Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Mais notícias sobre a tentativa de golpe militar de Bolsonaro

Espalham-se histórias de que generais ouviram Bolsonaro pedir golpe. E não o denunciaram

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Desde que vazou a possível delação premiada de "Cid, el golpeador", aparecem relatos de que o general Freire Gomes peitou a convocação de golpe de Jair Bolsonaro; que informou a militares próximos que Bolsonaro tratava de golpe com comandantes das Forças Armadas, como relatou esta Folha.

Freire Gomes não negou tais histórias até agora. Não negou que era corriqueiro Bolsonaro pedir ou convocar golpe. Se é o caso, há uma lista de militares prevaricadores ou cúmplices a investigar.

A mera tentativa de golpe é crime. Perguntar se o comando militar vai aderir a um golpe é tentativa de golpe. É crime. Está pelo menos na Lei do Impeachment.

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) conversa com o ex-comandante do Exército general Freire Gomes durante cerimônia do Dia do Soldado - Gabriela Biló - 25.ago.22/Folhapress

Freire Gomes foi comandante do Exército no governo das trevas (2019-2022). Cid, "el golpeador", é, claro, o tenente-coronel Mauro Cid, esse trambiqueiro que era lacaio de Bolsonaro. Cid, o oficial-superior da muamba, disse que esteve em uma reunião em que se discutia uma das "minutas" de golpe que circulavam no governo Bolsonaro. Minuta de golpe no governo Bolsonaro era como "barata avoa" em dia quente de lugar sujo.

Augusto Heleno, general aboletado no GSI sob Bolsonaro, disse nesta terça-feira que a acusação de Cid era "fantasia", pois um ajudante de ordens não participaria de reuniões com comandantes de Força Armada. O deputado federal Rogério Correia (PT-MG) então mostrou uma foto de reunião em que estavam Heleno, Cid e comandantes. Pfui.

Heleno costuma dizer que não sabe de nada. Quando havia tentativa de ataques terroristas na Brasília de 2022, ele se informava pela TV (de pijama?). Esse então era o Gabinete de Segurança Institucional de Heleno. Nem seguro, nem institucional.

Heleno não disse nada que prestasse à CPI, o que é seu costume ao menos desde que fomos condenados a saber de sua existência. Chamou a deputada federal Duda Salabert (PDT-MG), uma mulher trans, de "o senhor". Na sessão, também soltou palavrões contra a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI. É o linguajar da laia dos generais de Bolsonaro, pelo menos.

Não havia golpe, tentativa, reunião. Mas, a seu modo, Heleno sabia dos golpistas que faziam baderna em calçada de quartel. Como disse em junho à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara do Distrito Federal, os acampamentos de golpistas eram "...um local sadio, onde se faziam muitas orações, se reuniam para conversar sobre assuntos políticos"; "...era uma manifestação ordeira e disciplinada". Sabe tudo, Heleno.

José Múcio, ministro da Defesa, disse também nesta terça-feira que é preciso achar logo os "bandidos" a fim de que se desfaça o "manto de suspeição" sobre as Forças Armadas.

Tudo bem. Múcio já perguntou a Freire Gomes e seus "próximos" se Bolsonaro propunha golpes aos militares? Perguntou por que a cúpula do Exército nomeou Cid para um comando de prestígio e muito bem armado, assim que deixou o posto de ajudante de ordens de Bolsonaro (não tinham "inteligência" sobre Cid?)? Cid, além de tudo, estudara método de golpe na escola de pós-graduação do Exército. Está documentado.

Múcio disse ainda que as "Forças são cientes do seu papel, parceiras do governo". Como assim, "parceiras"? Militares são servidores públicos, de Estado, obrigados a cumprir leis, entre elas a de trabalhar para qualquer governo, a respeitar hierarquia. Não são "parceiros" coisa alguma. Ser "parceiro" envolve arbítrio, depende de vontade, de liberdade de decidir se colabora ou não. Não existe essa opção.

Em resumo, se amontoam as histórias de que Bolsonaro discutia o golpe com comandantes militares e muito mais. Essas pessoas têm de ir à polícia, à CPI. É preciso recolher todas as comunicações dessa gente. A limpa tem de ser grande, desta vez.

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