Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Economia dá mais sinais de despiora

Vendas no comércio crescem além do esperado, mercado financeiro anda mais calmo

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Não se deu muita bola para as vendas do comércio em abril, divulgadas nesta terça-feira (8) pelo IBGE: cresceram além da conta de quase todo mundo. Sim, o comércio vem claudicando desde dezembro, com a seca dos auxílios emergenciais e repiques horrendos da epidemia. Abril teria outra baixa, pelos mesmos motivos, era o que se previa, como foi registrado nestas colunas. Só que não.

Receita de impostos, PIB trimestral e comércio tiveram desempenho acima do esperado. Nas entranhas desses indicadores há coisas feias: a inflação ajuda a engordar a arrecadação tributária, o consumo das famílias no PIB caiu. Ainda assim, houve despioras significativas.

O indicador de emprego formal dos economistas do Itaú teve alta em maio. A população ocupada cresceu 5,5%, voltando ao nível anterior ao da epidemia.

Antes de passar às más notícias, convém lembrar outras despioras relevantes. As taxas de juro de prazo mais longo (mais de dois anos) no atacadão de dinheiro andam caindo. Depois de tomar um calmante em meados de abril, o preço do dólar relaxou ainda mais, voltando à casa de R$ 5. O ingrediente mais importante desse calmante foi o fim das turbulências no mercado financeiro americano, com umas pitadas de juros mais altos por aqui e de indícios de que o teto de gastos não desabaria.

O resumo do primeiro ato desta ópera é: 1) a economia real não afundou com o morticínio e as restrições de março e abril; 2) houve um alívio das condições financeiras; 3) os donos do dinheiro grosso acham que a gambiarra fiscal brasileira é tolerável ou, pelo menos, deram fim ao faniquito do primeiro trimestre e, por fim: 4) continua razoável acreditar que o PIB cresça 5% neste ano.

Um crescimento de 5% neste 2021 apenas leva o PIB ao mesmo nível médio de 2019. Isto é, a uma economia ainda deprimida pela recessão de 2015-2016. Ainda pior, será uma economia com menos emprego e envenenada pelos efeitos da inflação sobre a renda, dos mais pobres em particular. Mas a despiora e o alívio em relação ao ano do tombo da epidemia, 2020, serão relevantes, embora desiguais.

Sim, há riscos de que a gente vá para o vinagre, crescentes a partir de 2022.

A ameaça mais óbvia é a de um repique ainda mais assassino da epidemia. No entanto, sem que apareça variante mais pestilenta, a epidemia tende a arrefecer ao longo do restante do ano, dado o número crescente de vacinados e de infectados (em tese imunizados). Como queria Jair Bolsonaro, a epidemia vai acabar de morte morrida, sem que a tenhamos um dia controlado.

Há algum risco de faltar energia, pontualmente, em novembro. Com algumas providências, é possível prevenir colapsos. Se houver inércia, a mera percepção do risco aumentado de apagões pode ser um problema. Isso quanto a 2021. Quanto a 2022, vamos depender da chuva que deveria cair entre novembro e abril.

Há uma inflação enorme nos preços do atacado (o IPA foi a quase 50% nos últimos 12 meses). Não se sabe bem quanto disso será repassado aos preços para o consumidor (IPCA). Se a carestia do IPCA não amainar a partir de junho, a perspectiva de alta de juros pode sabotar parte do crescimento de 2022, que já seria mixuruca.

Por fim, os americanos estão entretidos a discutir se a inflação deles vai voltar (a meros 2,5% ao ano). Caso achem que sim, pode haver algum sururu a partir do final do ano, com alta de juros na praça e fim do relaxamento monetário. Uma reviravolta dessas nos EUA pode nos machucar ou até nos quebrar as pernas. Em 2013, coisa parecida balançou as finanças por aqui e foi um dos fatores da derrocada.​

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