerdismo de classe média alta e ricos minoritários)? De não haver governo além daquele tocado pela burocracia?

Hum.

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