Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu juros Banco Central

Fantasma da crise de crédito ronda a economia, mas ainda é invisível

Arrocho dos juros faz efeito há mais de ano, mas faltam dados novos para decretar ‘crise’

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O espectro da "crise de crédito" ronda a economia brasileira. O que é uma "crise de crédito"? O rumor é impreciso. Não há números decisivos recentes. Ouvindo bancos maiores, as perspectivas e avaliações são díspares.

O ruído aumentou depois do rolo da Americanas. A seguir, apareceram notícias sobre renegociação de débitos (algum nível de calote) de meia dúzia de empresas grandes. Agora, há estatísticas, privadas, parciais e pouco conclusivas, de aumento da procura de serviços de reestruturação de dívidas.

Mas o que é mesmo uma "crise de crédito"?

Sede do Banco Central, em Brasília - Pedro Ladeira - 4.mai.2022/Folhapress

Poderia ser, por exemplo, uma parada súbita das concessões de crédito bancário. Isto é, uma redução grande da quantidade de empréstimos novos para empresas de uma hora para outra.

Por qual motivo? Alguns calotes grandes levariam os bancos a rever sua carteira de empréstimos a fim de procurar riscos e a repensar o planejamento de novas concessões.

Os números gerais mais recentes e confiáveis a respeito de crédito são de dezembro de 2022. São os dados do Banco Central que consolidam e detalham todas as informações sobre crédito, taxas de juros e inadimplência.

Pelas estatísticas do Banco Central, há uma espécie de "crise de crédito" desde junho de 2022. Trocando em miúdos, o ritmo de variação trimestral das concessões de crédito para pessoas jurídicas (com ajuste sazonal) passou a cair desde então (a subir menos). No trimestre encerrado em dezembro (em relação a setembro), aconteceu uma ligeira queda. A julgar pela série desses dados, a baixa ainda não foi de impressionar.

A taxa básica de juros (a Selic, na prática definida pelo Banco Central) começou a subir em março de 2021, quando passou de 2% ao ano para 2,75%. A alta foi rápida e violenta, mas até dezembro de 2021, quando foi a 9,25%, estaria em nível que não faria cócegas na inflação (pelo menos segundo modelos convencionais melhores), dadas as expectativas de carestia.

Nos bancos, as taxas de juros começaram a salgar decisivamente a partir de setembro de 2021. A taxa média de financiamento imobiliário "de mercado" ficou na casa dos 7% ao ano de dezembro de 2019 a setembro de 2021, por exemplo. Em dezembro de 2022, estava em 11,75% ao ano, a maior desde novembro de 2017 (embora fosse muito maior do que isso nos anos de crescimento bom do país, pré-Grande Recessão).

A inadimplência média geral, pessoas físicas e jurídicas, também começou a subir em janeiro de 2022, de leve. Mas, no caso de empresas grandes, caiu. Na média das pessoas jurídicas, a taxa de inadimplência aumentava até janeiro passado, mas era menor do que a registrada de 2011 até a epidemia.

Uma conversa com alguns bancos não é conclusiva. Ninguém está otimista, até porque a economia vai desacelerar e todos dizem que o caso da Americanas terá impacto em concessões e juros, bidu. Além do mais, a perspectiva varia, de mais ou menos negativa, ou até neutra, de acordo com o tipo de clientela de cada um.

A Febraban publica uma estimativa mensal do movimento do crédito (a do Banco Central sai no dia 27 de fevereiro). Em janeiro, o total de concessões continuaria a desacelerar. Uma conta baseada nos dados da entidade indica que haveria queda trimestral nas concessões, mas nada de arrepiar (houve baixas maiores em fevereiro e março do ano passado).

O resumo da ópera não é tranquilizador. Além de dados, faltam até indícios recentes, em especial de fevereiro. Além do mais, os efeitos do arrocho monetário são visíveis faz mais de ano. É bom que governo, BC e bancos conversem para evitar acidentes maiores, claro. Mas, por ora, sabemos mesmo de pouca coisa.

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