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Medo de inflação nos EUA derruba Bolsas pelo mundo

Crescimento de preços está sendo alimentado pela escassez de chips, pelo boom no preço de commodities e pela recuperação econômica

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São Paulo

As principais Bolsas de Valores globais fecharam em queda nesta terça-feira (11), em reflexo do temor de investidores à uma eventual aceleração da inflação americana, que poderia impactar o ciclo de estímulos monetários no país. Com o suporte da alta nos preços de matérias-primas, o Brasil escapou da tendência, e teve um pregão positivo.

Na quarta (12), serão divulgados dados de inflação ao consumidor nos Estados Unidos de abril. Caso os preços tenham subido mais do que o esperado, o banco central americano (Fed) pode ter que subir juros para conter a pressão inflacionária.

Hoje, o juro nos EUA está próximo de zero, o que impulsiona o mercado de capitais, com empréstimos mais baratos e ações com rentabilidade acima da renda fixa.

Placa na Bolsa de Valores de Nova York, em Wall Street - Angela Weiss - 10.mai.2021/AFP

Nas últimas semanas, cresceu a preocupação dos investidores de que uma ampla recuperação nas economias mundiais e os aumentos no custo de muitas matérias-primas promovam uma elevação forte nos preços pagos pelos consumidores e empresas.

O crescimento de preços está sendo alimentado pela escassez mundial de chips, pelo boom no preço das commodities —do minério de ferro, essencial para o aço, à madeira—, e pela recuperação rápida das maiores economias mundiais.

O espectro de pressões de custos foi amplificado na terça por dados que mostram que os preços na porta da fábrica, na China, um indicador do que os consumidores individuais e os importadores do Ocidente pagarão por produtos, subiram em 6,8%, seu aumento mais forte em três anos, no mês passado, ante os números de abril de 2020.

Enquanto isso, as menções a inflação nas conversas entre executivos e analistas de Wall Street nos anúncios de resultados de companhias chegaram a um total próximo do recorde estabelecido uma década atrás, e muitas empresas pretendem repassar o aumento de custos aos consumidores via aumento de preços, de acordo com o Bank of America.

Além de subir juros, outra opção para o Fed frear a inflação seria reduzir suas aquisições mensais de US$ 200 bilhões em ativos, que estimularam os mercados de ações durante a pandemia, em ritmo mais rápido do que o planejado, o que deixaria as ações mais valorizadas, como as das grandes empresas de tecnologia, mais vulneráveis a uma correção.

Jerome Powell, presidente do Fed, disse que tolerará altas temporárias de preços, a fim de ajudar a recuperação econômica.

“A inflação está criando muito medo entre os investidores por conta da possibilidade de que os bancos centrais não estejam preparados para enfrentá-la”, disse Aneeka Gupta, diretora de pesquisa da WisdomTree, que acrescentou esperar uma alta duradoura nos preços, em oposição a aumentos transitórios.

Nem todos os analistas estão pessimistas com relação às ações e à inflação.

“Acreditamos que o medo de inflação é exagerado, e que boa parte dele será transitório”, disse Fahad Kamal, vice-presidente de investimento do banco de capital fechado Kleinwort Hambros. “O quadro econômico é robusto, o que se traduz em lucros recorde para as companhias”.

A realização de lucros foi puxada pelas ações de tecnologia em Nova York, que foram os destaques de 2020. Apple, Amazon, Microsoft, Alphabet (Google) e Tesla caíram entre 0,7% e 2%.

O S&P 500 recuou 0,87%. Dow Jones caiu 1,36% e Nasdaq teve leve queda de 0,09%.

O índice Stoxx 600, que reúne as maiores empresas da Europa, cedeu 1,97%. O FTSE 100, de Londres, caiu em 2,4%.

Na Ásia, o índice Hang Seng, da bolsa de Hong Kong, fechou em queda de mais de 2%, e o Nikkei 225, do Japão, encerrou a sessão de Tóquio com baixa de mais de 3%.

O Vix, um índice que acompanha a volatilidade prevista no índice S&P 500 e é conhecido como termômetro do medo em Wall Street, subiu a uma marca de 21,8 pontos, a mais alta desde o final de março.

Já o rendimento do título do Tesouro americano de dez anos, referência para renda fixa, chegou à máxima da sessão de 1,631%, fechando a 1,623% na maior sequência de altas desde março de 2019. Operadores parecem estar apostando em uma tendência inflacionária em prazo mais longo, que erodiria os retornos sobre títulos de renda fixa como esse.

Bolsa brasileira sobe com alta das commodities

Apesar do viés negativo no exterior, o Ibovespa fechou em alta de 0,86%, a 122.964 pontos, impulsionado justamente pela valorização das commodities.

A Vale subiu 3,5% e a ação preferencial (mais negociada) da Petrobras teve alta de 1,82%.

Já a Eletrobras subiu 6,54%, após o relatório preliminar da MP (Medida Provisória) que abre espaço para a privatização da elétrica ser apresentado na Câmara dos Deputados. Ele prevê alocar parte dos recursos gerados pela operação em benefício apenas dos consumidores cativos de energia, o que aliviaria tarifas principalmente de clientes residenciais.

A Eneva, por usa vez valorizou-se 4,85%, após o presidente do BTG Pactual afirmar que o banco não tem planos de se desfazer de sua fatia na empresa de geração de energia, uma vez que acredita no potencial de valorização da companhia.

A Totvs caiu 3,69%, em meio a movimentos de realização de lucros após alta de quase 8% em abril e com rotação de portfólios que tem penalizado papéis de tecnologia. Ainda assim, o papel da empresa de tecnologia e produtos de crédito ainda acumula em maio elevação de mais de 2%.

BTG Pactual caiu 1,83%, mesmo após alta de mais de 50% no lucro do primeiro trimestre, para R$ 1,197 bilhão, com expansão da maior parte de suas unidades de negócios e entrada de recursos recorde em seus fundos. Em teleconferência, executivos do banco afirmaram que avaliam aquisições.

O dólar teve queda marginal de 0,15%, a R$ 5,2240. O turismo está a R$ 5,38.

(Com Financial Times)

Traduzido originalmente do inglês por Paulo Migliacci

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