Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Lula continua a fazer inimigos e piorar negócios

Presidente fala em 'armação' de Moro, compra brigas sem sentido; problemas fermentam na economia e no Congresso

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Luiz Inácio Lula da Silva disse que uma conspiração assassina do PCC seria armação de Sergio Moro, ora senador (União Brasil-PR). Se o presidente se sente à vontade de dizer tal coisa, o que mais pode dizer? De algum modo, se sentiu inimputável, de caso pensado ou por falta de noção, como diz o povo.

O assunto preocupa até quem se ocupa no mais das vezes de economia. São aqueles que já viram o presidente dar tantos tiros no pé desde novembro, mesmo antes de tomar posse. Seja o caso de soberba terminal ou de autoconfiança desinformada e inconsequente, o que mais pode vir?

O presidente Lula segura um capacete branco em sua cabeça, durante visita ao Museu Nacional do Rio de Janeiro
O presidente Lula, durante visita ao Museu Nacional do Rio de Janeiro - Eduardo Anizelli/Folhapress

Não é uma questão menor, nem do espírito de porco oposicionista. Muita gente preocupada com o futuro deste governo, até por afinidade ou compromisso, ficou pasma.

Um otimista dirá que foi um lapso grave. Um cético vai se perguntar se Lula se julga acima do bem e do mal. Estaria ainda mais olímpico porque neste seu terceiro governo e no seu partido não há mais, nem de longe, figura que conteste suas vontades ou o alerte para consequências do que faz e diz. Pelo que diz gente graúda do Congresso, Lula tem reagido muito mal se contrariado.

O disparate de Lula tem vários aspectos, não importa o que se pense de Moro e sua ficha corrida. Primeiro, é uma acusação grave e sem provas, difundida à maneira de demagogos paranoicos ou conspirativos. Algo como "não vou dizer, não sei, não tenho provas, mas acho, parece evidente, ouvi dizer...". Já ouvimos isso.

Nas palavras de Lula: "Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Quero ser cauteloso, vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro". Sem querer, querendo, já disse tudo.

Segundo, é uma gafe política séria. Lula deu assunto para hordas bolsonaristas, que andavam acuadas pelo levante de 8 de janeiro, pelo sumiço medroso do líder da seita e pelo contrabando de joias da família.

Lula tem a tarefa imensa de desbolsonarizar o país. Isso quer dizer conter o golpismo, a ignorância, a mentira, a desrazão e a propaganda da violência e da discriminação, ao mesmo tempo em que se procura convencer cidadãos a sair das trevas (a "pacificação"). Além do mais, quase metade do eleitorado tem tamanha aversão a Lula que votou em Jair Bolsonaro.

No entanto, Lula rapidamente perde votos de confiança de que possa cumprir a tarefa; a ideia de "frente ampla" pega mofo. Pior, compra brigas sem sentido ou o faz de modo contraproducente, como na política econômica até aqui.

Lula 3 não tem a popularidade de Lula 2 e dificilmente terá, dada da ascensão da extrema direita. Terá o Congresso mais avesso a sua figura e ideias. Mais do que isso: um Congresso que se acostumou a mandar mais.

Lula 3 não terá o Orçamento dos anos melhores dos seus dois primeiros governos. Neste início de mandato, o mundo embica para um biênio de estagnação ou mediocridade econômica.

Por mais que seja bem-sucedido, não haverá novidade grande como um Bolsa Família ou a recuperação do salário mínimo. A melhoria social, mais do que nunca, terá de vir por crescimento acelerado, o que não está à vista nos próximos dois anos, sendo otimista.

Lula termina seu primeiro trimestre com um Congresso inquieto, querendo sua parte no butim e dividido por intrigas de seus mandarins. Provoca tumulto econômico a troco de nada, a não ser piora das condições financeiras. Partes de seu governo ainda estão travadas por falta de quadros ou projetos. Ministros maiores disputam quem manda. Alguns fritam Fernando Haddad.

Sim, são apenas três meses de governo. Não daria para criar grande coisa. Mas para que criar tanta crise inútil? Se é que a pergunta cabe: Lula sabe o que faz?

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